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Quando chegamos ao clube meus olhos foram imediatamente atraídos pelo vasto campo verde, perfeitamente cortado e delimitado pelas cercas brancas. O céu estava nublado, e o ar trazia uma leve brisa fria que me fez estremecer.

Desci do carro, tentando ignorar o frio, mas meus dentes começaram a bater levemente. Wagner notou e, sem hesitar, tirou seu casaco e o colocou sobre meus ombros.

— Aqui, isso deve ajudar — disse ele, com um sorriso gentil.

— Obrigada — respondi, sentindo o calor imediato do casaco e um pouco mais de segurança. Seu gesto me fez sentir cuidada de uma maneira que eu não sentia há muito tempo.

Enquanto caminhávamos em direção à área principal do clube, vi meu avô Alberto.

— Mimi, querida! Que bom te ver! — Ele me abraçou calorosamente. — E como está sua mãe?

Wagner interveio antes que eu pudesse responder.

— Daniela está um pouco indisposta depois dos eventos de ontem, então preferiu descansar hoje — explicou, sua voz calma e controlada.

Meu avô assentiu, parecendo aceitar a resposta sem questionar.

— Entendo. Espero que ela melhore logo. Vamos aproveitar o dia então — disse ele, tentando manter o clima leve.

Nos dirigimos para a área onde ocorreria o jogo de polo. O campo era impressionante, com a energia vibrante dos jogadores e cavalos. Wagner estava ao meu lado, explicando as regras do jogo e os detalhes que eu nunca teria notado sozinha.

— Veja como eles manejam os cavalos. É uma habilidade incrível. Cada movimento é calculado, e a comunicação entre o jogador e o cavalo é essencial — explicou Wagner, seus olhos brilhando de entusiasmo.

— Você realmente entende disso — comentei, impressionada com um sorriso.

Ele retribuiu o sorriso.

Enquanto assistíamos ao jogo, Wagner apontava estratégias e movimentos dos jogadores. Ele estava tão imerso em suas explicações que eu me peguei fascinada, não apenas pelo jogo, mas pela paixão que ele demonstrava.

Após o jogo, fomos convidados para uma apresentação especial no clube, o lançamento de um novo carro importado. A multidão se reuniu em torno do veículo, admirando suas linhas elegantes e tecnologia de ponta. Fiquei encantada com o carro, observando cada detalhe, desde os faróis modernos até o interior luxuoso.

— É lindo, não é? — comentei com Wagner, que estava ao meu lado.

— Sim, é uma obra de arte sobre rodas — respondeu ele, sorrindo ao ver meu entusiasmo.

Vagamos um pouco pelo espaço desfrutando do Brunch, conversei com meu avô sobre alguns assuntos enquanto víamos o sol se pôr dentre o céu nublado.

Mais tarde, Wagner me convidou para jantar no restaurante do clube. A mesa estava perto de uma janela com vista para o campo de polo, agora silencioso e misterioso sob o céu escuro .

Pedimos alguns pratos sofisticados, e Wagner sugeriu que experimentássemos alguns vinhos. Cada taça trazia uma nova experiência, e conversamos sobre diferentes sabores e notas, algo que ele parecia entender muito bem.

— Esse tem um sabor mais amadeirado, com um toque de frutas vermelhas — explicou ele, segurando a taça à luz para observar a cor.

— É incrível como cada vinho tem sua própria personalidade — comentei.

A conversa fluiu naturalmente, tocando em tópicos que iam desde nossas viagens passadas até nossos sonhos futuros. Eu me sentia mais conectada a Wagner do que nunca, e cada momento parecia nos aproximar ainda mais. No entanto, a conversa tomou um rumo inesperado.

— Me conte mais sobre sua vida na Itália. Deve ter sido uma experiência fascinante — disse Wagner, seus olhos fixos nos meus.

— Foi, sim. Conheci muitas pessoas incríveis e aprendi muito sobre arte e cultura. Inclusive... houve um cara — comecei a dizer, um pouco hesitante.

— Um cara? — Wagner arqueou uma sobrancelha, curioso.

— Sim, um rapaz que conheci lá. Tive um breve romance com ele, mas não deu certo. Ele era... bem, complicado — respondi, sentindo meu rosto esquentar.

Houve um momento de silêncio constrangedor. Wagner parecia estar refletindo sobre algo, e eu não sabia como interpretar seu olhar.

— Entendo. Todos temos nossos passados, não é? — ele disse, tentando sorrir.

Para aliviar a tensão, mudei de assunto.

— E você ? Alguma história de amor complicada no seu passado?

Ele riu, quebrando um pouco a tensão.

— Algumas, sim. Mas todas me trouxeram até aqui, e acho que isso é o que realmente importa — respondeu ele, seu sorriso finalmente alcançando os olhos.

O jantar terminou , com sobremesas  e mais uma taça de vinho. A noite estava ficando fria, e enquanto nos preparávamos para ir embora, Wagner colocou novamente seu casaco sobre meus ombros.

— Vamos, antes que fique ainda mais frio — disse ele, com um olhar protetor.

Decidimos voltar para o carro. A viagem de volta estava sendo muito silenciosa, mas não desconfortável. Ambos precisávamos de tempo para processar todos os nossos pensamentos.

O céu, que estava apenas nublado, mas de repente se transformou em um mar de escuridão iluminado pelos raios. A chuva começou a bater forte contra o para-brisa, dificultando a visibilidade.

Wagner, decidiu que a melhor opção era encontrar um abrigo seguro até a tempestade passar. Ele avistou uma placa indicando um hotel próximo e saiu da estrada principal.

— Acho que o melhor é pararmos em um hotel até a tempestade diminuir. Não vale a pena arriscar— disse ele, a calma em sua voz era contrária com a minha ansiedade.

Concordei com um aceno de cabeça . A chuva se intensificava a cada minuto, tornando a condução cada vez mais complicada . Estávamos nos afastando da cidade, entrando em uma área mais rural, quando, de repente, o carro bateu em um buraco profundo. O som inconfundível de um pneu furado ecoou no interior do carro.

— Merda ! — murmurou Wagner, parando o carro no acostamento.  — Furamos um pneu.

𝐌𝐈𝐋𝐀 - 𝙒𝙖𝙜𝙣𝙚𝙧 𝙈𝙤𝙪𝙧𝙖 Onde histórias criam vida. Descubra agora