𝟏𝟒

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Das idas e vindas da lucidez da minha mãe, parece que desde que voltei ela nunca esteve mais sã. Assim que voltou para casa, parecia outra pessoa, sua personalidade era totalmente diferente. Tentar conciliar meu relacionamento com Wagner e a presença constante da minha mãe em casa não estava funcionando. Ele vivia fugindo dela, e nunca tínhamos um momento de paz.

Wagner parecia estar perdendo a cabeça com toda a pressão — as fake news, a campanha eleitoral e tudo mais que estava acontecendo em casa, principalmente em relação à minha mãe.

O dia da coletiva chegou. As eleições estavam cada vez mais próximas, e meu interesse pelo assunto crescia a cada dia. Ver Wagner falar com tanto entusiasmo e paixão sobre política despertou em mim um desejo crescente de me envolver mais profundamente nesse mundo.

Minha mãe, Daniela, estava especialmente animada para o evento. Ela vestia um elegante vestido preto, justo ao corpo, que contrastava com sua pele clara e cabelos loiros presos em um coque sofisticado. Seus olhos brilhavam com uma mistura de orgulho e algo mais, uma espécie de arrogância que ultimamente tinha se tornado comum.

Eu optei por um vestido vermelho escuro, de corte clássico, que me dava um ar sério, mas ao mesmo tempo, feminino. Complementei o visual com um blazer preto e sapatos de salto alto. Meus cabelos estavam soltos, caindo em ondas suaves sobre meus ombros.

No carro, a caminho do hotel onde seria realizada a coletiva, minha mãe estava particularmente difícil. Seus comentários eram cortantes, principalmente dirigidos a mim.

— Milena, você realmente acha que está pronta para isso? Não é como brincar de casinha, sabe? — disse ela, sua voz carregada de desdém.

Wagner, sentado ao meu lado, apertou minha mão antes de se voltar para minha mãe. — Daniela, não é hora para isso. Precisamos estar unidos hoje.

Ela bufou, cruzando os braços. — Só estou dizendo a verdade, Wagner. Ela não tem experiência.

— E quem disse que a experiência é o único fator que conta? — ele respondeu firmemente. — Milena tem determinação e inteligência. Isso é o que importa.

Chegamos ao hotel, um edifício imponente com uma fachada de vidro espelhado que refletia a cidade ao redor. Entramos e fomos direto para a sala de conferências, onde a imprensa já estava reunida. As câmeras e os microfones estavam prontos, e a tensão no ar era palpável.

Wagner tomou a palavra primeiro. Ele vestia um terno azul marinho impecável, com uma gravata vermelha que adicionava um toque de cor à sua aparência séria. Seu discurso foi eloquente e cheio de convicção.

— Bom dia a todos. Quero agradecer pela presença de cada um de vocês. Como muitos sabem, estas eleições têm sido um desafio em diversos aspectos, especialmente no que diz respeito à segurança. Minha família e eu temos enfrentado ameaças e pressões, mas permanecemos firmes em nosso compromisso de melhorar São Paulo. A saúde da minha esposa, Daniela, também tem sido uma prioridade. Sua luta e recuperação são um testemunho de sua força e resiliência. Quero aproveitar este momento para expressar minha gratidão a ela e a todos que têm nos apoiado. Continuaremos a lutar por um futuro melhor para todos os paulistas.

Após o discurso de Wagner, chegou minha vez de falar. Sentia um misto de nervosismo e excitação. Caminhei até o pódio e olhei para a plateia antes de começar.

— Bom dia. Meu nome é Milena Azafri, e eu estou aqui não apenas como uma apoiadora da campanha de Wagner, mas também como alguém que tem um profundo desejo de servir e proteger nossa comunidade. Cresci vendo Wagner se dedicar incansavelmente à política, sempre com o objetivo de fazer a diferença. Isso me inspirou a considerar uma carreira na polícia, onde posso contribuir de forma direta para a segurança e bem-estar de nossa população.

Os jornalistas começaram a fazer perguntas, e logo ficou claro que não seria uma coletiva fácil.

— Milena, você acha que sua inexperiência pode ser um obstáculo para suas ambições políticas?

Respirei fundo antes de responder. — Acredito que todos nós começamos em algum lugar. Minha paixão e dedicação são meus maiores trunfos. Estou aqui para aprender e crescer, e estou comprometida com isso.

Outro jornalista, mais ousado, perguntou: — Como você responde às acusações de que seu relacionamento com Wagner é inapropriado e puramente estratégico?

Antes que eu pudesse responder, um dos advogados de Wagner interveio. — Essa pergunta é inadequada e fora de contexto. Pedimos respeito pelas questões pessoais que não têm relação com a campanha.

Wagner se aproximou, colocando a mão em meu ombro.
— Minha relação com Milena é baseada em respeito e apoio mútuo. Qualquer insinuação diferente é infundada e desrespeitosa.

Continuei, tentando manter a calma. — Estou aqui porque acredito no que Wagner representa. Meu apoio a ele é sincero e vem do fundo do meu coração.

A coletiva seguiu com mais perguntas, mas consegui me manter firme, respondendo com a mesma determinação que sentia. Quando finalmente terminou, Wagner e eu nos dirigimos para o carro.

— Você foi incrível, Milena — ele disse, me abraçando— Estou muito orgulhoso de você.

O caminho de volta para casa foi silencioso, mas não desconfortável. Eu olhava pela janela, processando tudo o que tinha acontecido. Porém, ao chegarmos, a tensão voltou à tona.

Assim que entramos, Daniela começou a reclamar novamente, sua voz carregada de sarcasmo.

— Grande coletiva. Vamos ver se isso realmente ajuda a sua campanha, Wagner.

Ele suspirou, claramente exausto. — Daniela, por favor, não precisamos disso agora.

— Não precisamos? — ela riu, sem humor. — Desde quando você sabe o que precisamos?

Wagner fechou os olhos por um momento, tentando manter a calma.

— Basta, Daniela. Já tivemos um dia difícil. Podemos, por favor, tentar relaxar um pouco?

Ela balançou a cabeça, incrédula.

— Relaxar? Como você pode falar em relaxar quando nossa vida está desmoronando?

Eu vi a frustração crescendo nele.

— Daniela, você não está ajudando. Sua negatividade só está piorando as coisas.

Ela deu um passo à frente, desafiadora.

— Ah, então agora a culpa é minha? Claro, sempre é minha culpa.

Wagner perdeu a paciência.

— Não estou dizendo isso! Mas precisamos trabalhar juntos, não um contra o outro.

Eu intervim, colocando uma mão no braço de Wagner.

— Por favor, vamos todos nos acalmar.

Daniela me olhou com raiva.

— Ah, claro, a princesinha vai salvar o dia.

Wagner se virou para ela, o tom de voz mais firme.
— Daniela, chega. Isso precisa parar. Agora.

Ela deu um passo para trás, surpresa com a intensidade dele.

— Vá se danar, Wagner — disse, antes de sair da sala batendo a porta.

Wagner passou a mão pelo cabelo, claramente abalado. Eu me aproximei e o abracei meio que sentando em seu colo:

— Foi por isso que eu fui embora daqui.

𝐌𝐈𝐋𝐀 - 𝙒𝙖𝙜𝙣𝙚𝙧 𝙈𝙤𝙪𝙧𝙖 Onde histórias criam vida. Descubra agora