Cap. XXII

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Antes de ir para junto de Juliette passei no berçário.  O meu menino é a coisa mais linda.  Está pequenininho, mas eu sei que ele é forte como a mãe e vai sair desta.

Uma enfermeira viu-me a chorar e veio ter comigo.

- Não se preocupe, pai.  Ele está bem.  Só precisa se fortalecer.

- Eu sei, respondi.

Entrei no quarto e Juliette ainda estava adormecida.  Sentei-me de lado dela e não sei quanto tempo passou, mas falei, falei, segurando a mão dela.

...
E ainda que decidas nunca me perdoar,  amar-te-ei e aos nossos filhos até ao fim dos meus dias.

Juliette mexeu-se e lentamente começou a abrir os olhos.

- O meu bébé?  Onde está o meu bébé?

- Calma, amor.  Ele está bem, só não pode estar aqui.

- Porquê?

- É muito pequenino.  Precisa de incubadora.  Mas é um garoto guerreiro.

- Vai ficar com a Vitória.

- Não.   Fico aqui contigo.   A Vitória está com a madrinha.   A Telma foi buscá-la ao colégio.

- Juliette, não escolhemos o nome do bébé.   Precisamos colocar na pulseirinha.

- Eu escolhi.  É Miguel.

Mais uma vez ela não me incluiu num assunto tão importante como o nome do filho.  Eu mereço, mereço e dói como tudo.

- Ah, escolheste.  Miguel é bonito.

Ela voltou a dormir e eu fui de novo ao berçário.   Disse o nome e a enfermeira escreveu na pulseira do Miguel e também na incubadora.

Saí para tomar um café mas não demorei muito.  Logo regressei para perto dela.

...

Fingi que adormeci e vi ele sair.  Eu ouvi toda a ladainha dele mais cedo.  Quando ele chegou ao quarto eu tinha acabado de acordar e fechei os olhos.

Ele falou de muita coisa,  da nossa trajectória,  do quanto se arrepende e do quanto nos ama.  Palavras, porque nas acções é bem diferente.

Senti ele regressar para junto de mim e segurar a minha mão.

- Abri os olhos e pedi para me dar àgua.

- Tens aqui chá que a enfermeira trouxe.

Bebi a caneca de chá e perguntei se podia ir ver o Miguel.

- A enfermeira diz que mais tarde podes.  Agora tens que repousar.

- Juliette,  o que preciso fazer para me perdoares?

- Voltar sete meses atrás.  Podes?

- Isso é impossível.  Deve haver outro jeito.  Não vou deixar o nosso amor acabar assim. 
Por favor, perdoa-me.  Vou pedir perdão até tu cederes.

- Mesmo que eu te perdoe,  achas que a nossa vida vai ser igual?
Esquecer, eu nunca vou esquecer.  Vai ficar sempre essa nuvem negra sobre nós.

- Eu sei.  Só quero ter uma convivência saudável com a minha família.   Não quero um para cada lado.  Deixa-me tomar parte das decisões sobre o Miguel assim como fazes da Vitória.   Eu gostei do nome,  mas era para termos escolhido juntos.

- Até ao resultado do exame ele era só meu, eu tinha todo o direito de escolher sózinha.

- Não faças isso, Juliette!  A minha consciência já chega para me punir.

Levantei-me e fui até à janela.  As lágrimas corriam pela minha face mesmo fazendo esforço para contê-las.  Ela estava sendo cruel e o pior é que não lhe tiro a razão.

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