Estava na boca da noite, por volta das nove e meia. O doutor já havia me dado os medicamentos e me desejado boa noite, eu teria mesmo ido dormir logo, mas uma pulga cutucava minha orelha... Edward.
Ele me odiava e eu não ia com a cara dele, mas eu não conseguia dormir pensando que ele poderia estar se contorcendo de dor por minha culpa. Então como todo idiota com problemas faria, eu me levantei da cama e desconectei os fios que ainda estavam ligados no meu sangue... Levantei com cuidado para não me machucar e calcei um par de chinelos que havia por lá. Abri a porta e com cuidado saí pra fora. Sim, eu estava saindo de fininho no meio da noite para ver como estava o estado de saúde do cara que me odeia.
Passei por vários corredores até chegar na ala que dizia ser a UTI. Olhei em quatro quartos diferentes e nada dele... Daí ouvi vozes se aproximando da ala e entrei no quarto a minha frente. Olhei pela brecha e me certifiquei que já haviam ido, quando me virei e me deparei com ele ... Edward estava deitado na cama a minha frente. Não parecia tão mal, estava com uns fios ligados ao braço como eu estava, mas não estava usando nenhum equipamento de respiração. Me aproximei e me sentei numa cadeira ao lado da cama dele... Ali eu o fiquei observando por uns minutos de puro silêncio a não ser o bip do aparelho dos fios.
“Edward, Edward porque você me odeia tanto, o que foi que eu fiz pra você querer tanto me destruir. Se não fosse pelo fato de sermos inimigos eu poderia até dizer que você é legal, mas nem te conhecer direito eu te conheço... Porém apesar disso eu sou grato a você, muito grato. Se não fosse por você Cristian não teria se curado da ferida que deixei nele por ter ido embora... Espero que melhore logo.”
Foi isso que eu disse enquanto ele estava ali desacordado na minha frente. Me levantei e me preparei para voltar pro meu quarto, mas eis que uma voz surge no quarto;
--Que que você faz aqui?
Me virei e vi Edward acordado e me olhando fixamente com aqueles olhos negros que mais pareciam duas nebulosas;
--Como se sente?
--Vai me responder com outra pergunta?
--Vou. Como se sente?
Ele pensou, olhou em volta e se analisou;
--Me sinto estranho, um desconforto no estômago... Mas só isso.
--Já é um alívio, pensei que estaria pior.
--Agora vai responder a minha pergunta? O que faz aqui?
--Verificando se os danos foram altos ou se você continua o mesmo troço de sempre. Porém já comprovei.
--Que roupa é essa?
--Roupa hospitalar, eu também estou internado aqui.
--Internado por que?
--Você não se lembra? Levamos um tiro.
--Eu e você?
--Eu , você e o Cristian.
--Ele está aqui também? Está mal?
--Não, ele já recebeu alta no começo da semana.
--E o que eu faço aqui ainda?
--Você entrou em coma depois de uma operação no seu estômago.
--Caralho... E você tá aqui porque ainda?
--Meu caso foi o mais sério dos três.
--Como assim?
--O tiro que eu levei acertou uma parte do meu coração... Fiz nove operações para sobreviver.
--Nove?
--Sim.
Depois disso ele ficou pensativo, calado e depois reagiu;
--Eu não sei porque, mas de alguma forma eu sinto que isso tem haver com você.
--Como é?
--Você, se sabe quem fez isso com agente não sabe?
--Está louco? Como pode pensar isso.
Ele estava certo, eu sabia o porque atiraram... Mas eu ainda não sabia quem havia atirado;
--Você não me inspira confiança.
--E nem você a mim, então estamos igualados.
--Se não tivesse algo a ver com isso , não estaria aqui se sentindo culpado.
--Olha aqui, eu não sei qual é o seu problema comigo, mas vamos aproveitar que estamos a sós aqui e coloca logo isso na mesa... Qual sua rixa contra mim?
--Quer mesmo saber?
--Fala.
--Olha aqui...
Quando ele começou a falar, um barulho de disparo foi ouvido... Dentre um segundo vi uma bala atravessando a porta e quase acertou meu rosto. Teria acertado se Edward não tivesse me puxado para junto dele;
--Que foi isso?
--Vamos, vamos sair daqui agora.
Desconectei os fios dele, ajudei-o a levantar e a calçar os chinelos, nisso vários disparos atravessaram a parede tentando nos acertar, mas vários seguranças começaram a subir e começou-se um tiroteio no corredor. Abri a porta e em meio a esse tiroteio, saímos correndo juntos rumo a escadaria. Descemos todas as escadas até a recepção... A cada andar que se passava os tiros ficavam mais altos, não havia dúvida... Estavam atrás de nós. Passamos pela recepção que estava vazia e fomos rumo a saída, fomos pro estacionamento e quebramos o vidro do carro de algum funcionário do hospital. Entramos e Edward desemedou alguns fios e ligou outros, fazendo o carro funcionar... Ele começou a dirigir para fora da área do hospital rumo a uma via que eu não fazia ideia que era;
--Conseguimos.
--O que foi isso?
--Eu que sei, só continua dirigindo, assim ficaremos longe do perigo.
Ficamos quase meia hora na estrada, até que ele fez uma virada em uma estrada de terra e estacionou em meio ao matagal;
--Aqui parece seguro, ninguém vai nos descobrir aqui.
--Ótimo, fiquei tão nervoso que meu coração esta acelerado... E você está bem?
--Tô, meu estômago até aliviou depois de tanta tenção.
--Vamos passar a noite aqui. De manhã pensamos melhor no que fazer.
--Antes você vai me dizer quem são aqueles caras que tentaram nos matar lá no hospital.
--Eu não sei cara, porque acha que estou envolvido nisso?
--Porque os tiros só pegaram em você e em gente que você gosta.
--Que eu gosto?
--Eu não teria sido atingido, o tiro foi na direção de Álice, mas Esteban tirou ela da frente e o tiro pegou em mim.
--Não está falando sério está?
--Claro que estou.
--Meu Deus.
--E então?
--Eu já disse que não tenho nada a ver com isso tudo.
Ele se calou e fixou seus olhos no matagal pelo vidro do carro. Estava seriamente desconfiado e eu não podia deixar de reconhecer que ele estava certo, mas nem ele nem ninguém pode descobrir do meu passado em Cajamar. Tomei coragem e perguntei o que tanto me incomodava;
--Porque você me odeia tanto?
--Como é?
--Quero saber a razão seu ódio por mim, o que eu te fiz?
--A mim nada, mas ao Cristian sim... Você o fez sofrer muito, eu estava lá eu vi, o quanto ele chorava e sofria nas sessões para curar a ansiedade e a depressão dele, tantos males que ele adquiriu na infância por sua causa. Você já viu alguma criança com quadro de depressão aos 8 anos Espurr? Porque eu não, isso até conhecer o Cristian.
--Me odeia por eu ter ido embora e tê-lo deixado... Você não deixou de gostar do Cris não é? Mesmo com a confusão da tal Luciana você ainda gostava dele.
--Como sabe sobre a Luciana?
--Cris me contou tudo a respeito disso.
--Cris? Tem a coragem de chama-lo por um apelido depois de tudo o que fez?
--Não fiz nada por que eu quis, se eu fui embora foi porque fui obrigado.
--Ah para eu não caio nesse papo, você podia ter ficado se quisesse.
--Como? Você me sustentaria e me criaria? Porque meu pai era um drogado e minha mãe uma louca que queria se livrar de mim enquanto eu era só um feto no ventre dela.
--Como é?
--Minha mãe e meu pai se divorciaram quando eu tinha apenas cinco anos e ela me levou embora contra minha vontade, eu não tive escolha... Esses anos tão sofridos pro Cris e pra Álice também foram terríveis para mim, me meti em coisas que eu não devia e acabei me dando muito mal.
--Que coisas?
--Isso é sigiloso. O que quero que você entenda é que eu não o deixei porque eu quis e sim porque tiraram ele de mim.
--Falando desse jeito parece até que você...
--Que eu o que?
--Nada, deixa isso quieto.
--Acho melhor.
Passou-se vários minutos de puro silêncio, até que;
--Só não consigo entender.
--Entender o que?
--O porque que ele gosta tanto de você... Ele te protegeu até de mim, me bateu e ameaçou partir minha cara se eu não te deixasse em paz, ele preferiu você ao invés de mim.
--Não é questão de preferir Edward... Ele ainda sente amizade por você, eu sinto isso. Mas ele sente algo muito mais forte por mim, talvez o mesmo que eu sinto por ele e nada vai poder destruir isso. Álice, Cris e eu somos como um só, desde criancinhas nada destrói o que há dentro de nós... Podem passar dez anos que nada mudará.
Ele me encarou por tanto tempo que acho que refletiu todo seu ódio por mim e um minuto. Daí nos calamos definitivamente até que pegamos no sono.
De acordo com o timer que tinha no rádio do carro, eram seis horas da manhã quando eu acordei. Senti uma sensação estranha, uma sensação de perigo, como se algo fosse nos atacar;
--Edward acorda. Acorda anda.
Ele despertou totalmente alerta;
--O que , que foi? Que que houve?
--Tem algo errado.
--O que tem de errado?
--Não sei direito, estou sentindo alguma coisa.
--Dor? Está com dor?
--Não, uma sensação de perigo.
Ele parou e começou a olhar em volta, tentando achar algum sinal de pessoas;
--Não há nada aqui, deve estar com medo só isso.
--Vou ver isso melhor.
--Como assim?
Abri a porta e saí pra fora do carro, com cuidado e comecei a andar por perto do carro, em busca de algum sinal de perigo... E como eu suspeitava algo estava errado. Edward saiu logo em seguida;
--Que que você está procurando afinal? Entra logo está muito frio aqui fora.
--Espera, olha isso.
Ele deu a volta e parou do meu lado;
--Que que isso?
--Rastros, bem aqui no chão.
--Rastros de que?
--São finos... Parecem ser de cobra.
--Como pode saber ?
--Olha o formato cara. Pela profundidade não passou a muito tempo.
--Acha que já foi embora?
--Não sei, não consigo saber se esse rastro foi dela vindo ou indo... Mas se foi realmente uma cobra , ela está faminta.
--Porque acha isso?
--Ela sentiu o calor dos nossos corpos, então significa que ainda está por perto.
--Só faltava essa. Vamos fazer o que agora?
--Manter a calma, cobras sentem o calor aumentando quando estamos nervosos. Abra o carro e vasculhe tudo, esse rastro é bem extenso, sinal que ela é bem grande.
--E você vai fazer o que?
--Vou dar uma olhada aqui em volta, não sabemos se ela foi embora ou se está escondida pelos arredores esperando para dar o bote.
--Toma cuidado.
Depois de dizer isso ele se virou e entrou no carro, enquanto eu saí em busca de um sinal da tal cobra... Eu preferi não dizer nada, mas aquele rastro era familiar ao de uma sucuri... Como eu sei disso? Já enfrentei uma quando tinha sete anos. Minha sorte é que eu não estava sozinho, G me salvou dela.
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Teens 2 💫 Elos Inabaláveis
PertualanganDas tragédias, emoções, confusões e descobertas... Os teens continuam suas aventuras. Será que juntos vão destruir o mal que os persegue? Só o tempo dirá, com os mistérios escondidos pelas sombras da terrível verdade... A mistério O.E Lutando para...