Capítulo 11

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JungKook

3 de abril de 2014

Quatro dias antes do adeus

De pé na varanda dos meus pais, eu observava a chuva forte que caía no balanço feito de pneu que eu e meu pai tínhamos feito para Sunjong. 

Ele ia e voltava, batendo contra a moldura de madeira.

— Como você está? — perguntou meu pai, aproximando-se de mim. 

Estava acompanhado de Zeus, que logo encontrou um canto seco para se deitar. 

Virei-me e olhei para ele, um rosto muito parecido com o meu, apenas mais velho e mais sábio.

Não respondi e continuei observando a chuva.

— Sua mãe comentou que você não está conseguindo escrever o obituário — continuou ele. — Posso ajudar.

— Não quero sua ajuda — resmunguei, minhas mãos se fechando, as unhas cravadas nas palmas. 

Eu odiava sentir a raiva aumentar com o passar dos dias. 

Odiava culpar pessoas próximas pelo acidente.

Odiava aquela pessoa fria que eu estava me tornando a cada momento. 

— Não preciso de ninguém.

— Filho... — Ele suspirou, colocando a mão no meu ombro.

— Só quero ficar sozinho — respondi, me afastando.

Ele abaixou a cabeça e passou a mão pela nuca.

— Tudo bem. Estarei lá dentro com sua mãe. — Ele se afastou e abriu a porta de tela. — Mas, JungKook, só porque você quer ficar sozinho, não significa que esteja sozinho. Lembre-se disso. Sempre estaremos aqui quando você precisar.

Ouvi a porta se fechar e respirei fundo.

Sempre estaremos aqui quando você precisar.

A verdade era que o “sempre” não durava para sempre.

Coloquei a mão no bolso e peguei o pedaço de papel que eu estava encarando há três horas. 

Eu tinha terminado o obituário de Suho de manhã, mas o de Sunjong ainda estava em branco, apenas com o nome dele escrito.

Como eu poderia fazer aquilo? 

Como eu escreveria a história de sua vida, quando ele nem teve a chance de viver?

A chuva começou a cair no papel, e as lágrimas, dos meus olhos. 

Pisquei algumas vezes antes de enfiá-lo de novo no bolso.

Eu não ia chorar.

As lágrimas que se fodam.

Meus pés desceram os degraus da varanda, e em segundos eu estava encharcado da cabeça aos pés, me tornando parte da tempestade que caía.

Precisava de ar. 

Precisava de tempo. 

Precisava escapar.

Precisava correr.

Comecei a correr descalço, sem pensar, sem ter uma direção.

Zeus veio correndo atrás de mim.

— Volta pra casa, Zeus! — gritei para o cachorro, que já estava tão molhado quanto eu. — Vai embora! — berrei, querendo ficar sozinho. 

Corri mais rápido, mas ele me acompanhou. 

Breath of Life - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora