Capítulo 18

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Se acalma. Quem foi feito um para o outro o destino dá um jeito de unir.  Capítulo 18.


O cansaço dos últimos dias tem me deixado sem fala, prefiro o silencio ao invés de conversas, prefiro meu quarto ou a lareira acesa de frente pra janela enquanto o frio do inverno lá fora corta as colinas, casas e galpões, açoitando cada canto, cada árvore, cada folha com seu uivo que hoje eu já não entendo mais.

Perdi a crença em algumas coisas, substitui algumas lembranças por serem dolorosas demais. Deitada aqui na minha poltrona enquanto ouço apenas a madeira que tem na lareira estalar, choro baixinho... Me sinto só, mesmo com Marlene e Rosalina no meu pé o dia todo, ou com Jardel me levando pra cima e para baixo, já não me deixam mais dirigir por conta do meu estado de espírito, já tomo calmantes naturais, Marco vem me ver a cada dois dias e trás junto Mariah sempre que pode, mas sinto saudades da cabana, de papai, da minha égua, de tudo o que eu tinha e que hoje não tenho mais.

Leonardo sumiu da minha vida naquele dia em que Marcela veio buscá-lo e pelo visto ela ganhou essa batalha. O que me resta é ficar com as nossas lembranças. Fecho meus olhos engolindo o choro quando me lembro daquele dia no labirinto, da primeira vez que fizemos amor, amor de verdade e não apenas uma junção carnal. Passou mais uma semana e a cada dia eu me sinto mais só, mais fria, mais gelada...Tenho que achar alguma coisa pra fazer antes que eu fique louca e meu avô queira me internar.

Chorei, enquanto eu olhava a lua e vislumbrei tudo o que eu podia viver, toda a minha vida, e percebi que havia sido poupada de muita dor, bem como, já havia provado pra mim mesma o tamanho da minha força, suportando tanta adversidade quando eu me sentia vítima.

Aprendi que ninguém é vítima e se cada um é assim, tem aquilo que lhe é digno.

Me ajeitei ali mesmo, enquanto Vicente se ajeitava dentro de mim, era tão bom tê-lo, senti-lo, e saber que através de você vem um ser tão pequenino e delicado, agora eu tinha ele, tinha que lutar por ele.

A fazenda estava começando a mudar de ares, havia perdido o aspecto de abandonada, e agora, havia mais de 300 cabeças de gado, havia a plantação de soja e de milho e meu avô, que por insistência minha estava colocando a parte da ordenha. Em breve seria meu novo lar, com minha cara, com meu jeito, estava esperando Vicente nascer para depois assumir toda a burocracia que já sabia fazer e tocar a fazenda, cotar milho e soja, comprar, vender, trocar e assim por diante. Mal via a hora de por minha vida sob meu controle de novo, o pouco que tinha é claro, mas do meu jeito, do meu modo e no meu tranco.

...

— Mas isso aqui não vai caber nele! – disse Mariah pra mim enquanto ela olhava um body branco, com a escrita: "Sou da dinda". Eu ri.

— Ela já tem três quilos e em algumas semanas estará em meus braços. – falo orgulhosa enquanto passo a mão na minha barriga grande e redonda.

— Você quer dizer dias, né Marina. Dias! - ela parou e me olhou, sorriu e olhou para a peça de roupa em suas mãos novamente e continuou. — Por isso mesmo! – disse ela olhando para a peça de novo e chamando a atendente foi encontrar um tamanho maior. O prazo de nascimento de Vicente, segundo a médica era para a primeira semana de Julho, mas eu sabia, ele viria em torno do dia 27 de Junho, fechando o nono mês. Sorri e deixei possíveis cenas passarem em minha mente, ver o rostinho dele, o sorriso, os primeiros miasmas dele, a pele, o cabelo, os dedinhos – oh os dedinhos, tão pequenininhos! – sorri tanto e me emocionei, olhei para as roupas secando uma lagrima idiota de felicidade que caiu dos meus olhos, olhando as roupas que faltavam pra comprar. Fui separando algumas peças, tinha uma seção de fotos pra fazer e aguardar a chegada de Vicente. O tempo passou, olhei no relógio, - droga! – faltavam dez minutos para a hora marcada.

MarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora