Juliette voltou para casa. A cabeça estava a mil. Os pensamentos estavam todos desgovernados e ainda não tinha assimilado que estava grávida.
Na empresa onde trabalhava a chefe notou algo de estranho no comportamento dela.
Era certo que últimamente por causa do irmão, Juliette não tinha a alegria de antes, mas nunca esteve assim tão calada e por vezes eram visíveis as lágrimas nos olhos.
- Juliette, vem ao meu gabinete se fazes favor.
- Senta-te e conta-me o que se passa.
Juliette começou a chorar copiosamente.
- Eu sabia que havia alguma coisa contigo.
Contei à minha chefe tudo o que aconteceu comigo nestes últimos tempos e ela ouviu atentamente.
- Tens a certeza que não tiveste relações com ninguém?
- Tenho.
- Só há uma explicação, e não fiques admirada pois acontece muito.
- O quê?
- O mais provável é teres sido violada pelo médico.
Juliette olhou para mim com ar assustado.
- Não pode ser verdade!
- Tens outra explicação? Então, é a única hipótese.
- E agora, o que faço?
- Se quiseres vou contigo à minha médica. Depois de ouvires o parecer dela vês o que é possível fazer.
No dia seguinte fomos às duas. Contamos tudo de novo e esperamos.
Depois dos novos exames, ela perguntou:- A Juliette disse que na primeira vez retirou um quisto do ovário?
- Sim.
- Algo não bate certo. Foi há tão pouco tempo e não há vestígios do ovário ter nada. Na segunda intervenção fez exactamente o quê?
- Não sei. O médico sedou-me das duas vezes.
- Houve aqui alguma coisa de anormal. A sedação para retirar o quisto, justificava-se, mas como não há sinais de ter havido quisto, não sei.
Quer um conselho meu? Arranje um advogado para que ele exija a sua ficha de doente da clínica, mas não fale com ninguém para não dar tempo de alterarem alguma coisa.
Aqui há gato e grande.Eu fiquei assustada e a minha chefe disse que ia por o jurídico da empresa a tratar do assunto.
Iara ligou-me, mas eu resolvi não atender.
Agora já começo a desconfiar de toda a gente e da coincidência de a encontrar lá toda vez que eu ia.Ligou novamente mais tarde e eu desculpei-me com o trabalho.
Tentei parecer o mais normal e conformada possível.- É, Iara. Às vezes cometemos asneiras e só depois quando vêem as consequências é que nos damos conta.
- Era gostoso pelo menos?
- Era bem parecido. Não lembro bem da cara.
- E com a criança, como vai ser?
- Vai vir e criar-se. Vou ser mãe e pai.
- Não ponderas dar para adopção?
- Até me passou pela cabeça. Ainda tenho muitos meses para pensar.
- Eu podia ficar com ela. Não lhe ia faltar nada. O meu namorado e a avó são pessoas abastadas.
- E como justificas a criança se não engravidares?
- Hei-de dar um jeito.
- Deixa-me pensar no que quero fazer. Quero tomar uma decisão sem influência de ninguém. Falamos depois.
- Pensa com carinho. Tchau.
Quando Iara desligou acendeu-se uma luz na minha cabeça e tive medo do que pensei ser verdade.

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Permita-se Amar
Fanfiction...e pela rua, lado a lado, somos muito mais que dois (M. Benedetti)