Cap. XVI

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Rodolffo parou de rir e começou a ficar agitado andando de um lado para o outro.  Eu olhei para a avó Isabel e foi a minha vez de rir.

- Vem ajudar-me a trocar de roupa e vamos para a clínica.

- Qual trocar a roupa?  Vamos já e assim mesmo, disse Rodolffo.

- Deixa de ser apressado.  Nem tenho dores.  Vou tomar um duche, troco de roupa e depois vamos.

Rodolffo ajudou-me para ser mais rápido e pouco tempo depois dávamos entrada na clínica.   A dra  Celina já estava à nossa espera.

Feita a avaliação,  a criança estava pronta para nascer.  Nem foi preciso muito.  Por pouco não dava tempo de eu vestir o equipamento e me juntar à Juliette.

Juliette fez força duas ou três vezes para ajudar e Maria Vitória  logo estava cá fora sobre o peito dela.

- Eita, Rodolffo!!! Eu carrego ela por 9 meses e ela vem igualzinha a ti?  Sério isso, filha?

- A boquinha é tua.

- Ao menos isso, né?

- Saiu à parte mais linda da família.  É assim mesmo, princesa.

- E a mais modesta, também.

- Também és linda, meu amor.  A minha rainha.

- Agora não vale.  Magoei.

Levaram a menina e eu tive que sair.  Aproveitei para ligar para a avó e para Telma a patroa da Juliette.   Já havíamos convidado ela para ser madrinha da nossa Maria Vitória.

Saímos da clínica dois dias após o parto.  A avó Isabel estava radiante com a bisneta.  Eu deixava-a participar em tudo o que ela quisesse.

Hoje ela confidenciou-me que tinha quase a certeza de não a ia ver crescer.

Eu tentei que ela afastasse esses maus pensamentos, mas ela disse que estava muito feliz.

- Ver o meu neto feliz,  ter o privilégio de conhecer a bisneta era tudo o que sempre sonhei.  Quando Deus me quiser levar eu estarei pronta, pois sei que cumpri o meu propósito.

Não tenham pena de mim, Juliette.  Eu partirei a qualquer altura,  mas irei feliz.  Só peço que sejam amigos e conversem sempre que houver divergências.  Os relacionamentos são assim mesmo.  Só sobrevivem se houver muita conversa.

Eu não contei esta conversa ao Rodolffo pois sei que vai ser muito doloroso para ele.  A avó foi a mãe que não teve, por isso são tão apegados.

Ainda ficou mais cerca de um mês connosco.   Numa manhã quando não desceu à hora normal, Rodolffo foi encontrá-la no seu sono eterno.  A seu lado estava o porta retrato de Rodolffo com os pais e um outro nosso onde tínhamos recriado a mesma cena e que lhe tínhamos oferecido havia poucos dias.

Estranhando nenhum dos dois descer subi e fui encontrá-lo abraçado a ela e a chorar.  Não era um choro desesperador, Rodolffo chorava silenciosamente.

Quando entrei, deixou-a na cama e veio abraçar-se a mim.

Tirei-o do quarto, liguei para a agência funerária e tratei de tudo por ele.  Durante este processo, Rodolffo não saiu do quarto de Maria Vitória.

Hoje prestamos homenagem a uma mulher guerreira que sempre tinha uma palavra de conforto para todos.

Enquanto o caixão ia sendo coberto de terra, Rodolffo jogou sobre ele um buquê de rosas brancas e abraçado a Juliette dirigiram-se a casa de Telma para irem buscar a filha.

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