Coincidência?

41 4 0
                                    


Matthew

— Olie? — Matthew indagou novamente, agora com um tom de voz mais firme. Rider limpou a garganta.

— Você deve estar me confundindo com alguém — respondeu Rider, com uma voz ensaiada, evitando sustentar o olhar de Matthew. Oliver não era um bom mentiroso.

Fazia uns 15 anos desde a última vez que o viu, mas não tinha dúvida quem era aquele sentado na sua sala. Os olhos verdes, a pintinha discreta sob o olho esquerdo, quanto mais Matthew olhava mais claro ficava. Ele poderia ter um novo sorriso, um cabelo diferente, feições maduras, mas aquele era Olie.

— Oliver, sério? Eu sei que é você. Isso faz parte da brincadeira do Mathias? — Matthew perguntou.

— Eu não sei. — Oliver afirmou após um longo suspiro. — Mas eu realmente não sabia que era você.

— Eu não acredito que o Mathias faria isso. — Matt começou a andar de um lado para o outro sentindo seu rosto esquentar.

— Matthew, existem fotos minhas no site, mas talvez ele não tenha reconhecido. Você não reconheceu...

— É, bom... você mudou para caralho.

— Graças aos céus por isso. — Matthew estreitou os olhos para analisar melhor o seu primeiro namorado. Ele realmente parecia outra pessoa. A embalagem pelo menos. Não tinha como ter a mínima ideia se a essência do homem a sua frente continuava a mesma. Muito tempo se passou, ele mesmo sabia que tinha mudado. Hoje ele era muito mais cínico, o que é o mínimo esperável quando você se torna adulto e vê o mundo pelo que ele é.

— Então você é... hm... acompanhante?

— Stripper, na verdade.

— O que você ia tirar? Você já estava nu!— Matthew perguntou segurando a risada. O corpo dele poderia estar parcialmente coberto pela toalha agora, mas a lembrava do seu contorno do seu pênis  estava bem clara na sua mente.

— Teoricamente eu fui contratado para dançar para você. — Oliver explicou dando de ombros.

— Se as suas habilidades são aqueles pulinhos eu espero que você tenha outro emprego. — Provocou.

— Aquilo era só o início, era para ser uma piada.

— Há quanto tempo você é stripper? — Matthew perguntou.

Oliver tinha definitivamente mudado, nunca em um milhão de anos apostaria que seu primeiro namorado se tornaria um dançarino exótico. Ele era a pessoa mais desastrada que já tinha conhecido. Facilmente com dois pés esquerdos.  Não iria negar que ele agora tinha um corpo bem atraente, mas ainda assim, não conseguia imaginar Olie com coordenação motora suficiente pra fazer uma dança sensual. Isso ainda poderia ser treinável, mas é a autoestima? Oliver era um garoto super tímido e retraído. Imaginar ele fazendo danças provocantes com a confiança que era necessário... Parecia que Matthew tinha entrado em alguma realidade paralela absurda.

— Comecei aos 18. — Oliver respondeu sem qualquer tipo de inflexão em seu tom de voz. Dezoito era jovem, bem jovem. 

Quatro anos após eles se afastarem a vida de Olie mudou bastante pelo visto. Matthew não soube reconhecer o sentimento negativo que despertou em seu peito a perceber isso, era a primeira vez que sentia algo assim. Não era pena. Era um tipo diferente de frustração, tristeza e choque. Talvez um pouco de arrependimento. Conscientemente ele sabia que na época não poderia ter feito muita coisa, mas em algum momento do passado ele poderia ter procurado Oliver. Se não pessoalmente pelo menos nas redes sociais, mas o pensamento nunca lhe passou pela cabeça. Ver Oliver agora lhe despertou milhões de sensações e lembranças que ele pensou ter apagado.

— E eles geralmente te mandam na casa das pessoas sem nenhum pertence ou documentação? Isso parece bem perigoso. — Matthew sentiu seus olhos estreitando desconfortável com essa realização.

— Seu irmão preencheu uma papelada bem extensiva para eu estar aqui hoje, é mais seguro do que parece.

— Não parece nem um pouco seguro.

— Mas e você, virou um grande astrônomo? — Oliver perguntou claramente mudando de assunto.

— Você lembra disso? — Matthew sentiu um sorriso se formar em seus lábios.

— Claro que eu lembro.

— Bom, eu sou engenheiro, na verdade. — A breve alegria ao perceber que o loiro lembrava das suas  ambições profissionais deu lugar ao sentimento amargo que sempre seguia ao falar sobre sua vida profissional.

— Seja o que for, deu certo. Seu apartamento é bem legal.

— Obrigado. — Agradeceu automaticamente. Ser engenheiro e trabalhar em uma das maiores construtoras do estado definidamente tinha lhe rendido uma boa recompensa profissional. Tinha um bom carro, um bom apartamento em um bairro conceituado, sabia que essa não era a realidade da maioria das pessoas com menos de trinta anos.

— E você... hm... gostava de arte. — Matthew se surpreendeu com a insegurança em sua voz. Se ele era stripper seus planos também não tinham saído como planejado e não queria tocar em nenhum assunto que fosse delicado. Mas a reação do loiro apenas relevou surpresa. — É, eu também lembro de algumas coisas. — Os dois compartilharam uma longa troca de olhar.

De repente um silêncio entre os dois. Matthew queria falar tanta coisa, perguntar tantas outras. A maior surpresa, entretanto, é o quão familiar era aquele silêncio. Mesmo só ouvindo as respirações um do outro. Mesmo Oliver estando tão diferente que poderia ser outra pessoa. Aquilo era familiar, nostálgico. Matthew sentiu um sorriso se formar em seus lábios novamente, ainda sustentando o olhar do outro, cujas bochechas adquiriram um leve rubor. Ele ainda era tão transparente. O momento, seja lá o que fosse, foi interrompido pelo interfone do moreno. Ele levantou a contragosto, acabando com aquele contato visual para atender a chamada.

— Eram seus colegas de trabalho. Eles estão subindo. — Informou ao loiro após desligar. — Você gostaria de uma roupa?

— Não será necessário, eles trazem. — Oliver respondeu caminhando em direção à porta.

Droga, agora Matthew estava arrependido de ter emprestado seu telefone. Ele deveria ter aproveitado a hora que lhe foi dada e conversado com o outro. Ele ainda poderia estar levemente em choque, mas com certeza não achava que tudo isso tenha sido um acaso.

— Bom, foi bom te rever. — Oliver assumiu já na porta, devolvendo a toalha e voltando a exibir a escolha ousada que ele estava vestindo.

— Eu posso te dar um abraço? — Matthew perguntou surpreendendo a si mesmo. Oliver lhe lançou um olhar estranho, o vermelho voltando a colorir seu rosto.

— Pode sim. — Ele respondeu lhe abrindo os braços em um convite. — Você vai ficar coberto de glitter. — Alertou.

Matthew apenas sorriu e se aproximou do loiro, um pouco cauteloso o recebeu em seus braços. Oliver agora tinha um cheiro doce e frutado, no limite do enjoado. Sentiu seu corpo ser apertado com mais força quando o loiro aprofundou o abraço. Ele não fazia ideia do quanto precisava daquilo. Se distanciaram ao ouvir a campainha do apartamento. A única certeza de Matthew era que ele não queria que aquele fosse a última vez que veria Olie.

— Deveríamos trocar nossos números. — Matthew sugeriu.

— Deveríamos?

— Eu espero que isso tenha sido apenas uma puta coincidência, mas eu quero ver você novamente. — Matthew revelou entregando seu celular desbloqueado. Oliver ergueu uma sobrancelha parecendo desconfiando, mas pegou o aparelho de suas mãos e começou a digitar.

— Aqui. — Oliver entregou o aparelho. — Eu tenho que ir.

— Foi bom reencontrar você. — Matthew se aproximou novamente e lhe deu outro abraço. Dessa vez mais breve do que ele gostaria. Ao se separarem reparou no sorriso no rosto de Olie, pela primeira vez em 15 anos estava revendo aquelas covinhas.

— Feliz aniversario, Mattie! — Oliver desejou antes de se virar e deixar o apartamento.

Nosso primeiro amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora