Capítulo I

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Admirava-me no espelho, meus cabelo estava lindo naquele dia, não que ele não fosse, mas naquele dia ele estava esplêndido. Negro e brilhante, em um tom que entrava em contraste com minha pele e meus olhos.

De repente meu pai entra no meu quarto sem avisar.

— Nada acima do joelho. — Apontou para minha saia.

— Puritano. — Respondi sem dar muita atenção, era a primeira vez que eu iria de saia para a escola. Meu pai estava muito preocupado, sinceramente ele tinha um pouco de razão, mas era inevitável.

— Que foi pai? — Indaguei ao perceber o seu olhar incessantemente preocupado repousando sobre mim.

— Tem certeza de que quer ir mesmo assim para a escola? —

— Assim como? — Tentei entender o que ele dizia implicitamente.

— De saias Harry, uma coisa é você usar dentro de casa, com sua família, outra coisa é fora. —

— Esse sou eu pai, e não adianta sair do armário para ficar na sala. — Ele pareceu se convencer com o que eu disse.

— É para ficar perto de seu irmão. — Meu irmão diferentemente de mim era alto, hétero, atlético e valentão.

— Tudo bem, mas o Troy passa mais tempo dando em cima da Giullia do que prestando atenção em mim.

— Troy Von Hoffman. — Meu pai falou alto e saiu em direção ao quarto dele. Com certeza uma bronca viria.

— Lá vem bronca. — Falei terminando de passar minha base.

— Vamos logo Harry. — Meu irmão falou. Já com sua mochila nas costas.

— Ouviu Troy? Se sair do lado do seu irmão, você vai ficar uma semana sem seu carro. —

— Ouvi pai, eu ouvi. — Ele me olhou com um pouco de raiva depois revirou os olhos.

— Tá olhando o quê? —

— Mas é tão afrontoso pra quem não tem tamanho de nada. —

— Meu filho eu tenho 1,67, tenho 17 anos, ainda vou crescer. —

— Com certeza, para frente, para os lados talvez, ou quem sabe para trás. —

Assim que entramos no carro, e colocamos o cinto, falei para ele:

— Não precisa ficar perto de mim, não ligo para as neuroses do papai. —

— E se alguém encrencar com você? —

— Eu falo com você e então você quebra a cara dele na hora da saída. —

— Uma boa ideia. — Éramos gêmeos, mas não idênticos ainda bem, não que meu irmão fosse feio, mas é que prefiro ser quem eu sou. Com meus cabelos negros e ondulados, meus olhos azuis, minha pele suave e meu nariz perfeito.

— O que você está usando por debaixo da saia? —

— Acreditaria se dissesse que não é da sua conta? —

— Está bem, aposto que muitos segredos, só tome cuidado com o vento e na hora de se abaixar, cuidado nos corredores também, algum engraçadinho pode tirar fotos suas, cuidado no... —

— Já entendi Troy, papai fez questão de passar uma hora me alertando. —

— Você é chato demais. —

Assim que chegamos em frente a escola sinto um trio na barriga, mas com um impulso saio do carro, colocando meu pé direito no chão, revelando minha perna com um meia rosa a protegendo.

Todos ao me ver não disfarçam o choque, alguns até começam a rir, mas ao verem meu irmãozinho de quase dois metros, fingem que não viram nada.

— Garoto você está uma delícia. — Karen diz aparecendo magicamente, com Theo ao seu lado. Karen era lésbica, Theo era assexual, meu irmão nos chamava de Clube Gay. Um apelido torpe como os outros que ele inventava.

— Gostou? Passei horas me arrumando. — Isso é verdade, sou bastante meticuloso com minha beleza.

— Hoje é quarta? — Theo perguntou.

— Só porque vim todo de rosa? Posso ser monocromático as vezes baby. —

— Bem vamos, tchau Troy. —

— Tchau maninho, qualquer coisa liga. —

Assim que entramos na escola ouvimos o burburinho, alguns me olhava dos pés a cabeça. Não dei muita atenção. Me senti em uma passarela, em uma noite de um desfile.

Até que quando passo perto de outro corredor vejo o Ashton Blake, nossos olhares se cruzam, acho ele se assustou tanto com o fato de eu usar saia que acabou se chocando com uma lixeira a derrubando ele todo atrapalhado a levanta, por sorte ela estava vazia.

— Acho que o "senhor perfeitinho" andou prestando mais atenção nas pernas de alguém do que no caminho. — Theo falou. Olhei para trás, ele continuava a me olhar com uma expressão esquisita.

Quando olhei mais a frente estava ele, ninguém mais ninguém menos do que Luke Griffin, o meu maior crush. Nunca revelei a ninguém essa minha "admiração", pois ele é aparentemente hétero, embora minha intuição diga o contrário.

Não consegui ver sua expressão pois olhei para o chão.

— Homofóbico. — Karen comentou.

— Quem? —

— Luke Griffen. Babaca demais. —

— É verdade. — Theo concordou.

Entramos na sala de aula, o professor lecionava de uma maneira tão tediosa que tive que procurar uma distração em meu celular, meu irmão já havia mandado algumas mensagens perguntando se estava tudo bem, respondi que sim, meu pai havia mandado outras.

Fiquei pensando no que o Luke achou da minha atitude, eu me sentia bobo por ser assim, acreditar que ele tem algum sentimento por mim. Durante a chatissima aula de educação física fiquei sentado no banco com meus amigos, vendo os jogadores de futebol do time da escola.

— Harry, sente-se como uma mocinha. — Um dos babacas do time falou comigo, eu apenas levantei o meu dedo para ele e disse:

— Eu não sei sentar como a vadia da sua mãe, já que isso ela entende bem. — Meus amigos riem incrédulos. Ele vem devagar subindo os bancos da arquibancada até mim.

— Falou o que putinha? — Falou com aquela sua cara odiosa próximo a mim.

— O que você ouviu bastardinho. —

— Olha só... —

— O que você quer com o meu irmão? — Troy perguntou de braços cruzados em uma postura austera, sua expressão não era nada boa.

— Nada. — Ele saiu de fininho, como se anda houvesse acontecido.

— Chegou bem na hora hein Golias. —

— Coisa de gêmeo, me empresta cinco dólares? —

— Sei, coisa de gêmeo, gêmeo vigarista só se for. — Dei o dinheiro que ele pediu ele agradece fazendo carinho no meu cabelo.

— E o prêmio de melhor irmão vai para... — Theo falou.


CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO



O garoto de saiaOnde histórias criam vida. Descubra agora