Nos dias após a partida de Rodolffo, Juliette dedicou-se exclusivamente ás tarefas na quinta.
Saía de casa, apenas para ir à pequena mercearia comprar alguns bens que precisasse.
Chegou à entrada e ainda ouviu alguém dizer.
- Estiveram em pecado estes dias todos e agora ele abandonou-a e foi embora.
- Não digas essas coisas. Ninguém tem nada com a vida dela. A Juliette sempre foi ajuizada.
- Ninguém com juízo mete um homem em casa.
Eu entrei e elas calaram-se.
- Podem continuar a dizer mal que eu não estou nem aí. Não são vocês que pagam as minhas contas. Nunca vos fui pedir um prato de sopa.
A senhora Isilda alguma vez me deu um pão? Pagou uma conta de àgua ou luz? Uma carrada de lenha? Uma garrafa de gás?
Não, pois não? Então meta-se na sua vida. Não tem que fazer, vá coser umas meias.- Não disse por mal. É só porque todos falaram do teu vizinho. Ele está lá no estrangeiro e só se quer aproveitar de ti.
- Todos não, tia Isilda. Eu só ouvi da sua boca, - disse a dona do estabelecimento.
- Deixe. Ela deve ter dor de cotovelo.
Olhe arranje um bitcharolo para si e deixe os outros em paz. Isso é falta.- Tu respeita-me que eu tenho idade para ser tua avó.
- Respeito sim. Com o mesmo respeito que tem comigo. Meta-se na sua vida.
- Duda, dê-me 500 grs de café, 100 de colorau e um detergente para a loiça.
A Isilda saiu, eu paguei as compras e saí atrás dela indo para casa.
Passei no café e tomei um café com um pastel de nata.
Guilherme aproximou-se de mim.
- Como estás?
- Irritada. Há gente que gosta de atazanar a vida dos outros.
- Até imagino o que foi!
- Se vais opinar também é melhor guardares a tua opinião. Não quero saber.
- Não vou, mas não gosto. Ele vem usa e vai embora.
- E depois? Alguém perguntou se eu gosto assim? Cambada de frustrados.
- E como fica a tua reputação?
- E quem está preocupada com isso?
- Sabes que na aldeia isso conta muito.
- Se eu estivesse preocupada tinha ido com ele, mas já que toda a aldeia está preocupada, onde é que achas que devo deixar as minhas contas para pagar?
Se cada um dos preocupados pagar uma conta, isso sim, é motivo de falação.
Quanto devo Céu? Ou achas melhor deixar para alguém pagar?
- É assim mesmo, Juliette. Manda todos se f@derem e não ligues.
- E ele é um belo pedaço, diz-me Céu ao ouvido.
- E é todo meu, respondi com um sorriso enquanto ia saindo para regressar a casa perante o olhar de Guilherme que não ousou dizer mais nada.