Eu e Rodolffo sentámos num muro antes de chegar a casa. Ele precisava disfarçar o álcool que tinha ingerido.
- Os meus pais nunca me viram alcoolizado. Eu raramente bebo.
- Já passa, mas se não começares a recusar, vai ser assim todos os dias.
- Nem pensar. Vou fazer como tu. Só àgua.
- Conta-me a tua vida lá no Luxemburgo.
- Não há muito para contar. Formei-ne há dois anos e comecei logo a trabalhar num dos hospitais. O meu dia a dia é trabalho casa, casa trabalho.
- E diversão nada? Conta outra Rodolffo. Um jovem bem parecido como tu deve ter resmas de raparigas à volta.
- Sou bem parecido, é? Não tenho não. O meu foco sempre foi a faculdade e agora o trabalho. Tive uns namoricos, mas nada sério. E tu?
- Aqui metida neste fim de mundo é difícil. Estou à espera do meu príncipe que chegue num cavalo branco.
- Aqui na terra não há ninguém?
- Até havia, mas já desistiu.
- Porquê?
- Porque eu gosto dele como amigo, apenas.
- Quem é?
- O Guilherme. Aquele que veio cumprimentar-te primeiro.
- Parece ser boa gente.
- Sim. Ajuda-me bastante, mas é só meu amigo.
- A amizade pode virar amor.
- Não neste caso. Não tenho qualquer interesse. Prefiro estar solteira.
- À espera do príncipe?
- Quem sabe, ou do sapo que vira príncipe.
Estivemos ali quase uma hora. Quando chegámos a minha casa, os nossos pais ainda estavam à conversa no alpendre.
- Ainda aí?
- Temos a conversa atrasada 20 e tal anos.
- Juliette, minha filha! Vê o que vamos fazer para jantar. Os vizinhos jantam também.
- Não queremos incomodar. Já almoçámos!
- Não é incómodo. Amanhã tratam das coisas que vos falta em casa. Hoje são nossos hóspedes.
Acordei no dia seguinte com um dia ensolarado.
A minha mãe já tinha ido comprar alguns alimentos à pequena mercearia da aldeia. Senti o cheiro do café e fui até à cozinha.
Comi um pãozinho com queijo e uma chávena de café.
Voltei para o meu quarto e sentei-me na pequena varanda que dava para a quinta da Juliette.
Fiquei a apreciar a paisagem e ao longe vi um trator que lavrava um pequeno pedaço de terra.Esfreguei os olhos para poder ver melhor. Em cima do trator, lá estava ela, manuseando a máquina com muita mestria.
Soltei um assobio, coisa que eu fazia bem desde criança, e ela logo me acenou.
Vesti uma roupa desportiva pois pensava ir ter com ela, mas minha mãe estragou-me os planos. Era preciso ir a Macedo fazer compras que não tinha encontrado na mercearia.
- Contrariado, sem demonstrar, lá fui eu e a minha mãe fazer as benditas compras.