Capítulo 8

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Nos dias que se seguiram não consegui estar com a Juliette.   Eu vi-a trabalhar na quinta, mas a minha mãe logo me dava uma tarefa para fazer.

A casa há muito desabitada, precisava de reparações e o que pareciam férias tornou-se simplesmente trabalho.

Consertei o muro, a cerca, lixei e envernizei.  Uma data de coisas sem esquecer o jardim.

Daqui a dois dias é a festa da aldeia e a casa deve estar impecável.  A minha mãe começou os preparativos da confecção dos doces tipicos.  Folares, esquecidos, económicos, rosquilhas, filhoses e outros.  Um camião de açúcar, mas como dizem por cá, é só de vez em vez.

Eu estou ansioso pela festa. Vai ter arraial e eu quero muito dançar com a Juliette.
Nos últimos dias ela tem povoado os meus pensamentos.

Dou comigo a pensar como seria a minha vida aqui na aldeia.  Habituado e criado na grande cidade não sei se me adaptaria a viver aqui.

...

Estou aqui a ajudar a minha mãe a amassar uns bolos para a festa, mas o meu pensamento está distante.

- Juliette,  passa aí o azeite.

- Juliette,  passa aí o azeite.

- Juliette!!!

- Desculpa mãe.  Queres o quê?

- O azeite.
O que se passa Juliette.   Noto que tens andado mais distraída.

- Ah, mãe.  Deixa.  Não é nada.

- Eu sei.  É um tal vizinho, não é?
Podes abrir-te comigo.  Eu reparo nos olhares que deitas para casa deles à espera de o veres.

- Faz uma semana que não falamos.

- Tu não largas o trator e ele tem andado a ajudar os pais.  Gostas dele?

- Conheço-o há tão pouco tempo.  Logo ele regressa ao Luxemburgo e nem vai lembrar-se que eu existo.

- Aproveita a amizade dele enquanto está cá.  Nunca sais daqui.  Às vezes devias sair mais e conhecer pessoas.
Amanhã é a festa.   Aproveita e deixa andar.

Olha vai lá à mãe dele e pergunta se ela tem um kg de açúcar a mais que eu ainda quero fazer um pudim.

- Gastaste o açúcar todo que eu comprei?

- É.  Só ficou ali um tantinho.

Juliette saiu e foi bater à porta da vizinha.  Rodolffo veio abrir e convidou-a para entrar.

- A tua mãe?

- Não está.  Espera um pouco que ela não demora.

- O que tens feito.  Desapareceste.

- Desapareci nada.  Tenho tido muito trabalho aqui em casa e não tenho andado bem.

- O que tens?

- Deixa.  Coisas minhas.  Conflitos existenciais.

- Do nada, ou já é antigo?

- Sempre fui muito seguro, mas nos últimos dias tudo mudou.

- Que aconteceu?

- Uma certa morena que não me sai do pensamento.

- Deixa-te de brincadeiras.  Conta lá.

- Pronto!  Agora é brincadeira.  É sério.  Deito-me e acordo a pensar em ti.

Felizmente ou infelizmente a mãe dele chegou naquele preciso momento.  Peguei no açúcar que ela me deu e saí dali.

Mais tarde

- Camila!

- Diz Rosarinho.

- Toma lá o açúcar que eu não preciso dele.

- Mas a Juliette diz que precisavas para o pudim.

- Eu tenho açúcar, mas ela anda agoniada porque não via o teu Rodolffo há dias.  Eu sabia que ele estava sózinho porque vi-te sair.
Não penses que eu quero atirá-la para ele.  Só que ela não tem amigos e já gosta muito dele.

- E ele dela.  E se eles se entenderem eu faço muito gosto.


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