Capítulo III - Um caminho e dois deuses

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- Lady Sahha-Mayan - respondeu Reynard fazendo um breve aceno de cabeça, um pouco mais tarde e lentamente do que pretendia.

- Sei que já se conhecem, mas infelizmente não temos tempo para amenidades. - continuou Vortrang. - Por gentileza, Lady Sahha-Mayan, pode se sentar à mesa no lugar de honra. Seu acompanhante pode se sentar no outro lugar vago. 

O acompanhante seguiu Sahha-Mayan e entrou na sala. 

Cabelos castanhos ondulados. Barba de alguns dias por fazer. Uma cicatriz no lábio inferior. Portando uma lança. E, além da lança, uma expressão de eterno desdém. 

Reynard já havia visto aquele rosto antes. 

 - Seja bem vindo, Guardião Dray Lorthas - disse Vortrang. 

Dray fez um aceno de cabeça para Vortrang e passou o olhar sobre todos os presentes. Ao ver Reynard, não pôde evitar um sorrisinho de deboche. Reynard revirou os olhos. "Sério? Ele não cresceu absolutamente NADA em dez anos?"

Dray então se sentou à frente de Reynard, ambos à esquerda e à direita de Sahha-Mayan, respectivamente. 

- Vou ser breve - disse Vortrang. - Lady Sahha-Mayan, o Guardião Dray Lorthas e o tenente-cavaleiro da Primeira Ordem de Korl, Sir Reynard de Drämeanor, partirão em uma missão para investigar o que está acontecendo. Essa missão pode durar uma semana, seis meses ou dez anos. Não importa. Ela somente será cumprida quando seu grupo finalmente descobrir o que está acontecendo, achar uma solução e levá-la a cabo. 

- Senhor. - Reynard começou a falar. - Eu me coloco à disposição da Ordem para o que for necessário. Mas há algum ponto a partir do qual começar? Entendo ser um pouco vago iniciar uma missão a partir de um perigo não definido, que não se sabe quando e como terá consequências. 

- Lady Sahha-Mayan lhe dará mais detalhes pelo caminho. - continuou Vortrang. - Não há tempo e há também as questões que discutimos antes. "Claro, o traidor", pensou Reynard. 

- Não há...tempo?

- Os três partirão ainda esta noite. - disse Vortrang. - Seu cavalo já está preparado, o mesmo quanto aos cavalos dos dois visitantes. Também já preparamos um burro com suprimentos, incluindo uma sacola com moedas de ouro e trajes adequados para viajar. Temo que não haja tempo para que você se troque, porém. Você precisa sair agora. 

Reynard olhou para o rosto de Vortrang chocado. 

Ele entendera corretamente? Ele deveria simplesmente levantar dali e se aventurar no meio da noite? Com animais, ouro, suprimentos caros e uma mulher? 

Os majores pareciam tão chocados quanto ele. Os seis se entreolhavam, possivelmente especulando uma possível senilidade de Vortrang a aquela altura. 

- Não faça essa cara, tenente. - disse Vortrang. - É contraintuitivo, mas é o melhor curso de ação. Se vocês saírem agora, discretamente, em um horário em que a maior parte dos habitantes do castelo já se retirou para seus aposentos, não serão vistos por ninguém fora desta sala, o que é essencial para o sucesso da missão. Além disso, os arredores do castelo são patrulhados com frequência e são seguros mesmo à noite. Quando seu grupo sair da zona de influência do castelo, já terá amanhecido. Vocês terão doze horas para alcançar a estalagem mais próxima antes que escureça novamente. 

"Se cavalgarmos sem parar", pensou Reynard. "Mas estaremos com um burro que levará uma carga pesada. E além disso..."

Reynard olhou para Dray. Guardião ou não, o homem mais parecia um bandido comum. Mas ele tinha a sensação de que o homem sabia cavalgar bem. Simplesmente por sua certa aura de rusticidade. 

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