Capítulo XV - Não tema o Ceifador

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Sahha-Mayan saiu silenciosamente, enquanto as irmãs se abraçavam. 

Não pôde evitar um leve sorriso enquanto fechou a porta, devagar. 

Era a primeira vez que ela via um bebê nascer. 

Era raríssimo ver mulheres grávidas na Torre, por diversas razões. 

"E é melhor assim", pensou a feiticeira, enquanto subia as escadas. 

Um dia, quando ainda era uma menina, ela pensou que seria uma mãe. Que seu destino era apenas se casar e então parir meia dúzia de crianças para a satisfação e afirmação de masculinidade e fertilidade de algum homem. Que era uma exigência da sociedade em que vivia da qual não conseguiria escapar. 

Amargamente, ela refletiu como havia escapado. E que sua vida agora era infinitamente pior que o destino cinzento que o futuro lhe reservava antes. 

"Tudo sempre pode piorar", ela sorriu com olhos sombrios. 

Ela finalmente chegou ao térreo silencioso naquela madrugada e começou a subir direto para o primeiro andar. 

Até que uma voz a paralisou onde estava. 

- Soube que é uma parteira agora. Pelo som de choro de bebê, parece ter se saído muito bem. 

Sahha-Mayan se virou em direção à voz masculina e familiar. 

Reynard estava ali, no canto da sala. Bem acordado. Sentado sob um raio de luz tênue que começava a emanar da janela. 

Ela sentiu a água se acumular nos olhos. Mas logo sufocou as lágrimas e vestiu uma máscara de satisfação contida. 

- Pensei que suas ordens médicas eram as de se manter em repouso. 

- Ordens médicas? Eu estava sob os cuidados de um médico?

- Não. Mas na falta de um, você conseguiu a segunda melhor coisa: uma feiticeira. 

Reynard riu:

- Peço desculpas então pela desobediência. 

- Eu pensei que Lorthas estava tomando conta de você. Ele não lhe disse para permanecer deitado?

- Ele estava sim ao meu lado. E sim, ele disse isso. Mas agora que estou acordado, fica um pouco estranho ter um homem como babá. Eu lhe disse para descansar e...fiquei entediado. Resolvi descer e esperar por você. 

- Este é um excelente horário para dormir, sabe. 

- Pelo que eu soube, passei os últimos três dias dormindo sem parar. A última coisa que quero ver agora é uma cama. 

Sahha-Mayan caminhou até ele, um sorriso faceiro no rosto. 

- Perdoado, então. Aceito seus argumentos. E...

Ela olhou para os próprios braços. 

- Eu lhe daria um abraço, mas acredite em mim, você não quer me abraçar agora.

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Reynard foi rapidamente reconduzido a seu quarto por Dray e ali permaneceu pelo resto do dia. 

Sahha-Mayan, por sua vez, dormiu o dia quase inteiro, finalmente vencida pelo cansaço acumulado. 

No início da noite, Orana bateu à porta de todos os hóspedes para avisá-los de que haveria, naquela noite, a apresentação de um bardo e que o famoso pão do Abraço de Garanna seria servido. 

Reynard e Dray, no horário combinado, já aguardavam sentados em uma mesa discreta no fundo do salão. A música ainda não havia começado, mas o aroma da comida já tomava conta do ambiente. 

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