Capítulo XIX - Perigo invisível

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O grupo entrou na biblioteca no dia seguinte, passando pelos luminares e fiéis com indiferença...

...fingida. 

O cavaleiro mantinha um exterior frio. Mas o coração de Reynard batia tão forte que tinha a impressão de que quase conseguia ouvi-lo. 

Dray caminhava com uma estranha rigidez e tensão. 

Sahha-Mayan, como sempre, usava sua máscara invisível, a máscara que revelava apenas seu belo rosto mas nada do que se passava no cérebro atrás dele. Era impossível saber o que ela sentia ou pensava. 

Estava usando a roupa mais discreta desde que começaram a viajar juntos: um vestido longo cinza, sem decote algum, com gola alta. O vestido era completamente liso e estava ornamentado apenas com um cinto de metal escuro, com um rubi na ponta. Sua capa era cinza-escura com bordados em amarelo e vermelho. Seu cabelo estava completamente preso e coberto pelo capuz. Até mesmo a maquiagem era leve e sóbria. Os únicos sinais de luxo em sua indumentária era a qualidade do tecido e os brincos de diamantes que pendiam de suas orelhas. 

Reynard, quando olhou para ela pela primeira vez naquele dia, pensou em uma fogueira. 

Uma que um dia esteve acesa, e queimou, e queimou, até que as chamas se apagassem quase completamente...mas que continuou em brasas,  brasas escondidas sob as cinzas, quietas em sua fúria calma, apenas esperando para queimar novamente. Brasas brilhantes como aqueles olhos hipnóticos e impossíveis de ler. 

Sahha-Mayan, naquele momento, era uma pilha de cinzas...sob as quais ardiam brasas, brasas ardentes e ocultas como seus cabelos flamejantes escondidos sob o capuz. 

Ela era uma mulher com um objetivo. E nada o desviaria dele. 

Ela caminhava, altiva, à frente do grupo. 

Os três encontraram Irinio após passarem pela nave. O luminar apenas assentiu e os instou a segui-lo pela escada. 

Em alguns minutos, estavam diante da porta dos aposentos do Prior. 

Irinio respirou fundo e bateu. 

- Entrem. - a voz de Liero Gedovetti soou sombria, do outro lado da porta. O homem claramente também estava tenso. 

O luminar abriu a porta e todos entraram. 

Sahha-Mayan caminhou lentamente, em silêncio, na direção da cadeira onde o Prior se sentava. 

- Onde está? - disse o velho. 

Sahha-Mayan se virou. 

- Com licença. 

Reynard já sabia o que ela ia fazer e se virou. Dray fez o mesmo. O Prior e o luminar mais jovem rapidamente entenderam e também desviaram o olhar. 

Sahha-Mayan, virada para a porta de onde haviam acabado de sair, levantou a saia e a anágua, e então desamarrou algo que estava preso na face interna de uma de suas coxas. Um pacote embalado em um pano cru...

A mulher arrumou rapidamente suas roupas e, composta, virou-se para o grupo com o objeto na mão. 

- Eu poderia ter trazido...de uma maneira mais conveniente para uma feiticeira, mas não quis arriscar. A Biblioteca da Grande Catedral provavelmente tem algum meio de detectar magia. 

Liero assentiu:

- Fez muito bem. Por favor...deixe-me ver. 

A feiticeira se aproximou lentamente e colocou o pacote na mesa...e então começou a abrir. 

Todos na sala se retesaram, mesmo aqueles que já haviam visto o conteúdo do pacote antes. 

E então, ele estava ali. Em toda a sua glória sinistra. 

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