Nos dias que se seguiram não consegui estar com a Juliette. Eu vi-a trabalhar na quinta, mas a minha mãe logo me dava uma tarefa para fazer.
A casa há muito desabitada, precisava de reparações e o que pareciam férias tornou-se simplesmente trabalho.
Consertei o muro, a cerca, lixei e envernizei. Uma data de coisas sem esquecer o jardim.
Daqui a dois dias é a festa da aldeia e a casa deve estar impecável. A minha mãe começou os preparativos da confecção dos doces tipicos. Folares, esquecidos, económicos, rosquilhas, filhoses e outros. Um camião de açúcar, mas como dizem por cá, é só de vez em vez.
Eu estou ansioso pela festa. Vai ter arraial e eu quero muito dançar com a Juliette.
Nos últimos dias ela tem povoado os meus pensamentos.Dou comigo a pensar como seria a minha vida aqui na aldeia. Habituado e criado na grande cidade não sei se me adaptaria a viver aqui.
...
Estou aqui a ajudar a minha mãe a amassar uns bolos para a festa, mas o meu pensamento está distante.
- Juliette, passa aí o azeite.
- Juliette, passa aí o azeite.
- Juliette!!!
- Desculpa mãe. Queres o quê?
- O azeite.
O que se passa Juliette. Noto que tens andado mais distraída.- Ah, mãe. Deixa. Não é nada.
- Eu sei. É um tal vizinho, não é?
Podes abrir-te comigo. Eu reparo nos olhares que deitas para casa deles à espera de o veres.- Faz uma semana que não falamos.
- Tu não largas o trator e ele tem andado a ajudar os pais. Gostas dele?
- Conheço-o há tão pouco tempo. Logo ele regressa ao Luxemburgo e nem vai lembrar-se que eu existo.
- Aproveita a amizade dele enquanto está cá. Nunca sais daqui. Às vezes devias sair mais e conhecer pessoas.
Amanhã é a festa. Aproveita e deixa andar.Olha vai lá à mãe dele e pergunta se ela tem um kg de açúcar a mais que eu ainda quero fazer um pudim.
- Gastaste o açúcar todo que eu comprei?
- É. Só ficou ali um tantinho.
Juliette saiu e foi bater à porta da vizinha. Rodolffo veio abrir e convidou-a para entrar.
- A tua mãe?
- Não está. Espera um pouco que ela não demora.
- O que tens feito. Desapareceste.
- Desapareci nada. Tenho tido muito trabalho aqui em casa e não tenho andado bem.
- O que tens?
- Deixa. Coisas minhas. Conflitos existenciais.
- Do nada, ou já é antigo?
- Sempre fui muito seguro, mas nos últimos dias tudo mudou.
- Que aconteceu?
- Uma certa morena que não me sai do pensamento.
- Deixa-te de brincadeiras. Conta lá.
- Pronto! Agora é brincadeira. É sério. Deito-me e acordo a pensar em ti.
Felizmente ou infelizmente a mãe dele chegou naquele preciso momento. Peguei no açúcar que ela me deu e saí dali.
Mais tarde
- Camila!
- Diz Rosarinho.
- Toma lá o açúcar que eu não preciso dele.
- Mas a Juliette diz que precisavas para o pudim.
- Eu tenho açúcar, mas ela anda agoniada porque não via o teu Rodolffo há dias. Eu sabia que ele estava sózinho porque vi-te sair.
Não penses que eu quero atirá-la para ele. Só que ela não tem amigos e já gosta muito dele.- E ele dela. E se eles se entenderem eu faço muito gosto.