Capítulo 3

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O sol era abrasador.   Este Verão veio em força.  A horta necessitava de rega diária ou as verduras depressa se tornariam amarelas.

O meu pai acordava bem cedo para chegar a àgua aos pés de alface, tomate, pepinos e pimentos.  Os melões e melancias estão quase maduros.

Os meus pintos já estão uns frangos bem grandes.  Tenho algumas galinhas poedeiras que me garantem ovos suficientes para consumo e fazer algum agrado a um ou outro vizinho.

Estamos a meados de Julho.  Por essas aldeias fora já se começam a ver chegar os emigrantes para as suas férias. 

Nos supermercados da cidade a azáfama para comprar é grande.  Cada um dentro das suas posses tenta comprar aquilo que os seus filhos, irmãos, e outros parentes, mais apreciam.  É preciso rechear a despensa porque serão muitas bocas a comer e não queremos ninguém com fome.

Na minha casa não esperamos ninguém.   Sou filha única e os meus pais também eram.  Tudo o que temos foi herdado dos meus avós que se mataram a trabalhar para comprarem estes hectares de terra que hoje chamamos de nosso.

Já soube que os nossos vizinhos vêem este ano.  Lembro-me vagamente deles e do filho que gostava de mangar do meu cabelo.

A casa deles está abandonada há anos.  Ao redor crescem as ervas.  Talvez esta semana, se puder, eu peça ao Guilherme que me ajude a roçar o mato.  Assim quando chegarem pelo menos conseguem entrar em casa.

Montei uma estufa num cantinho da propriedade.  Sempre gostei de flores e quero cultivar algumas espécies.  Já tenho tulipas, açucenas e violetas semeadas.
Não sei se vão nascer, mas vale tentar.  Tenho também um cantinho de suculentas, mas essas nem dão muito trabalho.

- Ó Juliette,  gritava o Guilherme.

- Que foi, homem?  Que gritaria é essa?  Parece que vais tirar alguém da forca.

- Pensei que não estavas.  Andamos a fazer o peditório para a festa.  Vá, bota cá uma nota que bem precisamos.

- Olha lá.  E quem vem cá cantar este ano?  Ainda não vi os cartazes.

- É o grupo das comadres.

- Bem!  Com esse nome não há-de prestar para nada.   Vede lá que se a música não prestar, o povo vai-se embora cedo e depois não fazeis dinheiro na cerveja e nas bifanas.

- Dizem que é bom.  Não sei que nunca os ouvi.

- Toma lá a notita e vai bater a outra porta.  O povo tem sido mãos largas?

- Oh!  Alguns.  Outros, coitados.   Tomaram eles que lhes dessem a eles.

- Ah, mas sempre dão alguma coisa!

- Sim.  Até agora ninguém se recusou.

Guilherme saiu e eu voltei aos meus afazeres. 

A minha mãe e todas na aldeia  tinham por hábito nesta altura da festa, arear todos os tachos de alumínio que estavam expostos numa das paredes da cozinha.

Os meus há muito que estavam guardados num armário que comprei quando reformei a cozinha.

Apenas alguns adereços de cobre eram visíveis mas sómente como decoração.

A minha mãe sentia saudades dessas tradições, mas ela não tinha já força para isso e eu não tinha era vontade e tempo.

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