Durante esta primeira semana não nos falámos. Ele levava a filha ao colégio, eu ia trabalhar, no final do dia preparava o jantar, tratava da Vitória e ele jantava sózinho.
Eu não me aproximei e ele também não fez questão.
Eu enjoava muito mais do que da Maria Vitória. Todas as manhãs eu vomitava e geralmente ia sem comer para o trabalho. Já perdi algum peso, mas a médica diz que é normal. Deixa de ser se eu estiver constantemente a perder peso ao longo dos meses. Um dia eu vou precisar ganhá-lo.
Uma coisa também foi diferente. Desta vez eu tinha muito sono. Custava-me imenso levantar para trabalhar todas as manhãs.
Hoje era domingo. Rodolffo acordou e preparou a filha para ir ao parque como fazíamos todos os domingos de manhã. Eu estava na cama quando ele foi perguntar se queria sair.
- Não. Vão vocês dois. Só quero dormir.
Rodolffo não disse mais nada. Saiu com a filha e eu virei-me para o lado e adormeci.
Não me preocupei com almoço pois era habitual aos domingos fazer o pedido a um restaurante que ambos gostávamos.
Regressei do parque já perto do meio dia e não vi resquícios de Juliette. Subi ao nosso quarto e ela dormia profundamente. Fui acordá-la.
- Juliette, o almoço está a chegar. Levanta e vem almoçar. Não comeste nada hoje.
- Não tenho fome. Deixa-me dormir.
- Mas dormiste toda a noite e toda a manhã!
- Por mim dormia toda a vida.
- Vem lá. Depois sentamos para conversar.
- Não há nada para conversar, até eu poder fazer um teste de ADN. Depois teremos uma conversa definitiva.
- Vamos conversar agora.
- Sai daqui Rodolffo. Não quero ouvir a tua voz.
Ele abandonou o quarto e foi dar o almoço à filha e comer também. Tinha comprado strogonoff que ela gostava. Fez um prato e foi levar-lho.
- Pelo menos come e depois dormes. Vou deixar aqui o teu almoço.
Juliette levantou-se para ir ao banheiro e sentiu as pernas cederem. Sentou-se na beira da cama e esperou um pouco antes de se levantar de novo. Ela estava há mais de 23 horas sem comer e sentia todo o corpo tremer.
Voltou do banheiro, comeu um pouco do prato e deitou-se de novo.
Ouviu a Maria Vitória chorar e chamar pela mãe e então decidiu levantar-se. A sua menina precisava dela.
Vestiu uma calça e blusa desportiva e desceu até onde estava a filha que correu assim que a viu.
- Tu estavas a chorar, minha bébé? Vem à mamãe.
Sentou-se no sofá com ela no colo e não tardou para ela adormecer.
Juliette subiu e foi deitá-la na cama e depois desceu com o tabuleiro de seu almoço.
Lavou os pratos que estavam sujos, limpou a bancada da cozinha, fez um café que levou para o jardim onde ficou a apanhar um pouco de sol.Rodolffo estava deitado no sofá. Nunca eles tinham tido um domingo assim tão silencioso. Habitualmente faziam coisas com a filha e quando ela dormia eles aproveitavam para namorar.
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Permita-se Amar
Fanfic...e pela rua, lado a lado, somos muito mais que dois (M. Benedetti)