Capítulo LIII - O nortenho

12 1 0
                                    

Laeran saiu dos aposentos de Gamaz ebn Harim, cansado, e olhou para a ampulheta no corredor. 

Já passava das onze da noite. Era um bom horário para encerrar. Ele entrevistaria Algvar no dia seguinte...

...ou não. 

Laeran quase saltou de susto quando a porta do quarto de Algvar se abriu - e ele saiu de lá, nu da cintura para cima e usando apenas um calção, os cabelos loiros e muito longos soltos e despenteados. 

- Onde pensa que vai, sargento?

- Boa noite, senhor. - disse Laeran. 

- Que soldadinho educado. - Algvar disse, se aproximando com seu gingado usual. - Boa noite, sargento. E então? Entrevistou todos os outros, mas não vai me entrevistar?

- Eu...acho que está um pouco tarde. Não queria incomodar. 

- Você acha que eu tenho cara de quem dorme com as galinhas, McOlthen? - ele se virou para a porta de onde havia acabado de sair. - Anda. Para dentro. 

- Sem querer ser grosseiro... - disse Laeran - ...o senhor dá a impressão de que estava na cama antes de falar comigo. 

- Eu estava. - ele deu um sorrisinho. - Mas não estava dormindo. Estava só polindo a espada. 

- O senhor...não usa um mach-

- Entra logo, McOlthen. 

Laeran engoliu em seco. A última coisa que queria era ficar sozinho num quarto trancado com Algvar. 

Não porque ele tivesse alguma desconfiança especial em relação a Algvar. Mas porque todo mundo sabia...

Algvar era, basicamente, louco

Laeran entrou no quarto...e foi surpreendido pelo mais absoluto caos. 

A primeira coisa que viu foi a quantidade de garrafas de vinho abertas espalhadas pelo chão.

Roupas se amontoavam por todos os cantos. A armadura de Algvar formava uma pilha prateada e indistinta em um canto, junto com diversos objetos. 

Laeran teve a impressão de ouvir o som de ratos vindo de algum lugar. 

A porta para os aposentos privados estava aberta e ele podia ver uma cama desarrumada ali. 

A mesa era o único lugar do quarto que parecia completamente limpo. Algvar provavelmente não a usava nunca. 

E havia...alguns...

- O que acha? - disse Algvar, alegremente, mostrando um dos animais empalhados que eram basicamente o único objeto decorativo ali. Um gato. 

Era...um trabalho bem feito, apesar de tudo. 

- É...você quem faz isso? 

- Apenas um pequeno passatempo meu. Não precisa ficar assustado, sargento. 

- Seus animais não me assustam. 

Algvar se aproximou e tocou-lhe o queixo. Por um instante, os olhos verdes do sargento encontraram os azuis do major. Ele sorriu, um sorriso aterrorizante. 

- Seus olhos dizem o contrário. Você está com medo. Cuidado para não mentir, McOlthen. Lembre-se dos seus juramentos. 

"Não tenho medo...dos seus animais", pensou Laeran, seu coração batendo no peito como um tambor. 

- Pode...procurar algum lugar para sentar por aí. - disse Algvar. - Acho que tem umas duas cadeiras embaixo de uma dessas pilhas. 

- Huh, obrigado. Eu posso ficar de pé mesmo. 

BrasasOnde histórias criam vida. Descubra agora