Eram 16 horas quando Rodolffo telefonou.
- Correu bem, a viagem? E o Guilherme, foi?
- Sim. Ele foi. Correu tudo bem. A minha mãe está na mesma.
- Vou embarcar daqui a pouco. Ligo-te à chegada. Fica bem, amor. Um beijo.
E todas as noites Rodolffo fazia questão de ligar. Às vezes também de dia, dependendo do plantão.
Já tinha uma semana que ele tinha ido embora e hoje veio até aqui a Marta.
- Juliette! Eu queria falar com Rodolffo, mas ele não me deu o número dele. Podias dar-mo tu?
- Se o meu namorado não te deu, não sou eu que vou dar.
- Namorado? Que novidade! A mim ele disse-me que era solteiro.
- E é. Eu sou a namorada, não a esposa. E o que queres dele?
- Combinar com ele, porque no próximo mês tenho uma viagem programada e passo pela terra dele.
- Infelizmente não posso fazer nada. Vais ter que te desenrascar de outro modo.
- Não custava nada!
- Não tenho por hábito facultar números de telefone de terceiros para ninguém. Se ele me autorizar eu posso dar.
- Fala com ele. Eu ainda fico cá mais uma semana.
Os dias foram passando. A minha mãe não tinha melhoras e o meu pai definhava de dia para dia.
Queria a toda a força ir vê-la e eu acabei por lhe revelar o verdadeiro estado de saúde dela.
Ele pediu mais uma vez. Queria despedir-se porque sentia que a separação definitiva estava para breve.
Estávamos nos finais de Outubro. Ontem levei meu pai mais uma vez ao hospital ver a minha mãe. Mais uma vez ele veio de lá abatido e sem querer conversar.
Não quis jantar. Já era hábito. Eu depois dáva-lhe o leite com a medicação e ele assim ficava até o café da manhã.
Saí de casa cedo para dar de comer aos poucos animais que tinha. Por volta das 10 horas da manhã regressei para tomar café com o meu pai. Passei na quarto dele e chamei-o.
Voltei à cozinha e como ele não aparecia, fui buscá-lo.- Levanta pai! Olha as horas.
Como ele não se moveu, fui até junto dele só para confirmar que ele tinha partido. Morreu durante o sono.
Olhei para o seu rosto e parecia-me sereno.
Fui até casa da vizinha e contei pedindo ajuda.
Logo se juntaram alguns vizinhos na frente da minha casa.Eu estava desolada e assim que soube logo veio Guilherme que tratou do contacto da agência funerária.
Com a agência veio também o médico e ao principio da tarde já tinham levado o corpo dele para ser preparado para o velório.
Sentia o mundo desabar aos meus pés, mas se tudo estava mau, haveria de piorar.