- Meu nome é Dray Lorthas! Muito prazer em conhecê-la, milady!
A jovem feiticeira observou o garoto à sua frente.
Seus cabelos castanhos e ondulados pareciam ter vida própria, se espalhando em todas as direções a partir da cabeça. Seus olhos também eram castanhos e vivazes, emoldurados por sobrancelhas escuras, grossas e expressivas. Seu rosto era longo, com uma estrutura óssea marcante e um nariz afilado.
Um menino bonitinho, ainda que um pouco desgrenhado.
Havia, porém, algo que o tornava mais bonito.
Era aquele sorriso. Um sorriso enorme, com covinhas adoráveis. Mas, acima de tudo...
...era a sinceridade e a pureza que ela percebia naquele sorriso.
A garota que agora se chamava Sahha-Mayan tinha reconhecido bondade em pouquíssimas pessoas desde que pisara no inferno. E mesmo pessoas que ela achava que eram boas lhe fizeram mal em algum momento.
Esse seria o seu guardião, aparentemente. O menino - e um dia, o homem - que estaria acorrentado a ela pelo resto da vida. Obrigado pelo dever a defendê-la até a morte.
Ao vê-lo pela primeira vez, alguns pensamentos vieram à sua cabeça:
"Será que ele se ressente deste lugar tanto quanto eu?"
"Será que ele quer ir embora?"
"Será que, no fundo...ele me odeia?"
Mas o menino não parecia ter nenhum ressentimento em relação a ela. Parecia animado, até.
- H-hm...eu...falei algo de errado? - ele disse, parecendo um filhote que levou um chute.
Foi então que ela percebeu que ainda não havia respondido.
Sahha-Mayan se levantou, o tecido vermelho das suas vestes flutuando no vento.
Ela percebeu quando o garoto praticamente esqueceu de respirar.
Ela cresceu vendo como Piehe-Zystra causava esse efeito nas pessoas.
"Então...agora eu também posso, huh."
Sahha-Mayan fez uma reverência elegante.
- É um prazer conhecê-lo, meu guardião. Espero que esse seja o início de uma gloriosa parceria.
Dray pareceu levemente confuso...e se sentou ao lado dela no banco do jardim.
Os jardins da Torre. Um andar inteiro repleto de plantas e flores...sem contato algum com o sol lá fora. Plantas mantidas vivas apenas com mana e magia.
Havia, claro, magia IMITANDO a luz do sol, que parecia banhá-los gentilmente naquela tarde.
Uma obra-prima da engenharia mágica.
Mas para Sahha-Mayan, aquilo era só mais um lembrete do quão FALSO aquele lugar era. Do quão estéril era a Torre por baixo da sua riqueza, do seu poder, da sua beleza.
Ela trocaria tudo aquilo sem pestanejar pela sua terra natal.
Especialmente...especialmente depois de...
- Eu...não sabia que precisava me apresentar com mais formalidade. - o menino disse, suavemente. - Peço perdão se a ofendi.
- Não me ofendeu. - ela respondeu. - Mas...como uma feiticeira, é como devo fazer. É como...esperam que eu faça.
- Entendo. Mas...você não precisa fazer nada disso comigo. Se não quiser, claro. Você pode ser você mesma e fazer como desejar.
Sahha-Mayan riu amargamente. Ela sabia que não podia mais ser ela mesma. E a cada dia estava mais longe de si mesma, cada pedaço seu sendo arrancado e substituído por algo que ela não reconhecia e não queria.
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Brasas
FantasyDois guerreiros e uma misteriosa feiticeira partem para cumprir uma missão secreta, que acaba revelando intrigas, conspirações e seus próprios segredos. Esta é a versão "beta" da história, por assim dizer. Não está revisada e ainda precisa ser polid...