Capítulo IV - Encruzilhada

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O grupo avançava pelo bosque, em fila. Sem tochas, em silêncio, tentando fazer o mínimo de ruído.

O último raio de sol já havia desaparecido. Para piorar, era uma noite de lua nova. 

Dray cavalgava à frente, lança na mão, olhando para todos os lados em nítido nervosismo. 

Logo em seguida, vinha o burro, resignado com sua carga. 

Sahha-Mayan era a terceira. Se sentia medo, era impossível perceber por sua postura. A feiticeira apenas continuava a cavalgar, altiva. 

Reynard assumira a retaguarda. Sua mão não deixava o cabo da espada. 

A cada farfalhar de folhas, todos os seus músculos se preparavam para reagir. 

Ocasionalmente uma coruja ou um corvo voava para fora. Ou viam olhos brilhando na escuridão. Lobos, animais perigosos mas tão inteligentes quanto - não atacariam um grupo daquele tamanho, mesmo com a vantagem numérica e a da noite. 

Enquanto as maiores ameaças fossem simples animais, estava tudo bem. 

Foi então que Dray subitamente parou. 

O burro também parou, pois estava parado bem atrás do cavalo marrom de Dray. 

Os outros dois não tiveram alternativa senão parar também. 

Por alguns segundos Reynard permaneceu paralisado. Dray havia visto algo. 

Deveriam ficar ali? Deveriam voltar? Não era prudente se aproximar e perguntar. 

Foi então que Dray subitamente virou seu cavalo e tentou correr...

...momento em que uma flecha aterrissou exatamente à sua frente, entre ele e o burro. 

- Maldita seja, feiticeira, maldita seja você e suas ideias - rosnou Dray. - Você matou a todos nós. 

Foi então que eles saíram de todos os lados. 

Da frente da estrada, de trás. Dos lados, de trás das árvores. Tochas se acenderam. 

Eram pelo menos uma dúzia. Bandidos maltrapilhos, imundos. Reynard conseguia sentir de longe o cheiro de suor, urina, sêmen e álcool. Os homens os cercavam, analisando cada um dos viajantes. 

- Hoje é nosso dia de sorte! - disse um deles, ao que se seguiu uma risada maliciosa do grupo. - Esse burro parece estar completamente empilhado com coisas caras. 

- Hoje as putas de Darza vão trabalhar até o sol raiar! - e mais urros satisfeitos ecoaram pelo bosque. 

- Vou querer essa espada. - Reynard observou um homem esquálido se aproximar dele. Mesmo a cinco passos de distância ele conseguia sentir seu hálito fétido. - Posso, Vecco?

- Nem tente, Sassio. No máximo eu te empresto para coçar o cu. - disse um homem que vinha à frente com uma espada na mão, claramente mais bem alimentado e mais preparado para lutar. Reynard observou que ele tinha a postura de um guerreiro treinado. Fácil imaginar como alguém como ele obteria a liderança de um bando de esfarrapados viciados. Um desertor, talvez. Claramente perigoso. 

Todos gargalharam mais uma vez. Menos, claro, os três viajantes. 

O homem chamado Vecco se aproximou de Dray e o olhou de cima a baixo. Depois sorriu ao ver o burro. Por fim, sua atenção finalmente foi capturada pela figura usando a capa vermelha. 

- Eu me pergunto por que viajantes tão ricos e bem armados resolvem passear no meio do bosque Vivitranno no meio da madrugada. Armas rúnicas caras, animais caros e bem nutridos...e uma dama coberta em ouro e sedas. 

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