Capítulo 14.1

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Uma coisa que aprendi rapidamente é como piratas podem agir igual crianças quando estão doentes. Nesse momento, há dez pessoas resfriadas, nove com o ombro deslocado, cinco com o tornozelo torcido, oito com algum machucado na cabeça e quatro com alguns dedos quebrados. Um pequeno caos.

Descobri que fiquei apagada por duas horas e foi Thomas quem ajudou os feridos até que eu aparecesse para tentar colocar alguma ordem, mas isso era algo que eu não tinha noção de como fazer. Então fomos catalogando os feridos por gravidade e depois fiz o possível com o conhecimento que eu possuía. O antigo curandeiro tinha diversos livros e cadernos sobre ferimentos e doenças e fiz questão de ler a maioria sempre que tinha tempo. 

Nossa sorte é que poderia ter sido bem pior, felizmente, ninguém estava gravemente ferido e nossa pressa no atendimento era para aliviar as dores dos pacientes. Zion tinha arrumado uma parte de um dos dormitórios para que servisse de consultório, amarrando um lençol no teto para que tivesse privacidade e Thomas trouxe uma mesa para que os pacientes pudessem sentar-se em cima. 

Era a primeira vez que vinha até aqui embaixo. Nunca me arrisquei a descer mais do que o refeitório, as lembranças de ficar presa naquela cela escura e úmida por três meses ainda estavam vívidas na minha cabeça.

— Eu sei que o cheiro é horrível, Sr. Noruel — falo pela terceira vez — Mas você tem que beber. 

— Isso fede a vômito — Noruel empurra minha mão que segura a poção — Vou ficar pior se beber isso aí. 

O homem na minha frente era um dos que tinha um ferimento na cabeça. Ele tinha cabelos loiros que estavam manchados de sangue, um nariz pequeno, olhos castanhos e era muito magro.

— Muito pelo contrário, você vai piorar se não beber isso aqui. Seu ferimento precisa de pontos e isso aqui vai lhe prevenir de ter uma infecção. 

— Já disse que não vou beber isso — ele rosna.

Ele rosnou para mim!

Olho para Thomas que estava nos pés da cama e ele entende o que fazer. 

Em segundos o homem está completamente imobilizado pelos braços do minotauro e eu aperto seu nariz, impedindo a passagem de ar. Quando ele fica sem fôlego e abre a boca eu já estou preparada e derramo o líquido em sua boca e depois a fecho. O solto somente depois que ele engoliu a poção.

— Ora sua pu...

— Ahn ahn — o interrompo — Pode me agradecer depois, agora fica quieto porque você não é o único precisando de ajuda.

Thomas continua o segurando enquanto eu começo a suturar o ferimento. Cortes na cabeça sangram muito e dão a impressão de que são graves na maioria das vezes, por sorte, o machucado desse homem irritante não era grande e bastou três pontos para que fosse fechado. Termino o serviço com um curativo e me afasto.

— Prontinho, está liberado, mas você não deve dormir nas próximas duas horas. Se depois desse tempo você não sentir nada diferente então pode descansar, mas caso contrário, me procure. 

Noruel se levanta e vai embora, resmungando palavras não muito educadas. O próximo paciente se aproxima e senta-se na minha frente.

— Nome? — Pergunto enquanto analiso o corte que ele tem na sobrancelha.

— Rintim.

— Certo, Sr. Rintim — Me viro em direção a mesa com meus equipamentos, pego o frasco com a mesma poção, coloco um pouco em um copo e o ergo na altura de seus olhos — Vai ser do jeito fácil ou do difícil?

Thomas bufa enquanto estrala os dedos e flexiona os bíceps. O Sr. Rintim engole em seco enquanto olha para o minotauro, então arranca o copo das minhas mãos e bebe todo o conteúdo em um único gole.

Entre Mares e FeitiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora