Capítulo 13.1

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— Eu preciso saber — Rique começa — Alguém que você ama está morto? Familiares não contam.

— Não. — Respondo de imediato — Nunca cheguei a amar alguém.

— Certo, provavelmente o canto não irá te afetar, mas guarde isso — Ele aponta para a minha mão — E coloque nos ouvidos sem pensar duas vezes, caso comece a se sentir meio estranha. 

— O que posso fazer para ajudar?

— Temos que amarrar o que estiver solto no convés e cuidar para que ninguém se jogue no mar. Pegue alguns desses também.

Ele me entrega alguns pares de protetores e eu os guardo nos bolsos da saia, e assim, nós três corremos pelo deque. Rique vai entregando cera para os piratas e Kiran e eu vamos em direção a um grupo de pessoas que está tentando amarrar as caixas de suprimento que ainda não foram armazenadas no depósito. A chuva e o mar agitado tornam essa tarefa muito complicada, algumas caixas escorregam, alguém perde o equilíbrio, a corda solta da mão de outra pessoa, um perfeito caos. Até que finalmente o último nó é dado e eu congelo para garantir que não irá soltar.

Retiro o meu cabelo molhado do rosto e olho ao redor para ver se mais alguém precisa de ajuda. Vane está no timão, gritando ordens e todos ao seu redor parecem nervosos.

— Essa não — escuto alguém murmurar do meu lado.

Quando olho, percebo ser Astrid. Ela tem a aparência de um cão molhado, igual a minha, e olha fixamente para frente.

— O que foi? — pergunto.

— A correnteza está no levando para Os Dentes de Meryntã — Ela aponta para além da proa do navio.

Inicialmente não consigo ver nada, a chuva atrapalha muito a visibilidade, mas bastas alguns instantes para eu começar a reparar em algumas formas escurecidas no horizonte que se aproximam cada vez mais.

Dentes de Meryntã...

Meryntã...

O monstro marinho de 80 metros? Então estamos nos aproximando de...

Rochas. Rochas imensas.

— Achei que a sereias só cantavam para atrair homens ao mar — grito. 

— Uns boatos surgiram nos últimos meses — ela grita de volta, o vento e a chuva aumentaram torrencialmente — Falaram que algumas tribos começaram a levar os navios para redemoinhos, rochas e corais enquanto cantam. Acho que elas cansaram de esperar que o antigo amor delas pule no mar.

Uma onda bate forte na lateral do Kanrianur e caímos no chão. Kiran corre para o meu lado para me dar apoio para levantar e começo a ficar preocupada se tanta água não fará algum mal a sua perna mecamagi, mas por enquanto ele não parece desconfortável em relação a isso. 

Astrid e eu corremos até o deque central do navio e assim que chegamos lá, uma melodia começa a vir do outro lado da amurada.

— Começou! — escuto alguém gritar.

Todos os presentes ficam tensos e seguram firmemente suas armas, mesmo que a maioria lute para manter o equilíbrio. Vejo Vane apertar as malaguetas até seus dedos ficarem brancos, seu rosto está concentrado com os dois desafios que iremos enfrentar. O Canto das Sereias e Os Dentes de Meryntã, que agora está extremamente perto de nós. Nesse momento consigo enxergar melhor Dentes e tenho a confirmação de que elas são muitos maiores do que imaginei.

As rochas despontam do mar em forma de lança — ou nesse caso, dentes — de maneira irregular e há diversas rochas menores ao redor. As pedras são muito mais altas que o navio e possuem o topo afiado, elas estão dispostas muito próximas umas das outras, mas há um caminho estreito entre elas e acredito que é para lá que Vane está indo. 

Entre Mares e FeitiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora