Capítulo XVIII

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(Luke Griffin)

Primeiro ano do ensino fundamental, não me lembro de muita coisa, lembro que eu não queria ir para escola, tanto que minha mãe acabou me dando uma surra enquanto me arrumava, ainda lembro da forma como ele apertou meu pescoço e como suas unhas me feriram.

Lembro também que ela me deixou bem cedo na sala de aula, como estávamos sozinhos ela me ameaçou.

— É bom que você se comporte, seu eu souber de qualquer coisa você já sabe. — Depois disso ela se foi, me deixando sozinho ali, meu pescoço ainda ardia, conforme eu soava ele ardia ainda mais.

Fiquei pintando enquanto esperava a aula começar, eu ainda não sabia ler, mesmo minha mãe tentando de todas as formas me ensinar, nem mesmo com suas surras adiantou.

A última coisa que eu lembro naquele dia era da imagem de um garoto chegando de mãos dadas com seu pai, ele o colocou sobre a cadeira, falou alguma coisa no seu ouvido e depois o abraçou lhe dando um beijo nos seus cabelos pretos.

Ele parecia bem animado com o primeiro dia de aula, ele sorria, ele ficou balançando as pernas no ar. Aquele era  Harry Von Hoffman, o garoto perfeito.

Estudamos apenas o primeiro ano juntos, depois ele foi estudar em outra sala com seus dois amigos a Karen Marhews e o Theodore.

Eles três sempre pareceram felizes juntos, sempre sorriam, comiam juntos, andavam juntos, nos primeiros anos eles três andavam de mãos dadas. Conforme fomos crescendo nos tornamos cada vez mais distantes. Eu achava o Harry muito legal, queria que ele fosse meu amigo, mas éramos pessoas totalmente diferentes.

Aos doze anos comecei a sentir algumas mudanças, uma delas foi o despertar de uma pequena obsessão pelo Harry, eu só pensava nele, queria ver ele, queria saber mais sobre ele. Todos os dias eu o via no colégio, às vezes me perdia observando-o, por sorte ninguém percebia.

Mas não era só eu quem o observava, outras pessoas também o faziam, mas nenhum era tão exagerado nisso como o Ashton Blake, ele o secava sem cerimônias. Certamente desejando-o para si. Confesso que tive as primeiras crises de ciúmes com essas cenas.

A forma como o Ashton Blake olhava despertava em mim a mais profunda ira, as vezes eu tinha vontade de socá-lo até estragar aquele sorrisinho esnobe. Não sei o que todos veem nele, pois eu vejo apenas um ruivo insosso, que parece ter saído de uma água com salsicha.

Lembro-me do dia da formatura do fundamental, Harry estava lindo, eu havia perdido o título de rei para o Blake, não dei muita importância apenas fiquei no meu canto. Naquela noite eu estava com uma garota, ela era linda dançava tão bem e sorria graciosamente, mas era nele que eu estava de olho, no Harry com deu terno azul-marinho e seus cabelos soltos ele dançava tão felizmente com seus amigos. Ele era tão perfeito aquela sua animação era contagiante.

Mas mais uma vez eu não era o único a admirá-lo, aquele embuste estava olhando para ele também, em certo momento até caminhou em sua direção, confesso que por dentro fiquei em fúria. Mas ele não foi até ele. Assim fiquei mais calmo.

No ensino médio as coisas ficaram complicadas, a vida não era tão mais fácil, as pessoas eram tediosas, o mundo era cinzento, em casa era um inferno, só queria acabar com todo mundo e ficar em paz comigo mesmo. Foi então que eu entendi que eu gostava do Harry, não de uma maneira apenas amiga, mas de uma maneira amorosa, uma paixão. Foi um grande choque entender que eu gostava de outro garoto, essa ideia me parecia tão abjeta. Mas todas as vezes que o azul de seus olhos miravam nos meus toda essa repreensão se desfazia como algodão-doce na água.

A suavidade de seus traços eram algo quase angelical, ele era perfeito em cada detalhe, por mais que mínimo. Seu sorriso era tão perfeito, lembro de uma vez em que ele sorriu no refeitório, aquilo ficou na minha mente por semanas.

Tentei o esquecer muitas vezes, mas nem meus três relacionamentos fracassados conseguiram isso. Pois como fixar com alguém que não fosse ele, quando eu queria ele mais do que tudo?

Mas meus problemas não pararam aí, quando ele apareceu de saias na escola confesso que fiquei atordoado, seja pela sua coragem em o fazer, como também pela perfeição que ele ficou de saias, ou pelo fato de ele gostar de usar saias. Mas fiquei também possesso, ao perceber a aproximação repentina do Blake mais uma vez, ele era ousado, ele estava se fazendo presente em diversos momentos, conversando com ele, o dando presentes, sendo cordial. Tudo isso com segundas opções e o pior de tudo, todo mundo a sua volta apoiava. Me questiono o que eles achariam de nós dois? Será que isso passou pelas suas cabeças.

Cansado de ficar para trás, querendo a todo custo ele, finalmente deixei meu medo de lado, criei coragem para desafiar até meus próprios preconceitos. Quando eu soube que ele estava de detenção, me veio uma ideia repentina, toquei um foda-se para o mundo todo, o primeiro garoto que vi na minha frente sequei com força bem no nariz, no momento em que íamos para o corredor.
E o que eu esperava aconteceu, me levaram para a detenção, onde naquele momento ele estava, bem como eu esperava.

O diretor me deu um longo sermão, mas o que era aquilo perto do pequeno contato que tivemos? Ele parecia ter medo de mim, mas perto do Blake ele ficava tão bem. Isso me deixou um pouco triste.

— Por que você bateu no garoto? — Sua voz era tão calma, doce. Me perdi na forma como seus lábios se mexeram e em como seus lindos olhos desviavam do meu.

Quando o diretor disse que eu estudaria com ele, por dentro meu coração explodiu de alegria, no dia seguinte sentei ao seu lado já pensando nos trabalhos futuros, razões para nós aproximarmos. Mas mais uma vez tive um revés em meus planos, Ashton Blake parecia ainda mais focado em ter ele, tanto que o beijou, pelo que soube, não acreditei, pois não achava que o Harry fosse dar confiança para aquele insosso. Mas para meu azar e tristeza, o vi abraçados no shopping, ele sorria enquanto seu pequeno corpo era envolvido pelo nojento do Blake.

Minha vontade era tirá-lo de cima do Harry a socos, mas eu não podia fazer isso sem deixar claro meus ciúmes. Naquele mesmo instante voltei para casa, fui direto para meu quarto, onde afundei meu rosto na minha cama. Ashton conseguiu, ele havia o conquistado.

Por uns breves minutos desisti da ideia de tê-lo, mas isso tudo se desfez ao lembrar de nossa noite no shopping, em que patinamos juntos. Aquela cena ficaria para sempre em minha mente, assim como a sensação do toque de sua suave pele, sua expressão de medo e vergonha.

Peguei minha moto, dirige até o seu bairro, a estacionei um pouco longe, e fiquei detrás de uma árvore esperando até ele chegar. Eu não deixaria o Ashton Blake ficar com o Harry.

— Ele é meu, seu insosso — Digo um pouco nervoso enquanto o aguardava — E ele vai ser meu. —

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

O garoto de saiaOnde histórias criam vida. Descubra agora