O terceiro dia havia se passado e Reynard continuava inconsciente. A noite viera, mais uma vez, e com ela a lua, cada vez maior. Provavelmente já era madrugada àquela altura.
Os delírios pareciam estar melhorando. Ele estava cada vez mais quieto e seu rosto recuperava lentamente a cor. Seu sono parecia tranquilo e sua respiração calma.
Muito provavelmente ele recobraria os sentidos em breve.
Sahha-Mayan, após o descanso combinado com Dray, havia voltado ao seu lado.
Todos os dias ela usava feitiços de fortalecimento para ajudar seu corpo a recuperar as forças por si próprio.
Sua reserva de mana estava perigosamente baixa e ela se sentia terrivelmente cansada.
Às vezes a feiticeira se perguntava o porquê de estar fazendo aquilo.
Era um pouco por culpa sim. Reynard havia levado a pior por puro azar. Aquela armadilha claramente havia sido feita para ela e para Dray.
Mas...havia algo mais.
Sahha-Mayan se lembrava ainda com ternura do dia em que aquele menino tímido e gentil a levara para passear em um castelo. Do dia em que esse mesmo menino a impedira de fazer algo terrível.
Eles mal se conheciam. Mas naquelas poucas horas aquele menino demonstrara mais amabilidade e respeito por ela que todos os adultos que passaram por sua vida nos últimos anos.
Quando os primeiros esboços da missão foram traçados ainda na Torre e foi decidido que eles precisariam da presença de um membro da Igreja - por se tratar de assunto relacionado a divindades - Sahha-Mayan imediatamente pensou em Reynard.
Mas ela também teve medo.
Muitos anos haviam se passado. E se ele tivesse mudado? E se ele tivesse perdido o que fazia dele alguém tão especial?
Sahha-Mayan tinha certeza de que ela mesma tinha mudado. E muito.
Mas então ela o encontrou e viu que por baixo do corpo crescido e das maneiras mais refinadas, ele ainda era, no seu âmago, o mesmo.
Eles ainda eram essencialmente estranhos. Mas ela se sentia ligada a ele de maneira irrevogável e inexorável. E tinha certeza de que ele sentia o mesmo. O porquê disso era óbvio. Era a mesma razão pela qual Dray fora um dia escolhido para ser o seu guardião.
E então o mesmo menino que um dia a abraçara, trêmulo, porque ela tentara tirar a própria vida agora arriscou a sua própria vida por ela.
Sahha-Mayan não podia ignorar isso.
Ela garantiria a sobrevivência do cavaleiro. Era o mínimo que deveria fazer.
E era essa a única razão.
Era o que ela repetia para si mesma enquanto olhava para o rosto do cavaleiro enquanto este descansava tão placidamente.
Ali, dormindo, ele parecia vulnerável e indefeso. Totalmente diferente da figura gloriosa em metal prateado que ela vira partir a cavalo poucos dias antes.
Sahha-Mayan acariciou-lhe o rosto.
Sua pele estava mais morna agora e ele não suava. Ela sorriu, satisfeita. E então o sorriso desapareceu, deixando no lugar uma expressão confusa.
Por alguma razão, ela continuava a aproximar seu rosto do dele. Era como se algo mais poderoso que ela a puxasse.
Ela agora estava tão perto que conseguia sentir a respiração dele no seu próprio rosto...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Brasas
FantasyDois guerreiros e uma misteriosa feiticeira partem para cumprir uma missão secreta, que acaba revelando intrigas, conspirações e seus próprios segredos. Esta é a versão "beta" da história, por assim dizer. Não está revisada e ainda precisa ser polid...