Capítulo XXIV

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(Harry)

— O que é isso? — Questionei apontando para uma pasta vermelha sob a sua mesa de estudo, ela era feita de um tecido de um vermelho-sangue.

— Não é nada de importante. — Disse parecendo minimamente aflito. Eu poderia muito bem ter deixado aquela pasta em seu devido lugar, entretanto eu era uma pessoa extremamente curiosa então fui até lá e a peguei em mãos. Antes de me virar, ele me segura por trás e segura a pasta tentando evitar que eu a visse.

— Harry, acho que você não vai gostar muito disso e com certeza vai me achar maluco. —

— Por favor deixa eu ver, sou seu namorado esqueceu? Você disse que iria fazer o quê eu quisesse. —

— Você vai ter que prometer que não vai me achar maluco. — Luke parecia estar com medo, o que acabou me deixando com um pouco de receio em abrir aquela pasta.

— Eu prometo. — Ele me conduziu pelo braço até a sua cama, ele se sentou e fez eu me sentar em seu colo, o que me deixava um pouco inquieto, mas era tão bom.

Quando abrir a pasta, a primeira coisa que vejo é uma folha de boldo colada, não vi nada demais, era linda inclusive. Contudo, a próxima página revelava um desenho inusitado. Era uma figura que vestia uma capa que lhe ocultava o rosto, segurava uma lanterna e na outra mão um martelo. Os desenhos de Luke não possuíam cores, apenas o negro, eram desenhos sombrios e apenas sombrios.

— O que significa? —

— Não sei, apenas me veio a mente. —

— É muito legal, você tem talento. — Eu sabia apreciar a arte em suas mais diversas expressões. Aquelas artes fugiam um pouco do padrão, mas eram tão sublimes.

— Pensei que me acharia um maluco. —

— E você, não é? — Fiz um pouco de humor e puxei sua mão para beijá-la.

— Sim, sou maluco, maluquinho por você. — Luke beija meu pescoço, nem preciso dizer o quanto isso mexia comigo.

Quando o silêncio reinou, me questionei sem nem perceber o quão machucado o Luke deveria ser por ser tão desprezado assim por sua mãe. Eu cresci sem mãe, não sei como é ter uma, mas eu tenho um pai maravilhoso, que cuidou de mim, me amou e continua me amando, mas o Luke era sozinho, o que era extremamente triste.

Naquele silêncio ele me admirava, eu sabia disso pois seus olhos brilhavam, acho que no fundo o Luke não é tão diferente do Ashton assim, talvez o Ashton só tenha tido muita sorte em ter uma família legal.

— Seu pai e seu irmão não gostam muito de mim, não é? Senti um clima um pouco pesado quando almocei com vocês. —

— Eles tinham medo de que você fizesse alguma coisa ruim comigo, eles são assim mesmo, se eu fosse você nem ligava. —

— Deve ser legal ter uma família que te protege e te ama. —

— É, é bom. — Por um momento me senti tão impotente, pois senti que não poderia fazer nada, afinal sua vida era tão cheia de cicatrizes, algumas incuráveis e eternas.

— Eu imaginei que sim. —

— Mas olha pelo lado bom, mesmo com uma família assim você é uma pessoa incrível, sabia que só as flores mais fortes florescem nos piores lugares? —

— Não sabia, você como sempre tão cheio de segredinhos, não é, meu baixinho? — Ele me agarrou mais uma vez, uniu nossos corpos, e me envolveu em seu enorme corpo. Era difícil de descrever a sensação de seu abraço, era como se uma parte faltante de meu corpo me completasse momentaneamente e eu atingisse um estado completo de paz. Era como se minha alma deixasse meu corpo e viajasse pelo universo de uma ponta a outra, se bem que o universo não tem fim.

— Vamos patinar no sábado?! — Luke propôs repetir aquela noite incrível, não demorei muito em aceitar, afinal amei patinar a experiencia foi mais do que mágica, e ainda quero patinar melhor, pois comparado a meu namorado ainda sou nada.

— Depois podemos ir em algum lugar, você pode escolher dessa vez. —

— Tudo bem, eu vou pensar em um lugar especial, eu prometo. —

Nunca imaginei que Luke tivesse uma personalidade tão agradável, considerando que ele é um pouco idiota com as outras pessoas, lembro-me de quando ele colocou a perna na frente de um garoto e o fez cair no corredor, ou de quando ele atormenta o Ashton.

De certa forma, acho que ele age dessa maneira apenas para esconder suas dores, não que isso seja justificável, garotos que agem dessa forma sempre foram um pesadelo na vida de todo mundo. Homofobia na escola é quase uma regra, olhares, dizeres, atitudes, tudo isso machuca, mas ainda bem que não sou de levar desaforo para casa.

Na hora do almoço, ele fez o meu prato, disse-me que eu deveria apenas sentar e esperar enquanto me servia, achei tão fofo ele agindo daquela maneira, pouco a pouco aquele arrependimento de ter aceitado um pedido tão repentino assim ia passando, mas isso não era suficiente para me deixar completamente feliz com a situação.

Por tanto tempo quis viver esse momento, queria não ser tão bipolar às vezes.

Depois do almoço assistimos a uns episódios de uma série, até que era legal, sobre dois garotos que se apaixonavam, mas infelizmente não podiam ficar juntos. Luke não desgrudava de mim, fazia questão de me abraçar, ficamos de conchinha de vez em quando ele beijava o meu pescoço. Com esses chamegos acabo caindo no sono, tirei uma soneca tão gostosa, rápida, porém gostosa. Quando acordei ele ainda me abraçava, ele me dava alguns beijinhos tão suaves que eram quase imperceptíveis.

— Nossa, desculpa, acabei dormindo. —

— Não precisa pedir desculpas, príncipe. — Sua voz grave ironicamente suavizava meus ouvidos.

Infelizmente o tempo passou tão rápido quanto o sol no inverno, quando olhei no relógio já era seis da tarde, Luke me olhava com uma cara não muito animada.

— Que foi, lindo? —

— Não queria que fosse embora. —

— Nem eu quero ir, mas já está tarde. —

— Esse foi o melhor dia da minha vida. —

— Te garanto que amanhã será ainda melhor. — Dei um beijinho rápido, mas para ele, isso não foi o suficiente já que me beijou novamente em uma intensidade infinitas vezes superior. Depois ele me deu um abraço tão aconchegante. Luke era um mar de contradições, bruto e doce, calmo e raivoso. Tão complexo de se entender e tão fácil de se amar.

— Eu te levo em casa. —

— E se alguém te vê? —

— Eu te deixo na esquina. —

— Tem certeza? —

— Claro que sim. Tenho que deixar o meu namorado em casa, assim posso ficar um tempinho a mais com você. — Não quis o contradizer.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO:

[...] — Oi Harry?! — Ashton disse, ele parecia um pouco incomodado com algo. [...]

[...] Não sei se o que fiz foi correto, geralmente não ajo dessa maneira com alguém, com certeza isso me incomodará por um bom tempo [...]

O garoto de saiaOnde histórias criam vida. Descubra agora