Capítulo LI - Feridas do passado

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- Mucosa...pálida? - repetiu Laeran. 

- Pode ser indício de alguma doença. Ou...

- Envenenamento? - disse Belthor. - Mas...por que alguém se daria ao trabalho de envenenar o comandante E depois empalá-lo? Não parece um pouco de...exagero? 

- Pode ter sido algo para deixá-lo mais vulnerável. - disse Norilez. 

- Deixar um homem de 82 anos mais vulnerável? - disse Laeran. 

- Você...tem um ponto. - disse Norilez, pegando um pano limpo e limpando a boca do cadáver por dentro com ele, para então inserir em um tubo de ensaio e lacrá-lo. 

- O que vai fazer com isso? 

- Há uma célula da Liga dos Alquimistas em Darza. Se houver algum resíduo de veneno, eles podem conseguir identificar. 

A Liga dos Alquimistas, huh...

Essa instituição é extremamente poderosa e ligada aos feranitas, seus principais financiadores. 

Mas a Igreja, como um todo, tem por eles quase a mesma aversão que tem pela Torre. 

Os alquimistas dizem ser comprometidos somente com a verdade. Mesmo com suas ligações com os feranitas, eles afirmam ser ferrenhamente laicos e comprometidos com a ciência. 

Havia boatos, porém, de que esse comprometimento, às vezes, vai muito além do que poderia ser considerado...legal. 

Laeran fez que sim com a cabeça e anotou, rapidamente: 

"Veneno? Se sim, por quê?" 

- Há uma única ferida punctória penetrante cavitária, com orifício de entrada no dorso e de saída logo abaixo do peito, compatível com perfuração por uma grande espada. O padrão das manchas de sangue no corpo sugerem que a perda de sangue foi causada por esse ferimento e, consequentemente, essa foi a causa da morte. As manchas de sangue sugerem, ainda, que o corpo ficou posicionado de maneira inclinada, com a cabeça em nível inferior aos pés. O padrão das manchas de hipóstase confirma isso. 

Norilez finalmente pausou sua fala...e olhou para todos os presentes, finalmente fixando o olhar em Erwald. 

- E...agora...vamos abrir o cadáver. 

- Continue. - disse Erwald, seu olhar fixo no corpo ensanguentado sobre a mesa. 

Laeran fez uma expressão de dor. 

Norilez suspirou...e pegou seu bisturi. 

- Creio que não será necessário abrir a cabeça. Não há nenhum ferimento aparente. Vamos...direto para o tronco. 

Após uma pequena pausa...Norilez abriu, com alguma dificuldade...

...um...

...dois...

...três grandes talhos no tórax e no abdômen do corpo, formando um Y. 

A sala agora estava tomada por um cheiro que Laeran jamais esqueceria. 

Norilez continuou, sua voz soando mais cansada e exaurida pelo esforço físico enquanto ele expunha as vísceras do cadáver. 

- Intestinos de dimensões e aparência normais. Baço de dimensões e aparência normais. Pâncreas...

Laeran olhou para Erwald. 

O cavaleiro observava a cena sem nenhuma reação. 

Parecia completamente anestesiado. Vazio. 

- ...fígado...espere...

- Espere?

- Há...algum grau de dano hepático. Difícil discernir se é agudo ou crônico. Talvez ambos. 

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