Capítulo 5.1

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Estamos em movimento há algum tempo. Estou deitada na cama do antigo curandeiro, olhando para o teto enquanto penso na grande reviravolta que a minha vida deu em poucas horas. Eu fui de bruxa endividada para bruxa-pirata procurada.

— Será que posso ser considerada pirata agora?

Kiran late discordando.

— Também acho, não saqueamos ninguém ainda. Acho que para ser pirata eu devo ao menos saquear outro navio.

Desde que chegamos estamos confinados no quarto do falecido Gabe. Um dos tripulantes (que chuto ser usado como capacho por todo o resto da tripulação) me trouxe até aqui logo que coloquei meus pés no convés. Vane me deu as costas e foi assumir seu papel de capitão e eu agradeci a Deusa por não ter visto a Cordélia. Minha noite já estava ruim o suficiente sem ela.

Suspiro e resolvo dar uma olhada no minúsculo quarto que conta um, mais minúsculo ainda, banheiro. Uma parte minha ficou muito feliz em saber que teria um quarto e banheiro só para mim e que não teria que dormir em redes igual o resto da tripulação, ou pior, dormir naquela cela novamente.

O quarto é comprido e estreito. Logo que entrei me deparei com uma pequena mesa com gavetas e um banquinho guardado embaixo. Do lado direito, uma cama de solteiro parafusada no chão e na parede oposta a cama, uma pequena escotilha, que descobri ser de latão. Em todas as quatro paredes havia diversos armários com pós, cristais, ervas, incensos e tudo mais que um curandeiro precisa. Embaixo da cama encontrei uma caixa com agulhas e linhas para sutura, serras de osso e mais equipamentos que deram um nó no meu estômago só em imaginar as situações que teria que usar aquilo. Pela Deusa, eu era uma curandeira amadora e agora era responsável pelo bem-estar de diversas de pessoas em alto-mar.

O banheiro não possuí nada de especial, tem um espelho em cima de uma pia pequena de frente para a porta. Ao lado há um vaso que nada mais era do que uma caixa alta com um buraco em cima e logo em seguida um chuveiro. Não fazia ideia de que os navios tinham chuveiros, imaginava que todos tomavam banho de caneca, uma vez por semana...

Caminho até a mesa e abro a gaveta do topo. Nela encontro um diário com notas de pacientes, seus nomes, queixas e o que foi recomendado. Como estou sem nada para fazer e sem sono, decido ler para estar a par dos problemas de cada tripulante que visitou o curandeiro no último ano.

A maior parte são doenças simples e algumas eu até mesmo já tratei no boticário.

"Ai, porra, o boticário! Merlin vai me matar se souber que deixei o lugar completamente sozinho", penso.

Pego um papel limpo e caneta que encontro em uma das gavetas e escrevo uma carta para ele. Relato os últimos acontecimentos, afinal não há motivos mentir, e termino meu pedido de desculpas falando que darei um jeito em tudo.

Dobro o papel até formar um pássaro, então o cubro com gelo e caminho até a escotilha aberta.

Viarium Merlin.

O pequeno pássaro de papel ganha vida e saí voando na noite. E eu decido que é melhor tentar dormir.

❄ ❄ ❄ ❄

BAM BAM BAM

— Já vai! — grito — CALMA.

Abro a porta rapidamente e sou agraciada pelo maravilhoso rosto da Cordélia.

— Está atrasada, bruxa.

— Atrasada para que?

— Café da manhã — ela sorri — Na verdade já terminou há 10 minutos, achei que gostaria de saber.

Entre Mares e FeitiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora