Capítulo VIII - Perto do fogo

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Uma faixa dourada se estendeu no horizonte ao leste, começando a iluminar o céu ainda tingido de índigo, as estrelas começando a esmaecer. 

Seis horas da manhã. 

Todo o grupo estava de pé e montado. 

- Boa viagem até Darza - disse Almando, acariciando Kohe-Dahn. - A estrada até lá está bem patrulhada. Seu grupo não deverá ter problemas. 

- Quanto tempo até Darza? - disse Dray.

- Três ou quatro dias, dependendo do nosso ritmo. - disse Reynard. - Não vamos abusar dos animais sem necessidade. 

- Há alguma outra estalagem até lá? - disse Sahha-Mayan. 

- Não. Teremos que acampar. Mas é como Almando disse, a estrada é segura. Desde que expulsamos os sahalani há dois anos, a Igreja reforçou a segurança nos arredores. 

- Pegaram os suprimentos que preparei? - disse Eranna, olhando o burro. 

- Pegamos tudo. - sorriu Sahha-Mayan. - Eu lhes agradeço pela gentileza e hospitalidade. 

Eranna sorriu. Almando parecia hipnotizado. Colizio ainda parecia um pouco desconfiado...mas estava claramente se dobrando também. Reynard sorriu levemente. A mulher tinha esse estranho poder sobre todos. Era interessante ver como apenas sua beleza era suficiente para atrair simpatia e abrir portas. 

Inevitavelmente sua mente deslizou para a imagem vívida de Sahha-Mayan desmontando as defesas de algum rei velho, seboso, decrépito de algum canto por Ennaria afora, apenas com seu encanto avassalador. Imaginou mercadores abundantes pagando o preço de um pequeno castelo apenas para tocar aquela pele imaculada. 

Não era problema dele, claro. Era o que ele dizia para si mesmo. Mas...

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O dia de cavalgada passou rápido. 

A paisagem ao redor era deslumbrante. O rio Broccio brilhava, cada vez mais caudaloso e poderoso, à direita. Por todos os lados, as pradarias continuavam a se estender, com alguns pontos arborizados. Pastores surgiam de todos os cantos com gado e ovelhas. Crianças brincavam alegremente. Patrulhas vestindo o branco e dourado da Igreja passavam diversas vezes por dia. Flores multicoloridas ladeavam a estrada que se tornava mais e mais bem cuidada conforme avançavam. 

Aquela era claramente uma área mais povoada e segura. O povo vivia em paz. 

Reynard amava Darza. 

Quando era criança, ele ansiava pelos dias em que Erwald o trazia em seu cavalo para ver os artistas mambembes, comer doces no mercado e pescar nas redondezas. 

Diferentemente do castelo, onde ele era tratado como uma inconveniência na melhor das hipóteses e como um pária na pior delas, em Darza ele era acolhido e amado. 

Vendedores lhe davam provas de alimentos de graça; artistas o ensinavam pequenas acrobacias; soldados imponentes o saudavam; simpáticos cães vadios brincavam com ele; até mesmo as prostitutas - e ele, claro, na época nem sabia o que isso significava - o enchiam de abraços e carinhos. 

Certamente Erwald mencionara para todas essas pessoas algo sobre uma criança sem mãe que estava sob seus cuidados. E o povo da cidade tomou para si a tarefa de fazer uma criança feliz. Ao menos uma vez por semana. 

Enquanto montava o acampamento numa clareira no bosque próximo à estrada naquele fim de tarde, Reynard assobiava feliz. Ir a Darza não era bem uma aventura; era um retorno ao passado, a um canto morno e confortável da vida. 

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Os dois homens se ocuparam de pescar. Tentariam não usar as conservas entregues por Eranna o máximo possível; poderiam ser úteis em um momento em que o acesso à comida fresca seria mais difícil. 

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