Por muitas vezes eu acreditava, que em todas as férias de verão da minha vida, eu iria pra fazenda e meu avô estaria lá para nos divertimos juntos. Nessa brincadeira de pensamento, se passaram sete anos sem que eu pisasse os pés lá.
Tyler levou Álice e Billy para conhecer os quartos que iriam ficar, enquanto eu comecei a andar pela sala enorme. Cada passo que eu dava, cada suspiro e cada lembrança que se formava em minha mente, me fazia lembrar dele e sentir sua presença, como se estar ali me deixasse mais perto dele;
--Está se sentindo bem fofo? (Benjamin)
--Estou, só estou me lembrando dos meus momentos aqui.
--Bons eu imagino. (Benjamin)
--Bastante, mas doem um pouco de recordar.
--Então tenta não pensar neles tá bem? Pensa que está em um lugar que te traz paz e que você tanto esperou para estar.
--É complicado Ben... Meu avô amava tanto esse lugar, e agora vir aqui e não ver ele... Me dá tanta angústia.
--Faz o seguinte, não pensa nisso, pensa que você vai passar um ótimo tempo com sua avó por aqui.
--Tem razão. Escuta, quero te apresentar pra minha avó... Como meu possível par.
--Você... Quer assumir agente pra sua avó? –Disse ele com uma voz baixa, porém com alegria.
--Porque não? Ela eu sei que gosta de mim, mas vou sondar primeiro e ver se é adequado.
--Como quiser, tudo no seu tempo.
Eu amava mais ao mesmo tempo detestava aquela mania que o Ben tinha de ficar feliz e satisfeito somente com as minhas escolhas, ele podia tentar dar uma opinião alguma vez, uma qual ele estivesse pensando, e não pra me agradar ou algo assim.
Ele subiu a mala dele e do Billy, enquanto eu olhava os porta-retratos da lareira na sala. Minha vó reformou tudo, mas as fotos que tanto alegravam vovô ainda estavam no mesmo lugar. Em uma delas, havia ele comigo nos braços no dia em que ele me conheceu, ele sorria tanto na foto que me emocionou, e ao mesmo tempo me trouxe de volta o pensamento revoltante do porque que tiraram ele de mim, a única pessoa que me amou desde o dia em que me conheceu;
--Espurr... Está bem?
--Estou Edward, é só um pensamento diante dessa foto.
--Era seu avô?
--Sim, uma das pessoas mais puras e corajosas que já pisou nessa Terra.
--Esse nos braços dele é...
--Sim, sou eu. Foi nesse dia que nasci.
--Ele tinha um sorriso tão bonito.
--Tinha mesmo e... Olhando bem pra você Edward, o sorriso dele é bem parecido com o seu.
--Sorrisos né Espurr, tantos parecidos. Agora algo sim é assombroso nessa foto.
--Como assim assombroso?
--Você e ele são quase iguais. Óbvio que aí na foto ele tem bigode, mas tirando isso, você é ele em carne e osso Espurr.
--Esse, sem dúvidas... É o elogio que eu mais amo ouvir. Quando me falavam isso na infância, eu ficava radiante.
--Nunca deixou de ser radiante. É assim até mesmo depois da infância.
--Se manca.
Ficamos dando socos no ombro um do outro igual dois moleques bestas;
--Escuta, obrigado.
--Pelo que?
--A festa, ter tornado meu aniversário feliz uma única vez depois da morte da minha mãe. Você é sem dúvidas... Um anjo que caiu pra mim e pra todos os nossos amigos.
--Para de bobeira, você e eu somos família, família sempre demonstra o quanto gosta do outro.
--Queria que meu pai visse isso assim.
Quando ele tocou no nome do pai dele, meu coração se apertou. A chantagem de Germano era muito baixa, mas era destrutiva, eu tinha de tomar muito cuidado;
--Seu pai não é assunto pra nós aqui Edward, te trouxe pra cá pra te tirar desse estresse que tanto te atormenta.
--Uns dias aqui podem mesmo me animar.
--Podem e vão.
Conversávamos que eu acabei nem escutando o carro chegando. Quando dei por mim, vovó estava entrando pela porta da frente e olhou diretamente nos meus olhos. Ela ainda estava bela, por mais que tivesse 52 anos, minha avô estava linda pra idade dela, seus cabelos loiros e olhos esverdeados que ainda mostravam seus traços de moça na adolescência;
--Vovó.
--Espurr meu querido. (Helena)
Corri e abracei ela como uma criança solitária. A anos não a via e nem sentia o abraço e aconchego de uma avó, seu cheiro de perfume amadeirado e doce do campo, era como voltar no tempo em que a vi na última vez;
--Querido como cresceu, está um rapaz já. (Helena)
--Uns aninhos que não nos vemos, mudei um pouco vó.
--Estou vendo, está um rapaz lindo meu neto. (Helena)
--Obrigado, a senhora também envelheceu como um vinho em.
--Ah querido. –Disse vovó rindo.
Ela olhou pra trás de mim e viu Edward, ambos com olhares curiosos um pro outro;
--Está tudo bem vó?
--Está, mas quem é esse rapaz? (Helena)
--Esse é meu amigo Edward. Edward, minha avó, Dona Helena.
--É um prazer conhecê-la senhora. (Edward)
--Igualmente... Escute, por acaso já nos vimos rapaz? (Helena)
--Bom, creio eu que não senhora. Nunca vim aqui por esses lados. (Edward)
--Estranho, parece que te conheço de algum lugar... Mas deve ser só bobagem minha. Fique a vontade a casa é sua. (Helena)
--Obrigado. –Disse Edward envergonhado.
Nisso os outros desceram pela escada e ficaram sem jeito quando viram minha avó parada na frente deles;
--Olá, quem são esses Espurr? Seus amigos também? (Helena)
--Sim, são meus amigos. Essa é minha melhor amiga Álice, Álice essa é minha vó Helena.
Me direcionei na direção de Álice para apresentá-la a minha avó. Logo em seguida apresentei Levy, Benjamin e Billy. Vovó nos levou pra sala de jantar, onde havia um café da manhã glorioso nos esperando. Tinha tudo que eu mais amava, Bolo de cenoura com calda de chocolate, Bolo de milho com goiabada, pão de queijo quentinho, Café... Tudo bem preparado;
--Meu Deus que tanta comida vó.
--Eu fiz e pedi pra fazerem todos as coisas que você mais gosta querido. (Helena)
--Que delícia em, ai tô com água na boca.
--E o que espera? Sirvam-se. (Helena)
Todos nos sentamos e começamos a nos deliciar com tanta coisa. Eu praticamente comi metade do bolo de milho com goiabada, era meu predileto, e pelo sabor eu sabia que havia sido vovó quem preparou;
--Está maravilhoso vó.
--Que bom que gostou querido. Bom, me falem mais de vocês, amigos do Espurr. De onde são? (Helena)
--Somos de Brasília mesmo senhora. (Álice)
--Menos eu, eu vim de São Paulo. (Levy)
--Porque veio de São Paulo pra Brasília querido? (Helena)
--Meu pai é médico e tem muitas regiões solicitando ele. Então nos mudamos com frequência. (Levy)
Benjamin fica me olhando de um jeito fofo o café inteiro, o que eu não sabia era que olhos nos observavam. Terminamos de comer e todos subiram para organizar as coisas em seus quartos. Eu fui logo em seguida, com minha avó me guiando dizendo haver uma surpresa lá. Entramos no quarto e eu não consegui conter minhas lágrimas;
--Meu Deus vovó meu quarto está... Está tudo igual meu avô montou pra mim.
--Eu reformei também, mas deixei o visual o mesmo meu querido... Tudo pra que você se recordasse.
--Esse lugar... Ai vovó como senti sua falta.
Eu abracei ela chorando. Meu avô partira, mas ela tinha o mesmo carinho por mim, tudo estava como meu avô montara, os porta retratos em cima da cômoda espaçosa. As paredes azul cobalto, os ursos de animais pela cama e pelo sofá de canto com almofadas azuis também;
--Tudo está incrível... Eu vou dormir aqui?
--Claro, esse quarto sempre foi seu querido, não é agora que deixaria de ser.
--Eu amei muito como tudo foi cuidadosamente arrumado.
--Lembra quando seu avô e você faziam guerra de almofadas aqui? Eu enlouquecia com tanto barulho, mas amava ver o carinho que ele tinha com você.
--Como ele era com meus tios e... Minha mãe.
--Seu avô sempre foi apaixonado por histórias, sempre amou crianças... Mas sua mãe e seus tios não gostavam muito de ouvir as histórias dele. Com o tempo até o achavam meio louco, com exceção da Judy, que era a que mais era próxima dele, no entanto nenhum dos 3 foi capaz de preencher o lugar que ele tinha no coração pra ser feliz completamente... Até que você nasceu.
--Eu lembro que sempre me empolgava quando me mandavam pra cá nas férias, porque eu sabia que ele estaria aqui pra tornar tudo incrível.
--Você chegava e ficava correndo pela casa, como se fosse um mini tornado. Ficávamos contentes, afinal nossos filhos haviam crescido tão rápido e saído de casa.
--É... Saindo de casa.
--Aproposito mocinho, temos que conversar sobre uma coisa né?
--Temos?
--Sua mãe me disse que você saiu de casa, quer me contar sobre isso querido?
Hesitei por um momento, me perguntando se ela sabia ou não a respeito do que minha mãe tentara fazer comigo;
--Eu saí... Porque descobri tudo.
--Tudo o que querido?
--A senhora sabia?
--Do que está falando?
--Que minha mãe tentou me abortar e que teve vontade de se livrar de mim quando eu nasci por meu pai ter sido um viciado em drogas naquela época.
Vovó me olhava incrédula. Provavelmente se perguntando como eu sabia daquilo, no entanto estava estampado na cara dela que ela sabia a respeito daquilo;
--Como sabe... Ela quem te disse isso?
--Carl falou e ela não negou.
--Querido, durante a gravidez sua mãe não estava muito bem... A descoberta sobre isso do seu pai a deixou conturbada, com a ideia de você nascer doente ou até mesmo deficiente.
--E isso justifica ela não me querer?
--Claro que não Espurr, tanto que ela não fez nada a você.
--Ela ia fazer... Quando eu nasci ela ia se livrar de mim?
--Não vou te mentir querido, sim. Seu avô se meteu e disse que não permitiria isso de jeito nenhum.
--Então eu só estou aqui hoje... Graças a ele.. A vida foi muito injusta, tirando de mim a única pessoa que me amava.
--Isso não é verdade, eu amo você muito, você é meu netinho. Sua mãe apesar de não ter raciocinado bem naquele tempo, sei que te ama muito.
--Eu duvido. Se me amasse, jamais pensaria na possibilidade de... Me matar ou me abandonar.
--E foi por isso que você saiu de casa então... Aonde está vivendo?
--Numa casa ótima, com o neto do Henrique Salinas.
--Henrique Salinas?
--Isso, ele mesmo. Seu ex colega da CRC.
--Está vivendo com o neto dele?
--Sim.
--Ele é um dos rapazes que você me trouxe?
--Não... Era pra ele vir, conversar com a senhora sobre aqueles tempos com o avô dele. Porém ele viajou, e não sei quando volta.
--Ah tempos não ouço falar desse rapaz... Desde a morte do Henrique eu não soube mais nada. Disseram ao se avô que ele havia sido destinado a ser cuidado pela babá de confiança.
Por um minuto fiquei confuso, mas me lembrei que vovó não sabia que quando meu avô partiu... Henrique estava vivo em segredo;
--Ele te trata bem?
--Muito, eu o amo como um irmão.
--Seu avô ficaria contente em ouvir isso. Henrique e ele eram muito amigos, você e João juntos é prova que aquela amizade permaneceu diante em geração.
--Ele é gentil, esforçado e faz de tudo pra cuidar de mim.
--Fico feliz querido, mas uma coisa não me ficou clara ainda. Como se encontraram?
Travei por um minuto tentando pensar em alguma invenção bem elaborada;
--Eu acho melhor contar esse mero detalhe depois vovó. Quero muito ir andar pela fazenda e recordar os bons tempos... Posso?
--Claro vá, sabia que estaria louco pra fazer isso, tanto que deixei suas botas prontas.
--Que botas?
Ela abre o guarda-roupas que eu usava na infância e retira um par de botas novas e lindas de dentro. Prestas e com desenhos prateados de mini Cristais;
--Vovó... Onde comprou uma bota dessas?
--Eu mandei fazer por encomenda pra você, apesar de não gostar do seu nome... Achei que Cristais seriam sua cara.
--Eu... Eu amei muito. Vou me trocar e usá-las agora mesmo. No entanto, quero pedir um favor.
--Pode pedir querido.
--Não comente em momento algum enquanto eu estiver aqui sobre meu nome. Meus amigos não sabem e nem podem sonhar isso.
--Claro, mas eu nunca entendi o porque disso querido, seu nome é lindo.
--Antes era só porque eu não gostava, mas agora é mais complexo vó. Me prometa que ninguém saberá.
--Não vou falar em momento algum, pode deixar.
--Bom... Posso estreá-las?
--Agora mesmo. Ah, não pense que essa conversa acabou viu? Você vai terminar de me contar depois sobre o neto do Henrique.
--Cla... Claro vó.
Troquei de roupa e vesti uma calça jeans azul escura, blusa de botão azul clara e minha bota nova. Desci as pressas como se eu ainda fosse a criança de antigamente, cruzei a sala e fui quintal a fora. A descida até o estábulo era curta, mas fui correndo mesmo assim, ao mesmo tempo que via vovó me observando com um sorriso no rosto lá da varanda. Cheguei apressadamente ao estábulo com uma energia imensa.
Olhei cada compartimento atrás de um serzinho em especial, até que no último eu o achei, meu cavalo. Precioso era o nome dele, quando eu o vi pela última vez ele era um potrinho que vovô me dera quando eu era criança, aos 7 anos. Ele estava alto e bem lindo, era branco e com um olhar negro que parecia um vácuo no universo. Me aproximei cuidadosamente dele, mas seus temperamento estava mais feroz, me deu um belo chega pra lá e por pouco não avançou em mim. Ele teria mordido meu nariz se eu não tivesse segurado seu rosto e olhado em seus olhos negros;
--Ei rapaz sou eu, calma. –Eu disse olhando pra ele sem desviar o olhar.
Ele parecia se acalmar, mas avançou novamente. Pensei que me atacaria, mas lambeu minha testa, me fazendo sorrir igual um idiota. Abracei ele cuidadosamente, ele sentia meu cheiro e parecia se recordar. Tirei ele de lá e coloquei a sela nele, queria ter meu primeiro passeio por lá junto dele... Como meu avô queria.
O difícil foi subir pra montar, afinal eu não fazia aquilo a anos. Assim que subi caí de costas, ele relinchou me fazendo achar que estava zombando de mim, mas na verdade ele estava em alerta, me virei e dei de cara com Denver e sua pupila azul totalmente dilatada. Ele nem olhava pra mim, estava focando para se lançar a um ataque ao Cavalo. Me coloquei na frente dele, ficando entre os dois;
--Denver não.
Ele deu um passo a frente e ia pular. Fui mais rápido e o agarrei no rosto prendendo o olhar dele no meu;
--DENVER EU DISSE NÃO. –Nem me dei conta mais eu gritei com ele.
Sua pupila voltou ao normal, com ele sentindo o cheiro do meu rosto. Precioso não saiu da posição de defesa, o que me seria um problema, fazer dois seres de naturezas diferentes conviverem. Tentei usar minha habilidade de conversar com o Denver através do olhar, e pareceu funcionar;
--Garoto, esse é um cavalo amigo. Não atacar entendeu? –Eu disse sem tirar meus olhos dos dele.
Ele se aproximou mais de mim e me deu uma lambida na bochecha. Interpretei aquilo como um sim. Devagar me levantei e ele se sentou como um gato na grama, mas me afastei de frente pra ele, pois mesmo sendo meu Denver, felinos são muito traiçoeiros pelas costas. Fiquei lado a lado com Precioso, tentei fazer ele se acalmar, o que foi mais difícil, pois ele era a presa ali.
Conforme fui lhe acariciando ele se retornava a posição normal. Seus passos se reformulando e sua postura ficando ereta, Denver o analisava, mas não avançava, parecia mesmo ter entendido minha ordem. Sentem na grama aliviado de não ter acontecido uma catástrofe. Nisso levy apareceu correndo;
--Espurr, você tá bem?
--Estou, quase infartei de pressão, mas tô bem.
--Denver saiu correndo quando eu o desci, corri por toda parte atrás dele, esse lugar é enorme... Desculpa.
--Não tem problema, evitei que ele se descontrolasse.
Ele parou e direcionou seu olhar para Denver e Precioso;
--Como fez aquilo?
--Aquilo o que?
--Não vê? Os dois estão perto um do outro sem se atacar ou defender.
Me levantei rapidamente pensando ser uma estratégia de Denver. Na verdade ele estava cheirando e analisando o cavalo, e Precioso de frente pra ele, creio eu que era por precaver um ataque sorrateiro;
--Como... Como fez um felino e um animal pacífico como um cavalo se darem bem?
--De alguma forma eu consigo me comunicar com o Denver, já o Precioso, creio que só cedeu quando teve a certeza que ele não atacaria.
--Precioso?
--É o nome do meu cavalo.
--Ele é seu?
--Sim, foi presente do meu avô.
--Que incrível, aliás cadê seu avô? Só vi sua avó quando chegamos.
--Eu... Ele... Ele morreu quando eu tinha 8 anos Levy.
--Eu... Eu sinto muito de verdade, eu jamais teria perguntado se... Se eu soubesse.
--Eu sei, tá tudo bem.
Subi novamente em Precioso e saímos no galope. Sem nem perceber, me virei e Denver corria lado a lado com agente. O vento batendo no meu rosto, o ar passando pelos meus cabelos e a visão dos campos e do gado um pouco mais abaixo. Acredito que se Denver não estivesse concentrado em nos acompanhar, aquelas pobres vacas teriam virado história.
Chegamos ao pomar. Lá haviam árvores de diversas frutas, como Laranja, Tangerina, Limão, Jaboticaba... Dentre outras. Desci com cuidado e me deparei com Tyler colhendo limões e os colocando em um caixote. Amarrei Precioso na árvore e fiz sinal para que Denver se deitasse, nisso segui em total silêncio por trás dele, que de novo parecia estar falando sozinho;
--Tyler?
--AI. Que susto Espurr, já é a segunda vez hoje cara.
--E se acostume, durante a semana terá muitos mais se não ficar atento.
--O que faz aqui na área dos pomares? É meio longe lá da casa grande.
--Vim cavalgando, queria respirar um pouco e rever as terras.
--Você montou num cavalo?
--Numa vaca é que não ia ser né. –Eu disse rindo.
--Nossa que engraçado, tô morrendo de rir... Vigia em, andar por ai sozinho pode ser arriscado, ainda mais quando nunca de andou sozinho de cavalo.
--Eu já andei.
--Nunca sozinho, sempre precisava de alguém pra montar com você. Seu avô devia quase surtar tentando de ensinar. –Ele disse como algo engraçado.
Por algum motivo aquilo me deixou meio mal, não por me lembrar do meu avô, e sim por ele ter dito aquilo naquele tom irônico e me fazendo pensar se em algum momento meu avô tentou ser mais paciente que o normal comigo. Deu pra ver em meu rosto que meu ânimo tinha se desvairado por um instante;
--Será...
--Não. Eu falei da boca pra fora, foi mal. Não tô tendo um dia bom, acabei falando besteira.
--O que tá havendo?
--Meu pai me enchendo. “Ah faça isso, Ah faça aquilo, Ajude mais...”, porra será que o tanto que eu faço ainda não tá bom?
--Eu, eu nunca vi você falando palavras pesadas.
--Foi mal por descontar isso na sua frente, mas é que eu não aguento mais sabe? Mal ganho pra fazer tanta coisa. Sua avó quis me pagar um salário como para todos os funcionários, ai vai lá e meu pai se mete dizendo que não é necessário e que eu estou ótimo assim. Isso me dá ódio.
--Sabe o que eu acho? Que precisa esfriar a cabeça. Porque não vamos tomar banho no rio?
--Tá maluco Espurr? Acabei de te dizer que toda hora tem algo pra mim fazer aqui. Esses limões por exemplo, ele quer que eu encha todos esses caixotes para a exportação ainda hoje. Saco.
--Ei, ei ,ei. Esqueceu quem eu sou por aqui?
--Como é?
--Você e seu pai trabalham pra minha avó certo? Essa fazenda é dela, o que é dela é dos filhos, e o que é dos filhos também é dos netos. Significa que eu também mando por aqui, e eu agora estou mandando você largar isso e ir se refrescar no rio que eu sei que você ama.
--O chefão, se ele souber que eu deixei o serviço pela metade ele vai...
--Ele não vai fazer nada, porque é uma ordem minha. E você não diria não pra um pedido meu, diria Tyler? –Eu disse usando chantagem emocional.
--Olha aqui... Eu... Bom... Ah que droga, não Espurr, eu não diria não pra um pedido seu satisfeito?
--Ótimo, esse é o Tyler que eu conheço. Agora vamos pro rio?
--Não sei se sofre Alzheimer , mas o rio é mais abaixo.
--E eu não sei se você é cego, mas eu vim de cavalo.
--Ainda afiado garotinho da cidade.
--Sempre garotinho do campo.
Abracei ele e ele igual um bestão nem retribuiu o abraço até eu dar um peteleco na orelha dele;
--Você e sua melação sem sentido Espurr Montieul.
--Também senti sua falta Tyler Walter.
Nos aproximamos da árvore pra soltar o Precioso e Tyler quase infarta ao ver meu tigre;
--Minha nossa senhora. Um tigre, Espurr pra trás, tem um felino aqui.
--Eu sei, ele é meu.
--OI?
--Ele é meu tigre de estimação, fofo ele né?
--Nossa, uma gracinha, quando não tentar arrancar seu braço.
--Ah para. Sobe logo no Precioso e vamos pro rio.
Ele subiu no cavalo sem tirar os olhos do meu tigre em nenhum momento. Eu subi logo em seguida com ele me ajudando, daí fizemos sinal e o Precioso saiu em disparada pro rio com Denver correndo do lado novamente. Tyler parecia se animar mais, sua expressão revoltada no rosto sumira assim que chegamos a frente do rio;
--Que saudade desse lugar.
--Você vai arrumar problemas pra mim.
--Até parece, você era meu antes mesmo de começar a trabalhar aqui na fazenda, então o trabalho que espere.
--Nada possessivo você.
--Jamais.
Me aproximei da margem e tirei a blusa de botão, a bota e a calça jeans;
--Vai entrar de cueca no rio? A água deve estar geladíssima.
--Essa é a graça. Agente só saía quando soluçava lembra?
--Você não mudou mesmo em criança?
--Antes a mesma criança do que um amargurado igual você tá sendo cara. Sorri um pouco.
Entrei cuidadosamente no rio sentindo a água fria se apossar do meu corpo;
--Você não veio pra ficar me olhando né? Tira essa roupa e entra logo.
--Olha aqui eu vou entrar, mais vou calar sua boca com uma bomba de água, espera só.
Ele tirou a bota, sua blusa e sua calça marrom clara. Mergulhou como um profissional que não sentia frio e emergiu do meu lado jogando uma mini onda na minha cara;
--Palhaço.
--Eu avisei.
--Senti falta disso. Você ainda vem muito aqui?
--Só quando minha irmã e eu temos um domingo livre, aí agente vem e dá um mergulho.
--Como ela está? A tempos não vejo a Dayanna.
--Bem.
--Posso ir vê-la algum dia desses que eu estiver aqui?
--Achei que tinha sentido minha falta e não da minha irmã.
--Gosto dos dois, mas sempre tive mais afinidade com você por que éramos travessos.
--Éramos... Não parece que passou tanto tempo.
--Ah parece, você tá um rapaz Tyler, olha pra você. Melhor que muita gente que faz academia.
--Eu trabalho duro no campo, não preciso de academia igual esses boys da cidade Espurr.
--Eu sei, não disse que você não trabalha. Aliás me conta, como tá sua vida amorosa? Lembro que gostava de uma garota que mora a umas fazendas a frente.
--Isso não é da sua conta né? E aquela menina foi embora daqui a uns tempos.
--E você nem se declarou né?
--Tenho cara de quem se humilha por amor? Não, deixo esse papel pra garotos da cidade igual...
Ele hesitou por um momento;
--Igual a mim? Ia dizer isso né? –Eu disse já ficando chateado.
--Não me leve a mal mas é isso, olhei bem pros garotos que vieram com você. Todos com estilos consumistas, aquele mais alto principalmente, bem pinta de riquinho. Aquele dos cachos definidos escuros tem mó cara de metido, o moreno fechou a cara pra mim logo quando me apresentou ele... Se seus amigos tão assim, quero nem pensar como você tem se tornado.
--Agora chega. Pra mim deu.
Nadei até a borda e vesti minhas roupas mesmo estando molhado. Peguei as rédeas de Precioso e o montei, fomos embora rapidamente dali. Juro que não podia crer no que Tyler havia dito, ele não era daquele jeito antes, “Cadê a minha metade de verão que eu conheci?”, era a pergunta que eu me fazia. Não parei até chegar de volta ao estábulo, coloquei Precioso no seu compartimento e levei Denver pra bem longe dos outros cavalos, sem que ninguém vesse eu subi pelas escadas com ele e o levei pro meu quarto. Troquei de roupa e me deitei na cama, Denver se deitou no chão perto da cama, me observando com aquele olhar penetrante e significativo.
Senti um vibrado no criado mudo, meu telefone tocava no silencioso. Pensei muito em atender, pois não estava com ânimo, no entanto ele voltou no mesmo instante em que viu o nome do Cristian na tela;
--Oi Cris, tudo bem?
--Oi, não tanto... E você?
--Indo, liguei por um motivo não muito bom.
--O que foi que houve? Você tá legal?
--Eu tô, mas aconteceu algo que acho que você precisa saber.
--Ao que se refere?
--Sabe que a escola tem um blog de fofocas né? Pois é, ontem saiu como manchete de capa, coisas horrível ao seu respeito.
--Como é? Que tipo de coisas?
--Que você havia usado o Edward por diversão, está com o Benjamin apenas para afetar a Emily e que você roubou o Lótus do Dylan.
--Como... Como é?
Eu fiquei boquiaberto com aquilo. Como que disseram essas atrocidades de mim assim sem provas? Senti cheiro de armação de cara;
--Quem é o responsável pelo blog? Vou resolver isso assim que voltar.
--Essa é a parte que acho que você vai ficar mal.
--Porque eu ficaria?
--Foi o Dylan quem postou isso. E hoje a tarde a Ema postou uma foto do grupo deles numa lanchonete. Ela, Emily, Elmon, Amun, Tiffany, Eva e o Dylan.
--O Dylan... Ele está... Ele foi pro lado deles? Não, isso não pode ser, não.
--Eu sei como deve ser difícil pra você assimilar isso, mas o pior nem foi isso. A Bella foi diagnosticada com depressão, a irmã dele uma tal de Amora disse que você tinha que saber disso.
--A Bella o que? Não, Meu Deus o que tá acontecendo ai Cristian?
--E terminaram o show deles com tudo, humilharam o Lótus, aliás... O Dylan o humilhou diante de câmeras.
--Ele teve coragem de... De fazer isso?
--Teve. Milles e eu trouxemos ele pra casa e ele dormiu agora.
--Está na casa do Lótus?
--Estou. Imaginei que se fosse você aqui... Você não iria até ter certeza que ele estaria bem.
--Obrigado por cuidar dele Cris, muito obrigado mesmo.
--Ele também é meu amigo. No entanto, queria que você estivesse aqui também.
--Eu não... Pois se eu estivesse, o Dylan saberia quem é o ser ignorante que se esconde por trás da minha aparência angelical.
--Não faça nada de cabeça quente, respira e pensa direito. Quando voltar não pensa somente em se vingar, Lótus e Bella precisam de você com eles.
--Cris, aguenta segurar as pontas até eu voltar?
--Sempre, tire seu tempo e descanse. Escute eu não encontrei a Álice, sabe se ela foi viajar?
--Ela está comigo.
--Ela foi?
--Sim.
--Achei que só iriam Edward e Benjamin.
--E ia ser, mas os planos deram uma mudada.
--Depois eu falo com ela então... Se cuida amor da minha vida.
--Cristian não começa por favor.
--Sabe que me ama e que eu amo você.
--Não quero falar disso de novo agora e ...
Um batido soa a porta;
--Espurr, posso entrar?
Era o Benjamin, meu quase namorado chegou na hora de quase encontrar algo que o magoaria;
--Entra vida.
--Oi, quem é no telefone? Tô te atrapalhando?
E agora? O que eu ia fazer meu Deus.
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Teens 3☀️ Pôr do Sol
RomanceOs finais felizes sempre são lindos, mas essa história... Está longe de ter um final. Nossos personagens desafiadores continuam sua aventura insana, prestes a descobrir muitos e muitos mais segredos escondidos. Espurr está diante de perigos que que...