Capítulo 7

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JungKook

2 de abril de 2014

Cinco dias antes do adeus

Quando o táxi deixou meu pai e eu no hospital, corri para a emergência.

Passei os olhos pela recepção à procura de algo, de alguém conhecido.

— Mãe — chamei, e então ela me viu da sala de espera.

Tirei o boné e corri em sua direção.

— Ah, filho.

Ela me abraçou, chorando.

— Como eles estão? Como...

Mamãe começou a soluçar, seu corpo estremecendo.

— Suho... Suho se foi, JungKook. Ele lutou muito, mas não conseguiu.

Eu a soltei.

— Como assim, ele se foi? Ele não foi a lugar algum. Ele está bem. — Olhei para meu pai, que me encarava, chocado. — Pai, fala pra ela. Fala que Suho está bem.

Ele abaixou a cabeça.

Tudo dentro de mim se inflamou.

— Sun? — perguntei, sem saber se queria mesmo saber a resposta.

— Está no CTI. Ele não está reagindo muito bem, mas...

— Aqui. Ele está aqui. — Passei a mão pelo cabelo. Ele estava bem. — Posso vê-lo? — perguntei.

Minha mãe assentiu.

Corri para a recepção e falei com as enfermeiras, que me levaram até o quarto de Sun.

Levei as mãos à boca quando olhei para o meu filho e todas as máquinas ligadas a ele.

Estava entubado, vários medicamentos sendo injetados em suas veias, e seu rosto estava machucado, roxo.

— Meu Deus... — murmurei.

A enfermeira me deu um sorriso cauteloso.

— Você pode segurar a mão dele.

— Por que o tubo? P-p-por que ele está entubado? — gaguejei.

Minha cabeça tentava se concentrar em Sun, mas a ficha começou a cair.

Suho se foi, minha mãe disse.

Ele se foi.

Mas como?

O que aconteceu?

— O acidente provocou um pneumotórax no pulmão esquerdo, e ele está com muita dificuldade pra respirar. O tubo é para ajudá-lo.

— Ele não consegue respirar sozinho?

Ela balançou a cabeça.

— Ele vai ficar bem? — perguntei para a enfermeira e vi o remorso em seu olhar.

— Não sou médica. Só eles podem...

— Mas você pode me dizer, não pode? Coloque-se no meu lugar. Acabei de perder meu marido. — Falar isso em voz alta mexeu com minhas emoções e respirei fundo, em choque. — Se esse garotinho fosse tudo que te restasse no mundo, você iria querer saber se ainda resta uma esperança, certo? Você imploraria a alguém que te dissesse o que fazer. Como fazer. O que você faria?

— Senhor...

— Por favor — supliquei. — Por favor.

Ela olhou para o chão e depois para mim.

— Eu seguraria a mão dele.

Assenti.

Soube naquele momento que ela havia acabado de me dizer a verdade que eu não queria ouvir.

Sentei na cadeira do lado da cama de Sun e peguei sua mão.

— Oi, filho, sou eu. O papai está aqui. Sei que eu estava longe, mas agora estou aqui, tá? Estou aqui e preciso que você lute. Você consegue fazer isso, cara? — Lágrimas escorriam pelo meu rosto, e beijei sua testa. — Papai precisa que você volte a respirar sozinho. Você tem que melhorar, porque preciso de você. Sei que as pessoas dizem que os filhos precisam dos pais, mas é mentira. Preciso de você pra seguir em frente. Pra continuar acreditando no mundo. Cara, preciso que você acorde. Não posso perder você também, tá? Preciso que você volte pra mim... Por favor, Sun... Volte para o papai.

O peito dele começou a inflar, mas, quando ele tentou expirar, as máquinas começaram a apitar.

Os médicos correram até o leito e tiraram minha mão da dele.

Sun tremia incontrolavelmente.

Eles gritavam um com o outro, dizendo coisas que eu não entendia, fazendo coisas que eu não compreendia.

— O que está acontecendo? — berrei, mas ninguém me ouviu. — O que houve? Sun! — gritei, e duas enfermeiras tentaram me tirar do quarto. — O que eles estão fazendo? O que... Sun! — gritei cada vez mais alto enquanto elas finalmente me arrancavam do quarto. — SUN!

Na sexta-feira à noite, sentei-me à mesa de jantar e disquei um número que um dia foi muito familiar para mim, mas que eu não usava há algum tempo.

Segurei o telefone junto ao ouvido.

Alô? — respondeu uma voz suave. — JungKook, é você? — O tom cauteloso em sua voz provocava um aperto no meu estômago. — Filho, por favor, fale alguma coisa... — murmurou ela.

Levei a mão fechada à boca e a mordi, sem responder.

Desliguei o telefone.

Sempre desligava.

Continuei ali sozinho pelo resto da noite, deixando a escuridão me engolir.

Breath of Life - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora