Faz tempo que ninguém passa nesta rua.
A história passa-se numa pequena aldeia, Chacim, no interior norte do País, chamado Portugal.
Os jovens há muito que partiram. Uns para Lisboa e Porto e outros, os mais aventureiros para França Suíça ou Luxemburgo.
Os mais velhos que por cá ficaram, ou morreram ou acabaram em casa dos filhos nas cidades grandes.
Salva-se o mês de Agosto em que muitos emigrantes regressam à terra para uns dias de férias e para matar saudades dos poucos familiares que ainda por aqui residem.
É muito raro ver um jovem que contrariou as tendências e ficou no local onde nasceu.
Oportunidades de emprego são escassas, locais de diversão, nenhum. Até para uma simples compra de uma peça de roupa é necessário percorrer kilometros até à cidade mais próxima, geralmente a sede do concelho.
Os bens essenciais são adquiridos no pequeno estabelecimento do casal por vezes com mais de 70 anos. Carne, peixe, fruta e hortaliças, têm dias certos. Toda a semana vem uma carrinha vender porta a porta. O padeiro é igual, mas este passa todos os dias com pão fresco e bolos.
Juliette, moça fina e educada, formada na faculdade de Agronomia de Vila Real, decidiu contrariar a tendência e assim que se formou decidiu ficar junto dos pais já com certa idade.
Na quinta da família, plantou algumas àrvores de fruto fez uma pequena horta e assim passava os dias.
Hoje investe numa espécie em expansão. A cultura dos frutos secos está em alta e ela decidiu plantar uma boa àrea de amendoeiras, nogueiras e castanheiros. Ficarão as aveleiras para outra altura.O pai ainda dá algum auxílio, mas as forças já são fracas e Juliette recorre por vezes a pessoas das aldeias vizinhas quando na sua não consegue ninguém para um ou outro trabalho mais específico.
Parte das economias ela investiu num pequeno trator que manipulava muito bem. Ele permitia lavrar a terra sem muito esforço e sem precisar de muita mão de obra.
Juliette era querida por todos. Moça bonita, estudada, podia estar numa cidade grande com emprego das 9 às 5, mas que preferiu viver com as mãos sujas de terra.
Sempre com um sorriso nas lábios e uma palavra de conforto, largava tudo para acudir a quem dela precisasse.
O mesmo acontecia quando ela precisava.
Hoje o Ti Zé veio ajudá-la a construir um galinheiro.Havia ganho uns pintecos já grandinhos e não tinha onde os por.
Ti Zé gostava muito dela pois lembrava-lhe a filha que tinha partido cedo de mais. Dizia ele que se fosse viva seria igualzinha.
Belita também só estava bem quando andava embuldrigada no lodo.----------‐‐---------------–-----------------------------
N/AEstá história por vezes terá palavras que alguns não entenderão por serem usadas exclusivamente naquela região onde a autora nasceu.
Sintam-se à vontade para tirar dúvidas.Pintecos = pintos (filhote de galinha)
Embuldrigada = suja, enlameada
Lodo = lama