Capítulo XXVI - O Duque

14 1 0
                                    

Reynard, Sahha-Mayan e Dray caminhavam silenciosamente por um largo corredor do palácio, guiados por Ulzio e dois guardas. Reynard trajava sua armadura e as cores de Korl. A feiticeira se vestia luxuosamente de vermelho, embora de forma um pouco mais discreta que o usual. Dray...era apenas Dray, vestido como sempre com sua armadura de couro e suas roupas de viagem.

O lugar, como era de se esperar, era luxuoso e bem construído; a luz natural daquela tarde entrava eficiente pelas claraboias e pelos vitrais, banhando todo o salão. Belos tapetes com motivos orientais - provavelmente importados a preços fabulosos - decoravam cada corredor pelo qual passavam.

Quando, por fim, chegaram a um salão amplo com uma grande porta dupla no fim, Ulzio entrou pela porta e pediu que aguardassem. 

Os três observaram uma trio de pinturas na parede. 

Ali, na enorme pintura do meio, estava retratado o Duque Bario Gedovetti, vestido com uma armadura completa de placas - com exceção do elmo - e usando sua capa púrpura e preta, as cores da Casa Gedovetti. Ele parecia uns quinze anos mais jovem do que era agora, seus cabelos ainda mais negros que grisalhos, mas seu rosto era tão duro e austero naquela pintura quanto era naquela manhã, no momento da execução. 

Do lado esquerdo da grande pintura, havia um quadro ligeiramente menor. 

Nele, o Duque, agora mais de trinta anos mais jovem, estava de pé ao lado de uma bela jovem loura, sentada. Ambos usavam trajes civis, luxuosos. A moça tinha uma flor no cabelo e parecia estar em um estado não muito avançado de gravidez, e sorria suavemente, sem mostrar os dentes, como era usual em retratos pintados de nobres. O Duque tinha uma expressão igualmente suave, diferente do retrato e da sua carranca atual. A jovem tocava-lhe a mão com delicadeza. 

"A falecida Duquesa", pensou Reynard. "A mãe de Ulzio". Ele ainda era criança quando soube de sua morte; Darza ficou em luto por muito tempo. Disseram que ela morrera na flor da idade, antes mesmo de completar quarenta anos, e que era clanoriesa de origem. A causa foi uma doença misteriosa ou algo assim. 

Do lado direito, havia uma outra pintura. Nela, o Duque, talvez um pouco mais velho que na pintura da esquerda, porém mais jovem que na pintura do meio, estava sentado em uma cadeira elegante, já com seu rosto sisudo usual. Atrás dele, tocando-lhe o ombro, estava um adolescente com seus quatorze ou quinze anos, cabelos louro-escuros, expressão levemente triste. "Pramulo Gedovetti. O herdeiro aparente", pensou. Do lado esquerdo, outro rapaz muito parecido com o primeiro, talvez um ou dois anos mais novo, mas com cabelos mais escuros, era o único que não olhava diretamente para a frente. "Drusio Gedovetti, o segundo filho. Dizem que o rapaz é um tanto excêntrico. Mal aparece em público". O rosto do garoto do lado direito, também um ou dois anos mais novo que o segundo filho, era bem conhecido por Reynard. "Ulzio Gedovetti, claro, o terceiro filho. O artista". Ulzio era o único que sorria levemente. No chão, três crianças se sentavam. Duas meninas do lado esquerdo, quase da mesma idade - algo como dez ou onze anos, provavelmente nem mesmo donzelas ainda, olhavam para a frente com o mesmo olhar levemente assustado dos irmãos. Ambas eram muito parecidas, mas uma tinha os mesmos cabelos dourados da mãe e a mais jovem, cabelos negros. "Frillia e Chiana Gedovetti. A mais velha se casou há alguns anos com um nobre de Wergen, pelo que soube. A mais jovem permanece no palácio. Boatos dizem que o pai está preocupado, pois já tem vinte e seis anos e está ficando velha para casar". Do lado direito, o filho caçula com seus sete ou oito anos, sentado de maneira rígida, parecendo pouco à vontade. Outro rosto familiar para Reynard. "Ludriano Gedovetti. Esse tem a minha idade. É cavaleiro no Castelo". Ele não era particularmente próximo do filho mais jovem do Duque, embora o rapaz tenha sido sempre educado e cortês quando treinaram juntos. 

- O homem tem uma aura um tanto...tirânica? - disse Dray, entredentes. - Todos os filhos parecem meio aterrorizados na pintura. Até mesmo Ulzio parece sorrir dizendo "socorro, tire-me daqui". 

BrasasOnde histórias criam vida. Descubra agora