Mine maratona 1/4
Olho para a minha filha enquanto dorme, e me sento na minha cama. A dor que eu sinto em meu corpo é suportável por conta dos remédios, eles tiraram grande parte da dor, mas não é cem por cento.
É tão injusto com a minha Emília perder toda a sua juventude, todas as oportunidades de estudar, de ter um bom trabalho para cuidar de mim, me acompanhar no médico e exames. Minha menina já caiu tantas vezes da cadeira exausta depois de passar dias e dias sem descanso, cuidando de mim no hospital e ainda não ter um lugar adequado para dormir.
O câncer nos ossos me causa grandes dores e dependendo da forma que as pessoas me tocarem ou tentam me mover pode doer de forma insuportável, e as enfermeiras não têm tempo e paciência para me mover com o devido cuidado. A dor chega a ser dolorosa até mesmo na hora do banho e eu sabia que minha filha, ao ver toda situação acabou por largar tudo e passou a cuidar de mim.
Quando estou internado Emília que cuida de mim a única coisa que o pessoal da enfermagem faz é me medicar e ainda assim minha filha olha e anota todos os remédios que são aplicados em mim, ela morre de medo de me darem uma medicação errada e me matarem e acreditem acontece mais do que podemos imaginar.
Os anos foram passando e mesmo com o nítido cansaço do peso do mundo em suas costas, minha garotinha segue forte, ela arrumou uns paqueras aqui e ali, mas nada que durasse muito os caras não conseguem lidar com o ritmo da nossa vida e eu sei que o culpado da minha filha permanecer solteira sou, eu ninguém quer se casar já tendo obrigações com um sogro doente e por mais que me doa a verdade é que eu sou um estorvo na vida dela.
Emília tem trinta anos, mas posso ver os traumas que é passa a vida cuidando de um doente, a minha filha não tem amigos e nem tem tempo de conhecer alguém porque a vida dela sou eu e cuidar de mim, ela não sai porque eu posso passar mal enquanto estou sozinho, ela se refugia nos programas de TV e nas músicas do grupo de coreanos que ela gosta.
Então saber que o doutor Renan, um homem bom que vem cuidando de mim por tantos anos que sabe das limitações dela e entendi o que ela passa, e ainda assim a quer me deixa tão feliz, ela merece ser feliz e eu sei que estou morrendo cada dia, eu me sinto pior e sei que ela não quer me contar e acaba sofrendo com isso.
Não sei se tenho meses ou pelo menos um ano de vida, mas sei que a minha hora está chegando e meu único medo é que vou deixar minha menina sozinha e indefesa nesse mundo, ela já sofreu tanto não quero que termine caindo nas mãos de um aproveitador, de um abusador que vai fazê-la sofrer mais do que já sofreu, isso é tão injusto.
Meu amigo Carlos me ajudou a fazer um seguro de vida no valor de um milhão, isso já tem anos Emília nem sabe que essa apólice existe, essa é uma garantia para que ela tenha como pagar uma faculdade e tenha como sobreviver depois que eu morrer. Ela faz unha muito bem que dá um dinheirinho bom, mais do que as pessoas imaginam, pena que não consegue ter uma clientela fixa por minha conta, então sei que de fome ela não morre já que meu aposento ela infelizmente vai perder.
Também tenho um seguro funeral que vai resolver tudo, minha menininha vai estar muito abalada para lidar com esse tipo de coisa, a funerária vai resolver tudo.
Deito novamente e oro baixinho pedindo a Deus que ela tenha forças para seguir sozinha quando a minha hora chegar, que ele prepare uma pessoa boa que a ame de verdade e cuide dela que a faça muito feliz porque ela merece. Me assusto quando o celular dela apita a garota levanta da cama parecendo uma bala que nem percebe que eu estou acordado, olho no meu próprio celular e vejo que não é hora do meu remédio e que já passa das duas da manhã.
Me arrasto com calma até a minha cadeira e vou até a porta, escuto ela falando com um homem em inglês e essa voz não é do doutor Renan, tenho medo da Emília se envolver com esses doidos da internet, abro a porta do quarto e vejo que ela está no outro quarto onde ela usa como estúdio de unha, vou até lá com calma ela sorri, não entendo nada do que ela está falando com esse dito cujo mas ela está feliz por falar com ele que nem me ver chegando atrás dela, mas o cara vê e fala algo e então ela se vira.
- Paizinho, o que faz acordado? – Ela pergunta sem graça e eu olho para o celular na mão dela.
- Quem é esse? – Pergunto e ela olha para o celular, o cara fala algo para ela que eu não entendo nada então ela levanta o telefone e me mostra, olho bem para o desgraçado, então olho para as fotos que ela tem em quadros que comprou com muito carinho para os coreanos dela, eu já vi vídeo desse safado cantando de mais para não reconhecer.
Dou mais uma conferida nele no celular e outra nas fotos para ver se estou enxergando direito, porra deixei meus óculos lá na cama.
- É um sósia do Hyun? – Pergunto e ela ri e fala algo em inglês e ele ri também.
- É o Hyun papai – Tomo o celular da mão dela e olho bem para o branquelo que acena com a mão para mim.
- Ganhou um sorteio? – Pergunto e ela ri de novo.
- É uma longa história paizinho, mas o senhor não pode contar para ninguém e ninguém é até mesmo para o seu Carlos, que eu converso com o Hyun, me entende.
- Por acaso eu sou homem de fofoca? – Pergunto e ela sorri, filha da puta.
- Paizinho, isso é sério.
- Eu sei, eu sei – Digo e olho para o celular dela – Pode dizer a verdade, vocês mentem a idade para a gente achar que a genética de vocês é boa – Digo e Emília gargalha e traduz para ele que responde.
- Ele disse que infelizmente não e que a boa genética coreana vem dos bons cremes que eles usam no rosto dês de bebês – Concordo, mas não acredito nesse coreano safado.
- Eu vou para a sala, perdi totalmente o sono depois de conversar com ele me conte como foi que isso aconteceu – Digo e ela concorda, dou tchau em coreano para ele que ri e dá tchau de volta.
- É rapaz eu manjo dos paranauê, sou formado na escola dos Doramas legendados – Digo saindo do estúdio e Emília ri e traduz para ele que ri também.
Os dois conversam por mais de uma hora já estou cochilando quando ela senta no sofá do meu lado, então ela me conta como foi que eles começaram a conversar e eu não sei o que dizer, ela me pede várias vezes para manter isso em segredo e é claro que eu vou manter não é todo dia que se vira amigo de um famoso né.
Tomo meu remédio, já que deu a hora e vou dormir e Emília também, os dias passam e ela já não se esconde para falar com o Hyun, eu falo oi e tchau não entendo uma grama do que ele diz, porém ele sempre pergunta como estou me sentindo, o coreano é legal por isso a mulherada morre por eles os bichos são ligeiros.
Quando menos espero, chega umas caixas da Coreia para Emília e uma delas é endereçada a mim, nem sou um Flame mas me senti importante, dentro tem vários tipos de miojo, o homem me mandou miojo e chá lá da Coreia, tem coisas do grupo dele também Emília surta porque ele mandou todos os álbuns que ela sempre sonhou em colecionar, mas é muito caro para o nosso bolso. Ela pega uma lanterna que quando ela liga parece que uma chama se acende dentro, ela grita como louca.
- Eu vou comprar uma estante bem bonita para colocar tudo isso – Ela diz pulando com um urso que representa o Hyun.
- Espero que ele mande um ingresso para a gente quando ele fizer show aqui – Digo e Emília me repreende com o olhar – O que?
- O senhor é impagável paizinho – Ela diz e eu dou de ombros – Mas bem que eu iria amar – Ela diz pulando.
- Para de pular, que a multa vem e quem vai pagar é a gente – Digo e ela corre para a sacada e grita assim do nada volta e me beija, faz tempo que não vejo minha menina tão feliz é lindo de ver.
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Querido Idol
RomansaEmília é uma mulher simples e humilde que dês dos seus dezessete anos se dedica a cuidar do seu pai que tem câncer nos ossos, sua mãe a abandonou com seu pai quando ela tinha oito anos de idade e nunca mais voltou ou procurou saber dela, Emília não...