Cheguei em casa. Meu pai estava deitado no sofá. Contei que a mãe tinha sofrido um enfarte, mas não contei a gravidade do mesmo.
- Deus me leve primeiro que ela. Eu não quero ficar cá sem ela.
- Não digas isso, pai. A mãe vai curar-se, vais ver.
Eu dizia isto para animar o meu pai, mas no meu íntimo eu tinha a sensação que ela logo partiria.
- Tu comes-te, pai?
- Almocei na casa da vizinha. Não tenho fome, acho que me vou deitar.
- Mas são cinco horas da tarde. Vou fazer um chá e uma torrada para comeres e depois deitas-te.
- Ainda é cedo para tomares os remédios do jantar. Depois eu acordo-te e tomas.
Quando Rodolffo entrou em casa depois de deixar Juliette, contou aos pais a situação de Rosarinho e saiu.
Foi até ao café, perguntou por Guilherme e disseram-lhe que devia estar em casa.
- Boa tarde Guilherme. Desculpa incomodar-te. Queria pedir-te um favor.
- Diz. O que eu puder eu faço.
Contei-lhe a situação da mãe de Juliette.
- Queria pedir-te se amanhã ias com ela para trazer o carro. Ela não está bem e a conduzir sozinha pode ter algum acidente.
- Já vais amanhã para o Luxemburgo?
- Vou. Logo agora, acontece isto.
- Sabes a que horas ela vai?
- Ela disse que ia no autocarro das 11 horas.
- Está bem. Eu vou ter à Avenida e espero por ela.
- Olha, que não te pareça mal, vou deixar-te algum dinheiro para as despesas.
- Parece-me mal sim. Não é preciso. Graças a Deus, não sou rico mas vivo desafogado.
- Obrigado Guilherme. Até um dia. Trata bem da minha namorada.
- Eu sabia. Faz boa viagem até ao Luxemburgo.
Despediram-se com um abraço e Rodolffo voltou para casa.
Juliette estava sentada no alpendre, ouviu o portão dele e foi espreitar.
Ele disse que ia a casa e já ia ter com ela.
- Mãe, tens tudo pronto? Podemos por já as malas no carro?
- Podemos sim. Está tudo arrumado.
Depois de ter carregado o carro e verificar se não ficava nada para trás disse que ia ficar com Juliette.
- Não jantas?
- Não tenho fome.
- Leva o jantar e come lá com ela e com o pai. Ele não comeu quase nada ao almoço.
Rodolffo chegou e colocou o jantar em cima da bancada da cozinha.
- O teu pai já jantou?
- Deitou-se cedo. Daqui a pouco vou acordá-lo para lhe dar a medicação.
- Então vamos jantar os dois.
- Eu não tenho fome.
- Eu não jantei para jantar contigo. Anda lá.
Depois de terminarem Juliette aqueceu um copo de leite e foi dar a medicação ao pai.
- Bebe o leite todo. Ajuda-te a dormir.
Juliette regressou à cozinha e Rodolffo já tinha lavado os pratos. Fizeram café e foram para o alpendre.
- Não estejas triste. A tua mãe vai sair desta.
- Tu ouviste o médico falar.
- Mas temos que ter fé e esperança.
- Fica comigo esta noite.
- O teu pai?
- Ele não acorda. O comprimido que toma fá-lo dormir toda a noite.
- Eu tinha planeado um dia diferente para nós, mas é o que é.
- Estraguei tudo, não foi? Querias fazer o quê?
- Queria pedir-te para seres minha namorada, mas de maneira diferente. Ainda quero, mas eu percebo que não tenhas espírito para isso.
- Queres ser namorado à distância?
- Quero. Não é fácil, mas eu quero, e tu?
- É o que mais quero.
Rodolffo tirou do bolso duas alianças que tinha ido comprar no início da semana e colocou no dedo dela e depois ela no dele.
De seguida deram um beijo e ela levou-o pela mão até ao seu quarto.