𝟓

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A escuridão e a tempestade não ajudavam em nada. Wagner saiu do carro para avaliar a situação, e eu fiquei lá dentro, sentindo a água da chuva invadir meus pensamentos com cada gota que escorria pela janela. Poucos minutos depois, ele voltou, encharcado.

— Não temos outra escolha. Vamos ter que caminhar até o hotel que vimos a sinalização.

Pegamos nossos pertences essenciais e saímos do carro, a chuva encharcando nossas roupas em segundos. Andamos rapidamente, buscando o abrigo prometido pela sinalização. Depois de alguns minutos de caminhada, finalmente avistamos o hotel.

A recepcionista, vendo que estávamos molhados e abatidos, rapidamente providenciou um quarto.

"Bem-vindos! Temos um quarto disponível no segundo andar. Parece que vocês chegaram na hora certa, essa tempestade está realmente forte," disse ela com um sorriso simpático.

No quarto, Wagner sugeriu que eu usasse o banheiro primeiro para me secar e trocar de roupa. Pediu serviço de quarto, incluindo uma garrafa de vinho para ajudar a relaxar além de pijamas secos. Após me secar e trocar de roupa, saí do banheiro e o encontrei, também mais confortável, sentado em uma poltrona. A garrafa de vinho e duas taças estavam sobre a mesa.

— Pensei que um pouco de vinho poderia nos ajudar a relaxar depois desse susto — disse ele, com um olhar preocupado que me fez sentir um calor crescer em mim.

Ele estava de camisa branca e calça de linho, os cabelos ainda um pouco úmidos. Parecia mais relaxado, mas a tensão nos seus olhos mostrava que ele estava preocupado comigo.

— Não se preocupe, todos estão cientes de onde estamos , inclusive sua mãe. Disse a ela que voltaríamos amanhã o mais cedo possível.

Sentamos e começamos a conversar sobre o dia, comentando sobre o jogo de polo e sobre o incidente da noite anterior. Fiquei impressionada com o quanto ele sabia sobre polo. Cada detalhe, cada jogador, ele parecia conhecer tudo. Era fascinante vê-lo falar com tanta paixão.

A conversa tomou outro rumo falando sobre coisas sinceras sobre nós mesmos. Talvez já estivemos um pouco embriagados.Wagner fez uma revelação pessoal, falando sobre um momento difícil de sua vida que o fez repensar suas prioridades.

— Às vezes, nossas escolhas nos levam por caminhos que nunca imaginamos, e é nesses momentos que percebemos o que realmente importa.

Percebi que meus sentimentos por Wagner estavam se intensificando, enquanto ele lutava para manter a compostura. A tensão entre nós era quase palpável. Eu podia sentir meu coração bater mais forte e minhas mãos começarem a suar. Não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que algo havia mudado entre nós.

De repente, a conversa foi interrompida por uma queda de energia no hotel, graças a tempestade. A luz das velas fornecidas pelo hotel criou uma atmosfera ainda mais íntima.

— Bem, parece que estamos realmente à mercê da tempestade — disse Wagner, tentando aliviar a tensão com uma risada nervosa.

Enquanto nos levantávamos para ir para as camas, tropecei no tapete e fui parar nos braços de Wagner. A proximidade imediata, o calor do corpo dele contra o meu, fez meu coração disparar. Nossos rostos estavam a centímetros de distância, e por um momento, tudo ficou em silêncio, exceto pelo som da chuva lá fora.

— Desculpa — murmurei, sem realmente querer me afastar.

— Não tem problema — respondeu ele, mas a voz estava mais baixa, quase rouca. Seus olhos não desviaram dos meus, e eu podia sentir a tensão aumentar entre nós. Lentamente, ele me ajudou a ficar de pé, mas suas mãos ficaram um pouco mais do que o necessário em minha cintura.

— Talvez devêssemos tentar descansar — sugeriu ele finalmente, quebrando o momento.

Depois de nossa conversa e do incidente do tapete, o clima ficou um pouco mais pesado, talvez estivéssemos evitando algo. Ao me deitar, percebi que a cama estava molhada, graças a uma goteira no teto.

— Que droga! — murmurei levantando.

— Milena, o que foi? — ele levantou se sentando.

— A cama... Está molhada —  apontei para a mancha escura no colchão.

Ele franziu a testa e depois olhou para a única outra cama no quarto.

— Parece que teremos que dividir a minha. Não é ideal, mas é melhor do que dormir em um colchão molhado.

Concordei com um aceno tímido, sentindo meu rosto esquentar. Peguei minhas roupas na esperança de estarem secas e entrei no banheiro para me trocar. Quando voltei, usando apenas a camisa dele que cobria mal até minhas coxas, o ar parecia ainda mais pesado. Wagner estava deitado na cama, de costas para mim, tentando dar alguma privacidade.

Deitei-me ao seu lado, tentando manter uma distância respeitável. Sentia o calor do corpo dele próximo ao meu, e o cheiro leve de seu perfume...

— Está confortável? — ele perguntou, a voz suave.

— Sim, obrigada — respondi, embora meu coração estivesse batendo rápido demais para eu realmente estar confortável.

Alguns minutos de silêncio se passaram. Tentei fechar os olhos e dormir, mas a proximidade de Wagner não deixavam minha mente descansar. Virei-me de lado, encarando suas costas.

— Wagner, você está acordado? — sussurrei.

— Sim — ele respondeu, virando-se de frente para mim. Nossos rostos estavam agora a apenas alguns centímetros de distância — O que foi?

— Será que o serviço de quarto inclui algum remédio? Estou com muita dor nas costas... — perguntei, tentando aliviar a tensão

— Não acredito que incluam — respondeu Wagner, a voz baixa e tranquila.

O silêncio se instalou, pesado e carregado. De repente, ele assentiu, estendendo a mão para tocar minha cintura.

— Posso tentar ajudar com uma massagem, se você quiser.

Assenti, virando-me de costas para ele. Senti suas mãos fortes e quentes começarem a tocar nos nós de tensão em minhas costas. Seu toque era ao mesmo tempo profissional e íntimo, e cada movimento parecia acender um fogo sob minha pele.

— Você tem muita tensão aqui — murmurou ele, os dedos pressionando um ponto sensível.

— É... É por causa de tudo que aconteceu —consegui dizer, a voz tremendo ligeiramente.

A massagem continuou, cada toque de suas mãos enviando ondas de calor pelo meu corpo. Em um momento, ele se inclinou um pouco mais perto, o hálito quente contra minha nuca.

— Se sente melhor? — ele perguntou, a voz baixa e rouca.

— Sim, muito melhor — respondi, virando-me para encará-lo. Nossos rostos estavam tão próximos agora que eu podia sentir a respiração dele contra meus lábios. Houve um momento de silêncio, onde apenas nossos olhos se comunicavam, a tensão crescendo a cada segundo.

— Mila... — ele sussurrou, a mão ainda descansando na minha cintura, os olhos ardendo com uma intensidade que eu nunca tinha visto antes. — Não deveríamos...

— Eu sei — respondi, embora cada fibra do meu ser gritasse para quebrar essa distância. — Mas...

Antes que eu pudesse terminar, um trovão alto sacudiu o prédio, e instintivamente me aproximei mais dele, nossos corpos se encontrando no meio da cama. A proximidade, o calor, e a adrenalina da tempestade lá fora criaram uma química inegável.

O silêncio foi preenchido pelo som da chuva, enquanto nossos olhares permaneciam fixos um no outro, uma batalha entre o desejo e a razão.

𝐌𝐈𝐋𝐀 - 𝙒𝙖𝙜𝙣𝙚𝙧 𝙈𝙤𝙪𝙧𝙖 Onde histórias criam vida. Descubra agora