Prólogo, parte III - Pássaro sem asas

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- Parece que hoje é seu dia de sorte - Sahha-Mayan disse, sorrindo para ele. 

Se a mandíbula de Reynard não estivesse bem presa ao seu rosto, ela estaria no chão, tão boquiaberto estava. Diante dele estava sua farda de gala, perfeita como se nunca tivesse sido rasgada. Ao lado, suas botas brilhavam, mais bonitas até do que eram antes. 

- Como?!

- Para ser sincera, não foi difícil - Sahha-Mayan levantou-se graciosamente do local onde estivera ajoelhada. - Você felizmente manteve todos os pedaços no mesmo lugar. E aparentemente tudo foi destruído aqui mesmo, então ainda consegui enxergar com muita nitidez os reflexos no tecido de mana e...bom, é fácil para os iniciados, mas não para os leigos, então vou resumir em, basicamente...você é sortudo, Reynard. Todas as coisas pareciam se encaixar no lugar certo e funcionou. 

- Eu... - Reynard não sabia se olhava para as roupas ou para a garota, completamente chocado e maravilhado. - Milady não sabe o tamanho da minha gratidão. Hoje de manhã eu achei que estava tudo perdido para mim, para sempre. Talvez...não, com certeza...com certeza O próprio Senhor Korl a colocou no meu caminho hoje. 

- Não é para tanto - Sahha estava diante dele, olhando em seus olhos. Aqueles olhos que pareciam ouro derretido. Reynard nunca tinha visto olhos mais bonitos em toda a sua vida. Mesmo os seus próprios - olhos profundamente azuis que já haviam sido tantas vezes comparados a jóias, ao céu, ao mar por conhecidos e até por estranhos. - Mas eu posso pedir um favor?

Reynard respondeu, apressadamente: 

- TUDO o que Milady desejar de mim. Huh - ele hesitou - Desde que não afete minhas obrigações como iniciado na Ordem. 

- Não se preocupe, não pedirei para que faça nada desonroso à sua posição. - Sahha continuou - Eu só quero saber o que aconteceu. 

Reynard arregalou os olhos por alguns segundos e depois os baixou, um tanto desolado.

- É uma história desinteressante, milady. Temo que eu vá entediá-la. 

- Se eu me entediar, avisarei. - ela disse, um sorrisinho nos lábios. 

- Está bem. - Reynard, a essa altura, já percebera que a garota não aceitava um "não" facilmente. O garoto então foi até o fogareiro e começou a preparar mais chá. 

Ainda de costas para a mesa, ele começou a contar sua história. 

 - Bom...caso não tenha ficado óbvio pelo estado da casa, eu sou um órfão. Korl me colocou em seu caminho desde pequeno. Fui encontrado na floresta de Dremëanor quando era bebê e moro no castelo desde então. 

- Um triste começo de vida, mas tão comum. - Sahha-Mayan disse, seu tom de voz suave. - Mães com muitos filhos em tempos de fome, jovens desonradas... A única maneira que muitas enxergam para lidar com a situação é colocar seus bebês em cestas e abandoná-los nas cidades, estradas, florestas. Se a criança tem sorte, é encontrada e cuidada. Se tiver azar...os elementos ou os animais as tomam para si. Suas vidas ficam nas mãos dos deuses. 

- Meu caso foi...um pouco diferente, milady. - Reynard continuou. 

- O que quer dizer?

- O cavaleiro estava caçando na floresta. Um torneio seria celebrado em breve e ele estava apanhando algumas lebres. Foi então que ele ouviu um choro de bebê...vindo de CIMA. 

- De cima...? Você quer dizer...

- Sim, do topo de uma árvore. Um cedro. Uma árvore bem alta, pelo que disse o cavaleiro. Deu trabalho subir. 

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