Capítulo XIV - O poder de uma mulher

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O terceiro dia havia se passado e Reynard continuava inconsciente. A noite viera, mais uma vez, e com ela a lua, cada vez maior. Provavelmente já era madrugada àquela altura.  

Os delírios pareciam estar melhorando. Ele estava cada vez mais quieto e seu rosto recuperava lentamente a cor. Seu sono parecia tranquilo e sua respiração calma. 

Muito provavelmente ele recobraria os sentidos em breve.

Sahha-Mayan, após o descanso combinado com Dray, havia voltado ao seu lado. 

Todos os dias ela usava feitiços de fortalecimento para ajudar seu corpo a recuperar as forças por si próprio. 

Sua reserva de mana estava perigosamente baixa e ela se sentia terrivelmente cansada. 

Às vezes a feiticeira se perguntava o porquê de estar fazendo aquilo. 

Era um pouco por culpa sim. Reynard havia levado a pior por puro azar. Aquela armadilha claramente havia sido feita para ela e para Dray. 

Mas...havia algo mais. 

Sahha-Mayan se lembrava ainda com ternura do dia em que aquele menino tímido e gentil a levara para passear em um castelo. Do dia em que esse mesmo menino a impedira de fazer algo terrível. 

Eles mal se conheciam. Mas naquelas poucas horas aquele menino demonstrara mais amabilidade e respeito por ela que todos os adultos que passaram por sua vida nos últimos anos. 

Quando os primeiros esboços da missão foram traçados ainda na Torre e foi decidido que eles precisariam da presença de um membro da Igreja - por se tratar de assunto relacionado a divindades - Sahha-Mayan imediatamente pensou em Reynard. 

Mas ela também teve medo. 

Muitos anos haviam se passado. E se ele tivesse mudado? E se ele tivesse perdido o que fazia dele alguém tão especial?

Sahha-Mayan tinha certeza de que ela mesma tinha mudado. E muito. 

Mas então ela o encontrou e viu que por baixo do corpo crescido e das maneiras mais refinadas, ele ainda era, no seu âmago, o mesmo. 

Eles ainda eram essencialmente estranhos. Mas ela se sentia ligada a ele de maneira irrevogável e inexorável. E tinha certeza de que ele sentia o mesmo. O porquê disso era óbvio. Era a mesma razão pela qual Dray fora um dia escolhido para ser o seu guardião. 

E então o mesmo menino que um dia a abraçara, trêmulo, porque ela tentara tirar a própria vida agora arriscou a sua própria vida por ela. 

Sahha-Mayan não podia ignorar isso. 

Ela garantiria a sobrevivência do cavaleiro. Era o mínimo que deveria fazer. 

E era essa a única razão. 

Era o que ela repetia para si mesma enquanto olhava para o rosto do cavaleiro enquanto este descansava tão placidamente. 

Ali, dormindo, ele parecia vulnerável e indefeso. Totalmente diferente da figura gloriosa em metal prateado que ela vira partir a cavalo poucos dias antes. 

Sahha-Mayan acariciou-lhe o rosto. 

Sua pele estava mais morna agora e ele não suava. Ela sorriu, satisfeita. E então o sorriso desapareceu, deixando no lugar uma expressão confusa.

Por alguma razão, ela continuava a aproximar seu rosto do dele. Era como se algo mais poderoso que ela a puxasse. 

Ela agora estava tão perto que conseguia sentir a respiração dele no seu próprio rosto...

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