Amor contratado - Gustavo Gómez

DOZE

Pensamentos por Angel:

Os primeiros raios de sol iluminavam a cabine quando Gustavo me acordou dizendo que precisávamos ir embora. Nós já estávamos ali a uns dois dias e meio, três dias. O navio que fazia o cruzeiro beneficente havia feito uma parada na cidade litorânea turística, essa foi a nossa deixa para ir embora.
Pela pressa de Gustavo, provavelmente ele tinha algum compromisso em São Paulo. A noite intensa, cheia de desejos e tensões, agora cedia espaço para o silêncio da manhã, eu podia sentir que nós dois estávamos sentindo o peso do que havíamos compartilhado na escuridão.

O retorno para casa foi envolto em um silêncio carregado. A tensão da noite anterior permanecia entre nós, como uma sombra persistente que se recusava a ser ignorada. Na cabine, enquanto as malas eram fechadas com um ruído abafado, nossos olhares se encontraram momentaneamente, mas nenhum de nós conseguia articular o turbilhão de pensamentos que giravam em nossas mentes, pelo menos era o que acontecia na minha. Aquele silêncio parecia um abismo, e a normalidade da vida cotidiana se tornava um desafio.

Ao atravessarmos o convés, o sol da manhã nos envolvia, mas a atmosfera entre nós ainda era pesada. Evitávamos tocar no assunto delicado, mergulhados em um silencioso desconforto e desejo reprimido. No carro, o motor ronronando suavemente era quase ensurdecedor diante do vazio de palavras. Cada quilômetro percorrido parecia uma eternidade.

__ Angel... __ Gustavo me chamou enquanto mantinha as mãos e a atenção no volante. Eu estava com medo do que ele falaria a seguir, eu precisava continuar aquele com aquele contrato, precisava do dinheiro final daquele acordo. Nós dois termos atrapalhado o principal motivo de estarmos juntos foi a maior burrice.

__ Gustavo por favor, não sei o que vai falar mas eu quero falar primeiro. __ Avisei antes que ele falasse mais alguma coisa. Os olhos dele veio em direção aos meus me ouvindo atentamente.

__ Ontem, e tudo que aconteceu até agora foi erro meu e uma irresponsabilidade nossa. Nós precisamos focar no contrato para te ajudar a sair dessa situação e eu preciso muito do dinheiro desse acordo, já foi, terminou, nós erramos por vontade mas já acabou, por favor só vamos seguir em frente e continuar com nosso trabalho para te ajudar da melhor forma, é só isso que eu quero. __ Falei com medo que ele tentasse desistir de algo.

__ É, eu tambien. __ Ele falou concordando com a cabeça e voltando a olhar para a estrada.

Ao chegarmos em casa, a familiaridade do ambiente contrastava com a tensão palpável entre nós, mesmo após nosso pequeno diálogo as coisas não tinham melhorado, parece que seria sempre assim entre nós. O silêncio do corredor, era como se as paredes soubessem dos segredos que compartilhávamos e guardavam as reverberações da noite tumultuada.

Sentados na sala, a distância entre os sofás parecia maior do que nunca. Evitávamos olhares diretos, mas os olhos se encontravam furtivamente, como se buscássemos respostas nas expressões um do outro.

Eu sabia que era preciso enfrentar o que aconteceu, mas a vulnerabilidade de abrir aquela caixa de Pandora era assustadora. Gustavo, por sua vez, parecia mergulhado em pensamentos, carregando o peso de nossos atos naquele olhar profundo.

__ Vocês voltaram. __ A voz de Rick cortou meus pensamentos. __ Como foi a viagem? __ Perguntou para nós dois. Eu não queria em nenhum momento falar sobre a viagem.

__ Foi... tranquila. __ Respondi, tentando disfarçar a tensão em minha voz. __  Gustavo me ajudou em algumas situações e... Bom não importa, foi um cruzeiro beneficente e nós demos a cara por lá, as pessoas sabem que estamos juntos se é o que quer saber, deu tudo certo na farsa.

__ Bom isso é ótimo, mas vocês dois estão quietos demais, devem estar cansados. __ Rick falou. __ Tenho alguns assuntos para tratar com vocês, mas podemos falar mais tarde, não é nada de extrema importância.