Cap. IV

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Juliette voltou para casa.  A cabeça estava a mil.  Os pensamentos estavam todos desgovernados e ainda não tinha assimilado que estava grávida.

Na empresa onde trabalhava a  chefe notou algo de estranho no comportamento dela.

Era certo que últimamente por causa do irmão,  Juliette não tinha a alegria de antes, mas nunca esteve assim tão calada e por vezes eram visíveis as lágrimas nos olhos.

- Juliette, vem ao meu gabinete se fazes favor.

- Senta-te e conta-me o que se passa.

Juliette começou a chorar copiosamente.

- Eu sabia que havia alguma coisa contigo.

Contei à minha chefe tudo o que aconteceu comigo nestes últimos tempos e ela ouviu atentamente.

- Tens a  certeza que não tiveste relações com ninguém?

- Tenho.

- Só há uma explicação, e não fiques admirada pois acontece muito.

- O quê?

- O mais provável é teres sido violada pelo médico.

Juliette olhou para mim com ar assustado.

- Não pode ser verdade!

- Tens outra explicação?  Então,  é a única hipótese.

- E agora, o que faço?

- Se quiseres vou contigo à minha médica.  Depois de ouvires o parecer dela vês o que é possível fazer.

No dia seguinte fomos às duas.  Contamos tudo de novo e esperamos.
Depois dos novos exames, ela perguntou:

- A Juliette disse que na primeira vez  retirou um quisto do ovário?

- Sim.

- Algo não bate certo.  Foi há tão pouco tempo e não há vestígios  do ovário ter nada.  Na segunda intervenção fez exactamente o quê?

- Não sei.  O médico sedou-me das duas vezes.

- Houve aqui alguma coisa de anormal.  A sedação para retirar o quisto, justificava-se, mas como não há sinais de ter havido quisto,  não sei.

Quer um conselho meu?  Arranje um advogado para que ele exija a sua ficha de doente da clínica, mas não fale com ninguém para não dar tempo de alterarem alguma coisa.
Aqui há gato e grande.

Eu fiquei assustada e a minha chefe disse que ia por o jurídico da empresa a tratar do assunto.

Iara ligou-me,  mas eu resolvi não atender.
Agora já começo a desconfiar de toda a gente e da coincidência de a encontrar lá toda vez que eu ia.

Ligou novamente mais tarde e eu desculpei-me com o trabalho.
Tentei parecer o mais normal e conformada possível.

- É, Iara.  Às vezes cometemos asneiras e só depois quando vêem as consequências é que nos damos conta.

- Era gostoso pelo menos?

- Era bem parecido.  Não lembro bem da cara.

- E com a criança, como vai ser?

- Vai vir e criar-se.  Vou ser mãe e pai.

- Não ponderas dar para adopção?

- Até me passou pela cabeça.  Ainda tenho muitos meses para pensar.

- Eu podia ficar com ela.  Não lhe ia faltar nada.  O meu namorado e a avó são pessoas abastadas.

- E como justificas a criança se não engravidares?

- Hei-de dar um jeito.

- Deixa-me pensar no que quero fazer.  Quero tomar uma decisão sem influência de ninguém.  Falamos depois.

- Pensa com carinho. Tchau.

Quando Iara desligou acendeu-se uma luz na minha cabeça e tive medo do que pensei ser verdade.

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