Estrelinhas neon

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Matthew, 8 anos

Mathias tinha acabado de chorar há poucos minutos. Ele não queria se mudar. Matthew, por outro lado, não via problema nisso. Ele gostava da ideia de morar em uma casa maior, onde poderiam ter um quarto só para ele, se quisessem. Não que ele desejasse isso, pois apreciava dormir com o irmão, mesmo que ele roncasse. No entanto, considerava a ideia de ter um quarto dele. Sempre quis colocar adesivos de estrelas neon no teto do quarto, mas Mathias preferia dormir totalmente no escuro. Talvez, se ele decidisse que desejava mais as estrelas no teto do que enfrentar o ronco do irmão, poderia ter um quarto só para si.

Matthew ouviu um fungado mais alto vindo de seu irmão e recebeu um tapa no joelho de seu pai.

— Aí! — Matthew reclamou, sentindo a dor pulsante.

— Já mandei engolir esse choro. — A voz autoritária de seu pai ecoou, sem desviar o olhar da rua enquanto manobrava o carro.

— Mas quem tá chorando é o Mathias. — Justificou, massageando o joelho dolorido. A pancada não foi violenta, mas foi o suficiente para causar uma breve ardência. No entanto, Matthew não deixaria que lágrimas escorressem. Meninos não choram.

Quando o carro parou, sua mãe virou o rosto em direção aos gêmeos. Seu sorriso parecia bonito à primeira vista, mas não transmitia sinceridade.

Matthew compreendeu teoricamente por que estavam se mudando: os pais, ambos professores, conseguiram empregos melhores na Universidade. Seu pai seria chefe do departamento de física e sua mãe se tornaria reitora. Era mais do que ele precisava saber e mais do que se importava.

No entanto, seu irmão estava profundamente entristecido com a mudança. Mathias tinha mais amigos para se despedir e isso o deixava muito abalado. Matthew odiava ver seu irmão assim, queria poder abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem, que estariam sempre juntos. Ele sabia que essa seria a primeira coisa que fariam quando estivessem sozinhos. Meninos também não abraçam meninos. Não importava se era seu irmão, seu pai ou um amigo.

— Nós vamos descer desse carro e eu não quero ver nada além de sorrisos, combinado? — A voz da sua mãe ecoou pelo carro. Ela e seu pai já haviam resolvido tudo e a nova casa estava pronta. Os meninos decidiram continuar compartilhando o mesmo quarto por enquanto, transformando o outro em um quarto de brinquedos temporário. Era uma mudança a menos para se preocuparem no momento.

— Os vizinhos nos convidaram para uma festa de boas-vindas. Vocês vão descer, Mathias, você vai limpar essa cara, e nós vamos conhecer a vizinhança. — Seu tom não permitia contestações, e foi exatamente o que fizeram.

Em menos de dez minutos, estavam diante da porta da casa vizinha. Era uma casa grande e bonita, semelhante àquela em que morariam a partir de agora. O nariz de Mathias ainda estava vermelho, e Matthew segurou sua mão antes que a porta se abrisse. Recebeu um olhar repreensivo do seu pai, mas qualquer palavra que ele pudesse dizer foi interrompida quando a porta foi aberta por uma mulher. Ela estava usando um vestido longo e florido, com cabelos cacheados soltos que se assemelhavam a flores quando desabrocham. Matthew nunca tinha visto cabelos assim. Eram lindos, e se não fosse pela mão de seu irmão segurando a sua, ele teria cedido à tentação de tocá-los. Os adultos se cumprimentaram brevemente antes da mulher se ajoelhar diante deles.

— Vocês gostam de videogame? — Dona Flor, como Matthew decidiu que ela deveria se chamar, perguntou.

— Hmrm. — Matthew murmurou, enquanto seu irmão assentia com a cabeça.

— Meu filho, Oliver, tem a mesma idade que vocês. Ele está lá em cima jogando Nintendo. Vocês querem jogar com ele em vez de ficar com os adultos chatos? — Os garotos concordaram com a cabeça, e Matt viu o rosto de Mathias se iluminar pela primeira vez naquele dia. Ele adorava Mario Kart. — Tudo bem? — A mulher perguntou aos pais dos meninos, que concordaram, enquanto eles a seguiram escada acima.

— Comportem-se. — Ouviram a voz de seu pai ao fundo, inocente o suficiente, mas carregada de aviso.

Entraram no quarto logo atrás de Dona Flor. A primeira coisa que passou pela cabeça de Matthew foi "maneiro". O quarto tinha as paredes em diferentes tons de azuis, lembrando um aquário, mas quando olhou para o teto, ele se surpreendeu. Eram estrelinhas neon. Aquilo não era um aquário, era o céu.

— Oliver, esses são nossos novos vizinhos. Mathias e Matthew. — A mulher falou sem os diferenciar, ela provavelmente não sabia quem era quem, e eles já estavam acostumados com isso. Oliver estava sentado em um puff em frente a uma televisão com seu controle na mão. Ele pausou o jogo antes de caminhar até os meninos.

— Eu sou o Mathias. — Seu irmão soltou sua mão e entregou ao menino como tínhamos aprendido a fazer quando conheciam alguém. Oliver a apertou antes de se virar ao outro estendendo a mão também.

— Você é o Matthew, então? — Matthew sorriu antes de apertar a mão na sua frente. O menino tinha sua altura e os mesmo cabelos de flor da mãe.

— Você tem Mario Kart? — Mathias perguntou já se caminhando próximo ao videogame.

— Meninos se divirtam, qualquer coisa só chamar. — Dona flor falou antes de os deixar sozinhos.

Oliver pegou a mão de Matthew e o levou até onde o irmão já estava mexendo no jogo do outro. Matthew se deixou ser levado para sentar no chão, sendo guiado pela mão no novo vizinho na sua. Sabia que meninos não seguravam na mão de outros meninos, mas gostou de como Oliver a pegou de forma tão natural. Ele claramente não tinha problema com isso. Matthew sentiu falta do calor da mão do outro na sua quando eles sentaram lado a lado no chão, Mathias já jogado no puff e com um controle na mão como se fosse o dono do lugar.

— Eu gosto de estrelas. — Matthew falou, sem saber muito bem o porquê. O menino lhe encarou sustentando em seu rosto um sorriso de dentes desalinhados.

— Eu adoro estrelas. — Seu sorriso ficou ainda mais largo, quando ele enfatizou a palavra. — Que coincidência.

— Coincidências não existem. —Matthew falou com toda a certeza de um garoto da sua idade.

— Por que não? — Oliver perguntou confuso.

— Papai diz que coincidência é a desculpa de Deus para permanecer anônimo. — Seu pai era cheio de frases feitas, complexas e sem sentido. Muito além da compreensão dele mesmo, mas Matthew adorava repetir elas como verdade absoluta. Se sentia um homem adulto e inteligente quando fazia isso. Uma mini versão do seu pai, o que ele adorava ser.

— Meu pai trabalha com Deus. — Matthew lhe lançou um olhar confuso, fazendo Oliver sentir a necessidade de se explicar. — Ele é pastor. Vocês vão à igreja?

— Todo domingo. — Matthew respondeu com orgulho.

— A gente vai se ver direto então.

— Ei, vocês vão jogar? — Mathias perguntou, ele já estava jogando.

Nosso primeiro amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora