Capítulo XI - Impasse sob o sol

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As crianças seguiam atrás de Minica. Meio assustadas, meio assombradas, meio encantadas. 

Darza tinha esse efeito nas pessoas. 

Por todos os lados, era possível ver artistas - estátuas humanas, gente cuspindo fogo, gente engolindo espadas. Cãezinhos adestrados fazendo truques. 

Havia também os mercadores, geralmente concentrados na região do Mercado Central mas encontrados em toda a cidade. Em suas mesas, tudo: frutas suculentas, perfumes do Leste, tecidos multicoloridos, artesanato. 

As construções eram todas cobertas de flores e cheiros convidativos emanavam dos restaurantes. 

Pessoas de todos os tipos e raças passavam para lá e para cá. Nobres bem vestidos e arrogantes, camponeses apressados, mercadores com grandes mochilas. Mocinhas espevitadas sorrindo e olhando para Reynard com admiração. 

O Abraço de Garanna não ficava tão longe assim do portão. Era uma construção bonita e robusta perto da Praça do Aqueduto, um dos pontos mais bonitos de Darza. Suas paredes externas estavam cobertas com flores cor-de rosa. A vista certamente era um dos carros-chefe do local. 

Ao se aproximar da porta, Reynard foi recebido por um garoto de 11 ou 12 anos. 

- Por gentileza, leve meu cavalo para o estábulo. Eu me hospedarei aqui. 

- Eles também? - disse o menino, surpreso com o grupo esfarrapado que acompanhava o distinto cavaleiro. 

- São meus convidados. - respondeu Reynard. Chamou Minica e as crianças para que o acompanhassem. - Venham, venham. 

O grupo entrou na estalagem. 

O lugar era com certeza mais bonito e sofisticado que o Pombo na Encruzilhada. Quadros sofisticados e candelabros de parede decoravam o interior. Todas as mesas do salão estavam decoradas com flores. No chão, um tapete sahaleni em tons de vermelho roubava a cena. Como ainda era dia, não havia música, mas Reynard sabia que era comum que bardos talentosos se apresentassem no lugar.

A estalajadeira, uma bela mulher na faixa dos trinta e tantos anos que sempre intrigara Reynard por seu sotaque misterioso, apareceu para recebê-lo com um sorriso. 

- Sir Reynard, é uma honra recebê-lo novamente. Em que posso ajudar?

- Eu gostaria de reservar três quartos. Mas...antes disso...

- Orana? - disse Minica, timidamente, ao se aproximar. 

A estalajadeira arregalou os olhos, primeiro surpresa com a presença daquele grupo tão diferente da sua clientela usual, que ela nem havia notado em um primeiro momento. 

Depois, seus grandes olhos verdes se encheram d'água. 

- Minica? Minha pequena Minica? É você? Pelos deuses...o que aconteceu? 

Ela correu e abraçou a irmã, que desabou em seus braços, também em lágrimas.  

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- Minha querida...eu sinto muito. Eu sinto tanto. Pobre Sorjan...eu me lembro dele. Um rapaz tão jovem e bonito...

- Eu nem tive a chance de sentar para chorar a morte do meu marido ainda - disse Minica. - As crianças precisam de mim. 

- Suas crianças. - disse Orana, olhando para as três pequenas figuras que se escondiam atrás da saia da mãe. Ela se ajoelhou. - Ei. Eu sou a tia Orana. Agora esta vai ser a casa de vocês. 

Um doce sorriso começou a brotar nos pequenos rostos, ainda que nada dissessem. 

- Viriano! - Orana gritou. 

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