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Eu só quero que você saiba quem eu sou

Iris, Goo Goo Dolls

Eu me revirava por debaixo das cobertas, podia ouvir o som da chuva caindo lá fora e o ar-condicionado estava simplesmente perfeito, sem tirar nem pôr, eu estiquei o braço pelo colchão, procurando por Bruna na cama mas ela já não estava mais ali

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Eu me revirava por debaixo das cobertas, podia ouvir o som da chuva caindo lá fora e o ar-condicionado estava simplesmente perfeito, sem tirar nem pôr, eu estiquei o braço pelo colchão, procurando por Bruna na cama mas ela já não estava mais ali. Eu abri um dos olhos devagar e vi sua silhueta na janela, com uma das minhas camisetas antigas e o cabelo completamente bagunçado. Cocei meus olhos com as costas das mãos e me sentei devagar no colchão, o relógio denunciava que eram 03:14 da madrugada.

— Por que está acordada? — perguntei baixinho enquanto me levantava e ia até ela.

O chão estava gelado, meu corpo se arrepiou com o contato da superfície gelada contra meus pés que deveriam estar quentinhos pelo tanto de coberta que eu estava usando. Bruna me olhou com um breve sorriso no rosto e secou os olhos, foi quando eu me toquei que ela estava chorando e o som de soluços que outrora eu ouvia não era apenas parte de um sonho estranho. Eu me aproximei dela rapidamente e a abracei mesmo sem ter noção do motivo pelo qual ela estaria chorando.

— Calma, está tudo bem Wagner... — ela me abraçou enquanto ria baixinho, não sabia se fungava ou ria — Eu só tive um sonho ruim mas eu estou bem, sei que foi só um sonho.

— Tem certeza? Quer que eu te traga água? — questionei enquanto minhas mãos seguravam sua cintura com cuidado, analisando seu rosto minusciosamente.

Apesar das lágrimas, sua feição era serena. As bochechas e a ponta do nariz estavam rosados e eu não sabia identificar se era pelo frio ou pelo choro, mesmo na penumbra não era difícil perceber quando seu rosto corava, Bruna é branca como papel. Beijei sua testa e sussurrei que ia na cozinha, ela balançou a cabeça levemente e eu a soltei receoso.

Fiz o caminho até a cozinha do apartamento de Bruna que agora tinha coisas nossas espalhadas por todos os lados, fotos, sapatos no tapete de entrada, Fiorella espalhada na rede que tinha na sua casinha cor de rosa. A gata movimentou uma das orelhas em minha direção e abriu os olhos preguiçosamente mas assim que viu que a porta do quarto estava aberta, a safada saiu correndo para dormir na cama. Foi impossível não rir com a reação dela, essa gata é uma vigarista oportunista mas eu amo ela.

Assim que cheguei a cozinha já fui pegando dois copos e os depositando encima da bancada da pia para pegar o jarro d'água. Eu sabia que ela não estava conseguindo dormir direito esses dias, preocupada com suas provas, com a perseguição de Priscila e algo me dizia que tinha mais alguma coisa no meio. Era bem possível que talvez fosse algo relacionado a filha que ela perdeu. A filha que ela não teve a chance de conhecer.

Eu nem imaginava o quão difícil deveria ser mas me doía ao ver ela desse jeito, sem amparo por mais que eu tentasse. Tentativas que por várias vezes pareciam falhas e isso me frustrava de um jeito tão insuportável, mas eu não iria desistir, ela precisava de mim. E eu dela. Por mais que os problemas dela fossem maiores que os meus, eu sabia que de um jeito ou de outro eu também precisava dela. Ela era o ar que eu respirava e o motivo pelo qual eu contava os segundos do dia só para poder vê-la, tocar ela era quase como desligar meio mundo de interruptores, ficando finalmente em paz, podendo descansar sem preocupação.

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