Capítulo 7

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                                                                                                                                                                7 Capítulo

Acordei tarde, com muitas dores, ao tentar me mexer todos os meus músculos protestaram, abri os olhos e tentei entender onde estava, lembrei que estava na casa da vó Franziska, puxei o ar para dentro dos meus pulmões e eles gritaram de dor nas minhas costas. A coisa estava feia, mas feia mesmo, pra mim me entregar na cama desse jeito? Não havia acontecido uma única vez na minha vida.

Depois de um curto espaço de tempo em que fiquei analisando o quarto, as lembranças quase esquecidas que eu tinha daquela casa povoaram minha mente, lembro-me de minha vó usando a sua saia longa até os pés em tom cinza, lembro-me de que ela tinha cabelos brancos e suas mãos eram tão delicadas, sua pele era tão macia e fina, tão cheias de dobras, mas sempre quentes. Lembrar-me dela foi reconfortante, aquele quadrado de madeira aconchegante era tão delicado como ela, tão seguro quanto ela, era como se eu pudesse sentir minha avó perto de mim, com seu cheirinho de talco, - afinal era o único cheiro que ela conhecia além do de comida e sabão - o abraço dela era quente, gostoso e acolhedor, sabia que ali eu estava segura do mundo, mas eu tinha apenas seis anos, pouco sabia sobre o mundo e ela... Bem ela era sábia demais, lembro-me dos olhos azuis dela, assim como os do meu pai, como os do meu irmão mais novo.

Contive a emoção quando me lembrei do meu pai e a saudade que sinto de todos eles, quase uma semana longe de casa para quem nunca saiu debaixo das asas da mãe é um tanto complicado, não fazia ideia do que estava acontecendo, do que podia acontecer e tinha que me manter o mais longe possível de Leonardo, antes que meu plano fosse por água abaixo.

Decidi levantar mesmo sobre os protestos incessantes dos meus músculos, vi sobre o baú no fim da cama, que havia sacolas e mais sacolas, peguei um robe que alguém havia deixado sobre a poltrona, pois eu estava molhada da cabeça aos pés, havia uma claridade suave no quarto o que indicava que o sol estava se pondo, abri o closet e lá encontrei toalhas de banho limpas e cheirosas, peguei duas e abria a porta do quarto tentando não fazer barulho, o chão de madeira rangeu debaixo dos meus pés e me dirigi pisando levemente como um cavalo sobre o cascalho, não fazia ideia de onde Leonardo estivesse, mas eu não tinha passo leve, mão leve e pensamento leve, eu tinha era intensidade e sabia disso. "Delicada feito coice de mula" – dizia Marco. Eu ri diante da lembrança dele, que falta danada ele me fazia.

Entrei no banho e me permiti um banho digno de rainha. Me enrolei na toalha e outra nos cabelos, peguei minha roupa suja voltei para o meu quarto e nem sinal de Leonardo. Fui até as sacolas e as abri, na primeira havia umas cinco calças jeans, um conjunto de moletom feminino azul claro e um tênis, dei uma resmungada pelo gosto, mas tudo bem, na segunda sacola havia blusinhas de todas as cores, embora fossem do mesmo modelo, na seguinte havia calcinhas?! Não! Não era possível! Ele havia comprado calcinhas de algodão pra mim! Nem um fio dental? Que falta de criatividade! – falei em voz alta pra mim mesma. Além de alguns sutiãs! Na outra sacola havia duas jaquetas e...Camisetas? Por que diabos ele havia comprado camisetas pra mim? Isso era frustrante e iria continuar sendo, afinal, ele era policial e estava a serviço da justiça e eu era A peça, apenas uma peça desse quebra cabeças.

Criar expectativas causava dor e isso eu já conhecia de uma longa data.

Vesti uma calça jeans e uma camiseta, estava nutrindo um sentimento idiota e tinha medo que ele virasse outra coisa, paixão desmedida, daquelas que você não vê um palmo diante do nariz, daquele tipo de paixão que faz com que você pise nas próprias orelhas, era desse que eu tinha medo, dessa paixão que deixa cego. Essa era a terrível, aquela que pode até matar, era dessa que eu fugia a quatro anos.

MarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora