Capítulo XXX - Caminhando sobre gelo fino

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- Piehe-Zystra deseja sua presença agora em seus aposentos. E quer que leve o cavaleiro junto.

- Quando eu terminar aqui, irei. - disse Sahha-Mayan, desdenhosa. - Pode voltar para o seu canil. Seu recado foi dado. 

Naldrach olhou para a feiticeira. Seus olhos transpareciam ódio. Ele mesmo era uma torre dentro da Torre; o homem era maior que Reynard, que já era alto, e também era mais musculoso. Provavelmente o guardião era maior até que o temível Ceifador. 

Aquela era uma visão que intimidaria a maioria das pessoas, mas não a Sahha-Mayan. 

- Não ouviu o que eu disse? 

- Piehe-Zystra disse AGORA. 

- E eu ouvi e ignorei. Sou uma Arquimaga, eu não obedeço ordens de ninguém a não ser do próprio Conselho. Nem as dela, e muito menos as suas. 

- A bondade de Piehe-Zystra será o seu fim. Ela criou um monstro. - disse Naldrach. - Se ela tivesse disciplinado adequadamente você na hora certa...

- ...como você me disciplinou naquele dia em Arania? 

"Quê?!" Reynard arregalou os olhos. 

- Talvez. - retrucou Naldrach, encarando Sahha-Mayan. 

Mas foi Dray quem falou. 

- Mestre. O senhor sabe que eu o respeito acima de qualquer outro homem na Fortaleza. Mas tenho o dever de adverti-lo para que não ameace minha feiticeira. 

Naldrach riu levemente. 

- Não se preocupe, Dray. Eu não vou fazer nada com uma feiticeira dentro da Torre, na frente do guardião dela, dentro da Escola Básica ainda por cima. Mesmo que ela mereça. 

- Pois então enfie logo o rabo entre as pernas e saia. Você não pode fazer nada contra mim e sabe disso. Suma. 

Naldrach rosnou e saiu, encarando Sahha-Mayan até o último segundo...

...em que ele então olhou para Reynard por um instante. 

No momento em que o guardião gigante desapareceu no corredor, Dray suspirou. 

- Você PODERIA tentar parar de antagonizá-lo, sabe. 

- Quem sabe no dia em que ele morrer. Mas talvez eu ainda dê um chute nele para me certificar. Ou só para comemorar mesmo. 

- Mayan...

- Vamos logo. - a feiticeira suspirou. - Dray, você fica. Aparentemente Piehe-Zystra só quer falar comigo e com Reynard. 

- Excluído de novo. - suspirou o guardião. - Nem queria mesmo. 

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Sahha-Mayan e Reynard subiram pelo elevador até o andar 110. 

Piehe-Zystra liberara o acesso do visitante ao andar onde ficavam os aposentos das Arquimagas de Primeiro Nível. Ou ao dela, mais especificamente. Segundo Sahha-Mayan, as Arquimagas de Primeiro Nível ocupavam todos os andares do 110 ao 115. 

Não que existissem tantas assim. Reynard logo entendeu ao entrar na sala. 

As Arquimagas de primeiro nível eram o ponto mais alto da hierarquia abaixo, claro, da Primeira Arquimaga, escolhida por voto entre as feiticeiras do Conselho. Era de se esperar que suas instalações fossem luxuosas. 

E de fato Reynard entrou em uma sala elegante que lembrava tanto um palácio quanto um laboratório. O lugar tinha aparatos, poções e grimórios para todos os lados, tudo cuidadosamente arrumado. A decoração era toda refinada, em tons de cinza. 

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