Um dia feliz.

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Oliver

Oliver olhou uma última vez antes de fechar a porta do clube. Depois de quase onze anos, estava se aposentando como dançarino exótico. Tentou controlar as lágrimas e inspirou fundo antes de começar a caminhar para a parada de ônibus. Seu último dia foi repleto de abraços, lágrimas e muita alegria. A maioria dos dançarinos eram mais jovens, pessoas que, assim como ele, começaram a dançar por precisarem do dinheiro. Alguns expulsos de casa, alguns lutando contra vícios... ele sempre se apegava aos dançarinos, mesmo que eles nunca durassem muito no emprego, meninos perdidos como ele já tinha sido um dia.

Ainda mantinha o contato com a maioria, e muitos até o chamavam de fada madrinha, sempre pronto para ajudar quando podia. Quando saiu de casa, ele era tão imaturo e inexperiente, não conhecia nada do mundo. Tinha algum dinheiro, uma mala de roupas e muito medo. Conheceu Katrina, uma stripper hospedada no mesmo motel barato que ele. Ela tinha 27 anos e dois filhos. Katrina o apresentou a esse mundo e o ajudou mais do que ele poderia um dia retribuir. Eventualmente, ela casou com um cliente e se mudou para o interior do estado, mas ainda mantinham contato. Ela, apesar da pouca diferença de idade, foi mais mãe para ele do que sua mãe biológica.

Oliver ajudou Katrina a cuidar dos seus filhos, e ela lhe deu dicas e conselhos que foram essenciais para que ele conseguisse sobreviver por si só. Foi por conta dela que ele conseguiu o certificado de conclusão do ensino médio, começou a trabalhar com a dança, fez terapia gratuita por programas governamentais... Ela ajudou a manter sua cabeça sã e sua barriga cheia. Tudo o que Oliver desejava era ser metade do que ela foi para os meninos que encontrava no clube.

Oliver sentiu o vento frio da manhã contra seu rosto, o dia agora começando a clarear. Sabia que hoje era um dia feliz, o início de uma nova fase, mas não deixava de ser o término de uma parte importante da sua vida. Pensou em voltar para casa; talvez se soubesse que Lily estava lá, ficaria feliz, mas a amiga estava viajando durante o mês inteiro. Ele queria um abraço, sentir a segurança e o conforto nos braços de alguém. Era um dia predominantemente feliz, mas era um daqueles em que não queria estar só.

Ainda era muito cedo para um domingo de manhã; sabia que a chance de seu namorado estar acordado era próxima a zero, mas decidiu visitá-lo mesmo assim. Pegou o ônibus para seu apartamento, parando apenas em uma padaria antes para comprar algumas coisas. Escolheu o café favorito dele e um quiche. Ramon ficaria menos chateado em ser acordado se ele levasse seu prato favorito. Iria acordá-lo com muitos beijos e depois, quem sabe, poderiam voltar a dormir juntos em seus braços. Ramon nunca gostou que ele fosse stripper, e foi extremamente difícil manter o segredo de sua demissão por um mês inteiro, mas só conseguia imaginar a alegria do namorado ao saber que ele não seria mais dançarino. Finalmente poderiam passar os finais de semana juntos sem interrupções durante as noites. Procurou pela chave em seu bolso e entrou na casa, tentando fazer o mínimo de barulho possível para que ele não acordasse. A casa já não estava escura, com as luzes do sol entrando pelas janelas. Oliver entrou no quarto e congelou ao ver a cena diante de seus olhos. Ramon não estava sozinho.

Oliver sentiu um aperto no peito e, no choque do momento, suas mãos tremeram descontroladamente. Os copos de café tombaram de suas mãos, derramando o líquido quente no chão e fazendo um estrondo que ecoou pelo quarto. Ramon e o homem que estava deitado ao seu lado acordaram abruptamente com o barulho. Ramon arregalou os olhos ao ver Oliver em pé próximo à porta, puxando rapidamente o lençol para cobrir-se melhor. Oliver, ainda em estado de choque, permaneceu imóvel, observando o rosto atônito de Ramon e confusão estampada no rosto do desconhecido.

— Oliver, eu posso expli... — começou Rámon, mas sua voz vacilou.

— Quem é esse? — O desconhecido o interrompeu fazendo com que Ramon lhe lançasse um olhar ameaçador. O pobre menino, sim, menino, Oliver pensou, não era possível que aquele desconhecido tivesse mais que vinte anos.

Nosso primeiro amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora