Antes de ir para junto de Juliette passei no berçário. O meu menino é a coisa mais linda. Está pequenininho, mas eu sei que ele é forte como a mãe e vai sair desta.
Uma enfermeira viu-me a chorar e veio ter comigo.
- Não se preocupe, pai. Ele está bem. Só precisa se fortalecer.
- Eu sei, respondi.
Entrei no quarto e Juliette ainda estava adormecida. Sentei-me de lado dela e não sei quanto tempo passou, mas falei, falei, segurando a mão dela.
...
E ainda que decidas nunca me perdoar, amar-te-ei e aos nossos filhos até ao fim dos meus dias.Juliette mexeu-se e lentamente começou a abrir os olhos.
- O meu bébé? Onde está o meu bébé?
- Calma, amor. Ele está bem, só não pode estar aqui.
- Porquê?
- É muito pequenino. Precisa de incubadora. Mas é um garoto guerreiro.
- Vai ficar com a Vitória.
- Não. Fico aqui contigo. A Vitória está com a madrinha. A Telma foi buscá-la ao colégio.
- Juliette, não escolhemos o nome do bébé. Precisamos colocar na pulseirinha.
- Eu escolhi. É Miguel.
Mais uma vez ela não me incluiu num assunto tão importante como o nome do filho. Eu mereço, mereço e dói como tudo.
- Ah, escolheste. Miguel é bonito.
Ela voltou a dormir e eu fui de novo ao berçário. Disse o nome e a enfermeira escreveu na pulseira do Miguel e também na incubadora.
Saí para tomar um café mas não demorei muito. Logo regressei para perto dela.
...
Fingi que adormeci e vi ele sair. Eu ouvi toda a ladainha dele mais cedo. Quando ele chegou ao quarto eu tinha acabado de acordar e fechei os olhos.
Ele falou de muita coisa, da nossa trajectória, do quanto se arrepende e do quanto nos ama. Palavras, porque nas acções é bem diferente.
Senti ele regressar para junto de mim e segurar a minha mão.
- Abri os olhos e pedi para me dar àgua.
- Tens aqui chá que a enfermeira trouxe.
Bebi a caneca de chá e perguntei se podia ir ver o Miguel.
- A enfermeira diz que mais tarde podes. Agora tens que repousar.
- Juliette, o que preciso fazer para me perdoares?
- Voltar sete meses atrás. Podes?
- Isso é impossível. Deve haver outro jeito. Não vou deixar o nosso amor acabar assim.
Por favor, perdoa-me. Vou pedir perdão até tu cederes.- Mesmo que eu te perdoe, achas que a nossa vida vai ser igual?
Esquecer, eu nunca vou esquecer. Vai ficar sempre essa nuvem negra sobre nós.- Eu sei. Só quero ter uma convivência saudável com a minha família. Não quero um para cada lado. Deixa-me tomar parte das decisões sobre o Miguel assim como fazes da Vitória. Eu gostei do nome, mas era para termos escolhido juntos.
- Até ao resultado do exame ele era só meu, eu tinha todo o direito de escolher sózinha.
- Não faças isso, Juliette! A minha consciência já chega para me punir.
Levantei-me e fui até à janela. As lágrimas corriam pela minha face mesmo fazendo esforço para contê-las. Ela estava sendo cruel e o pior é que não lhe tiro a razão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Permita-se Amar
Fanfiction...e pela rua, lado a lado, somos muito mais que dois (M. Benedetti)