Cap. XX

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Não tivemos outra conversa depois desse dia.  Limitámos o nosso diálogo a um bom dia, boa tarde e pouco mais.

Juliette passou a dormir no quarto de hóspedes, apesar da minha insistência para trocar com ela.

Já tinha feito a coleta para novo exame a aguardava os resultados,  mas hoje resolvi ir procurar o relatório antigo.

Eu estava no meu escritório e sobre a secretária havia vários papeis incluindo o relatório.

Dobrei os braços sobre a secretária,  deitei a cabeça sobre eles e chorei copiosamente.  Peguei no pisa papeis de vidro que tinha ali à mão e joguei-o para longe indo cair sobre uma mesinha de vidro que ficou toda estilhaçada.

Juliette veio a correu ao ouvir o barulho.   Abriu a porta e viu o estrago.  Olhou para ele e reparou nos olhos vermelhos.

- Que foi?

- Rodolffo pegou no relatório e apontou para a assinatura.

- Juliette olhou e abanou a cabeça.  O relatório vinha acompanhado do parecer do tal obstetra.

- É falso de certeza.  E o que um obstetra tem a ver com exame de esperma?  Realmente foste tão manipulado pela Iara.

Ele permanecia com a cabeça deitada na secretária e nada dizia.

Juliette começou a limpar os vidros partidos.

- Deixa estar isso que eu limpo.  Podes magoar-te.

Juliette deixou-o sózinho.  Tinha muito que pensar e analizar. 
Que mais havemos de descobrir daquela trambiqueira?

Os erros dela não ilibam ele dos seus.
Foi ele quem ousou duvidar de mim e nem disfarçou.

Rodolffo foi buscar o resultado dos exames e não estava mais animado do que antes.
Chegou a casa e entregou o envelope a Juliette,  mas esta pousou-o sobre a mesa.

- Qualquer resultado que esteja aí não muda nada.

- Nunca me vais perdoar?

- Nunca vou esquecer.

- Pois eu vou tentar até ao fim dos meus dias.  O estrago foi grande, mas eu não perco a minha família.

A partir daquele dia, Rodolffo tentava a todo o custo aproximar-se de Juliette,  mas ela não dava abertura.

Juliette ponderou deixar aquela casa, mas havia a Maria Vitória.  Ela não queria afastá-la do pai.

O amor por ele não tinha morrido e por isso era difícil viver ali naquelas condições.

Lembrava-se da gravidez da filha e de quanto foi mimada naquela época.   Desta vez nem um carinho na barriga teve e as fotos muito menos.

Culpa dele, não.  Culpa dela que não deixava.  Se fosse da vontade dele passava uma borracha sobre o assunto e começava de novo.

Ao lembrar disto não conteve as lágrimas e foi a chorar que Rodolffo a encontrou a cozinhar.

Teve vontade de a abraçar, mas ela sempre o repelia e nem ousou fazê-lo.
Começou a por a mesa para ajudá-la.

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