Capítulo XII - A escuridão na Cidade Iluminada

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Erwald levantou a cabeça do pergaminho na qual seus olhos estiveram mergulhados pela última hora e suspirou.

Já anoitecera e ele ainda não havia acendido as velas.

A pior parte de seu trabalho como major-cavaleiro era a papelada.

Mandar cartas aqui e acolá, analisar pedidos, ler relatórios, decidir o que encaminhar para o Lorde-Comandante.

Quando jovem, ele se enchia de alegria ao montar em seu cavalo e sair pelo mundo afora, descobrindo o mundo e combatendo o mal.

Agora, embora não fosse propriamente um homem velho, já se aproximava o crepúsculo de sua vida, e quanto mais ele subia na hierarquia da Ordem, mais ele parecia um político e menos um guerreiro.

Os boatos sobre a sucessão do Lorde-Comandante o inquietavam especialmente. Ele tinha certeza de que não seria aceito com facilidade pela tropa.

E, como um bom soldado de Korl, ele precisava ser honesto - incluindo consigo mesmo.

Ele não desejava tal posição.

Ele assumiria o fardo por dever. Mas ele não tinha sanha por poder. Ele sentia falta de sua vida simples. Sentia falta de quando era apenas um garoto com muita força nos braços e pouco juízo, das pancadas com a espada de madeira que recebia de Vortrang quando tentava atacá-lo nos treinos apenas com força bruta e sem um pingo de técnica.

"Última lâmina, huh". De fato, ele mal lembrava da última vez em que havia visto a sua própria lâmina desembainhada, pronta para atacar.

Ele não pôde evitar um sorriso ao pensar em Reynard.

Uma semana havia se passado desde que ele partira do castelo.

Estaria ele em Darza? Ou talvez já tivesse avançado para algum outro lugar?

Seus temores sobre o seu protegido não haviam ainda se acalmado. Mas uma parte dele estava feliz, pois sabia que Reynard estava feliz. Ele mesmo um dia estivera feliz na mesma posição.

Foi então que ele ouviu um som suave atrás dele. Como um espirro abafado.

Erwald estava no mais alto piso do prédio principal do Castelo. Ninguém tinha acesso àquela área exceto um seleto grupo de servos e os mais altos oficiais da Ordem.

Ele se retesou.

"Então vai ser assim, huh".

Erwald olhou ao redor. Se existia alguém naquela sala, estava escondido. Mas ele fazia uma boa ideia de onde a pessoa estava.

- Eu sei que você está aí. Mostre seu rosto e poderei ser misericordioso.

.

.

.

Sem resposta.

O cavaleiro sacou uma adaga da sua bota. A espada estava longe, mas aquilo deveria servir.

- Eu lhe dou mais uma chance de se mostrar antes que eu o mate. Contarei até três e atirarei a adaga EXATAMENTE onde você está. Um, dois...

Subitamente, uma figura pulou de trás de uma grande planta - basicamente o único esconderijo plausível na sala. Uma ideia estúpida que nenhum adulto com algo dentro do crânio teria...

...mas que pareceria adequada para um menino de nove ou dez anos como aquele que agora tremia no chão, a calça manchada de urina.

- P-por favor, senhor, eu imploro por piedade, não me mate!

- Você não é... o escudeiro de Reynard?

Kleon olhou para Erwald, os olhos cheios de lágrimas.

- O que está fazendo aqui, moleque? - Erwald sentia vontade de rir, mas ele precisava ser severo. Era o seu dever. Aquele era um escudeiro, um menino jovem demais até mesmo para ser um cadete...e que estava dentro dos aposentos pessoais de um major sem permissão.

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