VINTE E TRÊS

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Pensamentos por Gustavo Gomez:

Eu me sentia exausto, à beira do colapso. Alguns músculos das minhas pernas ameaçavam desistir a qualquer momento, e as câimbras persistentes me atormentavam com dor intensa. O estádio estava envolto em um chuvisco fininho, misturado com pequenos flocos de neve que tornavam o gramado escorregadio e traiçoeiro. O frio cortava como navalha, penetrando até os ossos, amplificando a exaustão que já sentia. Em meio àquela tormenta física e climática, uma súplica silenciosa ecoava em minha mente: que o jogo não fosse decidido nos pênaltis. Defender a zaga já estava além das minhas forças. Quando minhas energias pareciam totalmente esgotadas, e faltavam apenas dois minutos para o fim do jogo e a iminência dos pênaltis, aconteceu algo inesperado. Em um escanteio despretensioso, Murilo subiu alto e cabeceou em direção ao gol. Naquele momento, uma explosão de emoção tomou conta de mim; senti como se estivesse flutuando no céu. Com aquele gol, o Palmeiras garantia sua classificação. Era um alívio indescritível e uma redenção após tantos desafios enfrentados durante a partida.

O apito final ecoou pelo estádio, e o rugido da pouca torcida presente preencheu o ar. Conquistamos a vitória, avançando para a próxima fase do campeonato. Enquanto meus companheiros corriam em direção às arquibancadas para abraçar suas famílias, senti um vazio profundo se formar dentro de mim.
Observando-os celebrar, percebi que não tinha ninguém ali por mim, nenhum familiar, esposa ou filhos como os demais tinham. Angel... Onde estaria ela agora? Teria voltado para o Brasil como disse que voltaria ou ainda estava aqui no Chile? A ausência dela não poderia me abalar mas me abalou como um peso em meu peito, um silêncio que gritava em meus ouvidos.

Tomei um banho quente e rápido, o mais rápido de minha vida, eu só queria sair daquele ambiente frio. Quando voltei para o vestiário a festa continuava. Eu também estava feliz pelo meu time, só não estava feliz comigo mesmo.

__ Hey, Gustavo! Ven aquí, celebrar con nosotros! __ Piquerez me chamou, eles estavam organizando de comemorar no restaurante do hotel.

Sacudi a cabeça, recusando educadamente, eu realmente não estava no clima.

__ Gracias irmão, pero necesito descansar, yo sinto muchas dores.__ Respondi, ansiando por um momento de quietude para reunir meus pensamentos.

Retirei-me do estádio e fui para o hotel que graças a Deus era do lado. Ao entrar no quarto, frio e vazio, eu me joguei na cama, me permitindo pensar, pensar muito. Deitado na cama do quarto de hotel, o silêncio parecia amplificar meus pensamentos sobre Angel. Cada detalhe dela, cada momento compartilhado, vinha à tona como se tentassem preencher o vazio que sentia. A vitória do time era indiscutivelmente importante, mas a ausência de Angel me fazia questionar o verdadeiro significado daquilo tudo, eu não sei como tinha chegado ao ponto de eu sentir falta de algo que eu nem tinha.

Respirei fundo, tentando afastar a sensação de solidão que me consumia. Decidi tomar outro banho quente para relaxar um pouco, amanhã eu teria que fazer recuperação muscular no gelo, mas estava zero afim, quem sabe outro banho quente ajudasse nas dores.

Ao retornar ao quarto, peguei meu celular e percebi uma chamada não atendida de Angel. Meu coração acelerou ao ver que ela tinha me ligado.

Rapidamente, devolvi a ligação, esperando ouvir a voz reconfortante dela. O telefone tocou algumas vezes antes de ser atendido, mas ela atendeu por video chamada.

Seu rosto apareceu, um fundo movimentado do aeroporto atrás dela.
Meu quarto estava escuro, ela provavelmente não me veria muito bem, mas eu a via, e ela estava linda e sorridente.

__ Gustavo? Que bom que retornou minha ligação, eu estava ansiosa para te parabenizar, parabéns pela vitória! Você jogou incrivelmente bem, eu acompanhei tudo, eu vi sua exaustão.

Amor contratado - Gustavo GómezOnde histórias criam vida. Descubra agora