JungKook
7 de abril de 2014
O adeus
Fui até a parte alta nos fundos do cemitério, com Zeus ao meu lado.
As pessoas cercavam os caixões, vestidas de preto, com lágrimas nos olhos.
Minha mãe chorava e tremia abraçada ao meu pai.
Todos os amigos, meus e do Suho, estavam lá, desolados.
A professora do Sun chorou o tempo todo.
Ela provavelmente estava pensando que não era justo.
Não era justo que Sun não tivesse a oportunidade de aprender como fazer cálculos com frações, ou o que era álgebra.
Que ele não tivesse a oportunidade de dirigir um carro.
Que ele nunca fosse dançar valsa com a mãe no dia do seu casamento.
Que ele nunca tivesse a chance de me apresentar a seu primeiro filho.
Que ele nunca tivesse a chance de dizer adeus...
Sequei as lágrimas e funguei.
Zeus se aproximou de mim e deitou aos meus pés.
Droga, não consigo respirar.
O caixão de Suho foi o primeiro a ser baixado, e minhas pernas cambalearam.
— Não vá... — sussurrei.
Depois foi a vez de Sun.
— Não...
Minhas pernas desmoronaram.
Desabei no chão e levei as mãos à boca, chorando.
Zeus me confortava, lambia minhas lágrimas, tentava me fazer acreditar que tudo estava bem, que eu estava bem e que, de algum modo, as coisas iam melhorar.
Mas não acreditei nele.
Eu não deveria ter abandonado meus pais, mas eu os abandonei.
Deveria ter dito a Suho e Sun que eu os amava intensamente, mas minha voz não saiu.
Levantei-me e fui embora, segurando a coleira de Zeus bem firme.
Deixei Suho.
Abandonei meu filho.
E aprendi o quanto dói ter que finalmente dizer adeus.
≈
— Então, você está fugindo — constatou o Sr. Han uma semana depois, quando estacionei o carro na frente da loja e entrei para me despedir.
Dei de ombros.
— Não estou fugindo. Só estou me mudando. As coisas vêm e vão, o senhor deveria saber disso bem melhor que eu.
Ele passou os dedos pela barba grisalha.
— Mas não é isso que você está fazendo. Você não está se mudando, está fugindo.
— Mas o senhor não entende. O marido dele...
— Não foi ele.
— Sr. Han…
— Meu ex adorava coisas esotéricas. Por todo o tempo que passamos juntos, ele tentou me convencer a abrir a loja dos seus sonhos nessa cidade. Ele acreditava no poder da magia, no poder de cura dos cristais. Acreditava que a magia tinha uma forma de tornar a vida mais suportável. Eu achava que ele era louco. Eu tinha um emprego fixo, trabalhava o dia inteiro, nem dava bola pra essas coisas. Falei que o desejo dele de abrir esse tipo de loja era ridículo. Nós éramos um casal gay, e naquela época a vida já era difícil o bastante pra nós. A última coisa de que precisávamos era ser um casal gay que acreditava em magia.
“Um dia, de repente, ele foi embora. No início eu não entendi, mas, depois de um tempo, percebi que a culpa era minha. Eu não soube dar o valor que ele merecia, e, quando o perdi, aquilo acabou comigo. Depois que ele partiu, me senti muito sozinho, e me dei conta de que provavelmente era assim que ele se sentia o tempo todo. Ninguém deve se sentir só quando está apaixonado. Pedi demissão e decidi transformar o sonho dele em realidade. Estudei o poder curativo dos cristais e das ervas. Trabalhei duro para entender o que ele gostava, o sonho dele, mas já era tarde demais. Ele já estava com outra pessoa que o amava.
“Não vire as costas pro Minie, porque ele não teve nada a ver com o acidente. Não jogue fora a chance de ser feliz. No final, não são nas cartas de tarô, nos cristais ou nos chás especiais que reside a magia. A magia está nos pequenos momentos. Nos pequenos gestos, nos sorrisos gentis e nas risadas silenciosas. A magia é viver todos os dias e se permitir respirar e ser feliz. Meu querido, a magia é amar.”
Mordi meu lábio inferior, absorvendo suas palavras.
Eu queria acreditar nele, e uma pequena parte de mim entendia perfeitamente o que ele dizia.
Mas outra parte, enterrada no fundo da minha alma, sentia culpa.
Suho merecia mais.
Na minha opinião, amar outra pessoa depois de tão pouco tempo era egoísmo.
— Não sei como fazer isso. Não sei como posso amar Jimin, quando nunca disse adeus ao passado.
— Você vai embora pra dizer adeus ao passado?
— Acho que vou embora pra aprender a respirar de novo.
O Sr. Han franziu a testa, mas disse que entendia.
— Se precisar de um lugar pra ficar ou um amigo pra conversar, estarei aqui.
— Que bom — falei, abraçando-o. — E se você acabar vendendo a loja para aquele idiota, volto aqui pra brigar com unhas e dentes.
Ele sorriu.
— Combinado.
Abri a porta da frente, ouvindo o sininho tocar pela última vez.
— Você cuida deles? Da Soojin e do Jiminie?
— Eu garanto que eles nunca vão queimar a língua com o chá e o chocolate quente.
Depois de nos despedirmos, saí da loja e entrei no meu carro, com Zeus ao meu lado.
Dirigimos por horas.
Não tinha certeza de aonde estávamos indo, nem sabia se tinha um lugar para ir, mas dirigir sem destino parecia ser o melhor a fazer.
Estacionei na porta de casa às três da manhã, e a luz da varanda ainda estava acesa.
Quando eu era mais novo, sempre chegava em casa bem depois do horário estipulado, e fazia a vida deles um inferno.
Apesar disso, minha mãe sempre deixava a luz acesa para que eu soubesse que eles estavam me esperando.
— O que você acha, garotão? Vamos entrar? — perguntei a Zeus, que estava deitado todo encolhido no banco do carona, abanando o rabo. — Tudo bem. Vamos entrar.
Bati cinco vezes na porta antes que alguém a abrisse.
Meu pai e minha mãe estavam de pijama, olhando para mim como se eu fosse um fantasma. Pigarreei.
— Olha, sei que fui uma merda de filho nesse último ano. Sumi e não dei explicação. Eu estava perdido, perambulando por aí, enquanto minha mente tentava encontrar um caminho a seguir. Sei que disse coisas terríveis antes de ir embora, que culpei vocês pelo que aconteceu. Mas eu... — Coloquei as mãos nos bolsos da calça. — Eu só estava pensando se poderia ficar aqui um tempo. Porque ainda estou perdido. Ainda estou tentando me encontrar. Mas não sei se consigo fazer isso sozinho. Eu só preciso... só preciso do meu pai e da minha mãe por um tempo, se não tiver problema pra vocês.
Eles saíram da casa e me abraçaram.
Casa.
Eles me fizeram sentir em casa.
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Breath of Life - Jikook
FanficComo superar a dor de uma perda irreparável? Todos me alertaram sobre Jeon JungKook. "Fique longe dele", diziam. "Ele é cruel." "Ele é frio." "Ele é perigoso." É fácil julgar um homem pelo seu passado. Olhar para JungKook e ver um monstro. Mas eu...