Capítulo 17

32 2 4
                                    

             " Não sou do tipo de pessoa que ouve e depois esquece". - Capítulo 17.


Já havia aprendido a lição. Sempre que havia calmaria na minha vida o caos se aproximava dia a após dia. E, eu estava certa. Hoje me encontro na casa da sede, rodeada de mulheres e deveria ser um dos dias mais felizes da minha vida, mas não é.

Na sala, tem balões por todos os lados além de estar toda decorada, com fotos minhas e do meu barrigão, Vicente chuta o tempo todo e a barriga pesa uma tonelada, além do calor de Abril estou inchada e chateada, meu nível de irritabilidade passa longe dos mil, ainda penso em como a vida tenta me derrubar. Sorrio, pois elas são especiais demais pra mim ficar com cara de burro amarrado o dia todo sabendo que fiquei uma semana preparando o chá de fraldas do Vicente, mas elas todas sabem, todas as presentes sabem que seremos eu, Vicente e vovô.

Aos poucos, uma a uma, elas vão indo embora me deixando a sós, eu estou exausta, embora feliz, feliz por Vicente me acertar inúmeros nocautes nas minhas costelas o que indica que ele esta bem, sentada na poltrona da sala, enquanto Marlene e Rosalina começam o processo inverso, de arrumar tudo e guardar o que restou.

— Marlene, arrume o que restou de doces, os melhores e de à todos, arrume um pouco de tudo e de para as pessoas que morram aqui. – ele me olhou.

— Você esta bem? – pediu ela.

— Exausta. Mas, bem. – sorrio de novo, mentindo pra mim e pra ela. Rosalina me olha e sorri, a moça branca, de cabelos castanhos, com não mais de trinta anos, mãe do kauê.

— Esta quase, Marina.

— Não sei se aguento ele. – Fiz uma pausa e soltei o ar, Vicente me acertava mais um chute com força. — Ele me desnuca os ossos!

Rimos. E foi genuíno. — Se vocês me permitem, preciso me deitar e queria um banho morno.

— Pode ir sim, querida. - Disse Marlene, ela estava se tornando minha mãe.

— Não se preocupe Marina, quando eu estava grávida do Kauê, tinha essa impressão, hoje eu olho pra ele e toda a dor que senti é tão pequena. – disse ela com emoção.

— Eu espero. – falei em pé indo para meu quarto. — Eu espero.

Enquanto estava imersa em minha banheira, com água norma e a massagem direcionada para as minhas costas, me senti aliviada, Vicente deu um tempo e se acalmou. Fechei meus olhos e não pensando em nada, apenas ouvindo o barulho da hidromassagem, meu cérebro resolveu retroceder e as lembranças povoaram minha mente.

...

Depois da primeira ecografia nosso relacionamento andava, foram os dias mais felizes da minha vida. O dia que ouvimos juntos as batidas rápidas do coração do nosso bebe, o dia que vimos que ele ainda era apenas um projeto de amor, de vida, vimos que ele estava bem e que estava crescendo forte, depois passou o natal, as festas de fim de ano, e ele crescia, nem havíamos pensado em um nome adequado para ele e para ela, Leonardo estava mais próximo de meu avô e eu até achei que ele sabia algo que eu ainda não sabia. Eram muitas conversas no escritório até tarde, muitas planilhas, livros contábeis, contratos. Leonardo havia cuidado da horta, afinal, ele era agrônomo e sabia o que devia colocar na terra para cada cultura, e assim, minha alimentação estava controlada.

Muito embora, meus desejos loucos durante a noite ainda tinham continuado, e certa noite realmente rimos por horas, enquanto eu mantinha as mãos erguidas com vontade de comer sushi, o que não teve jeito e no outro dia fomos almoçar no restaurante japonês, e duas noites após senti vontade de comer abacaxi.

MarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora